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10/08/2005 - 21h51

Deputado diz que tratou de repasse com Azeredo

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THIAGO GUIMARÃES
da Agência Folha

Beneficiário de recursos das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza na campanha eleitoral de 1998, o deputado estadual Chico Rafael (PMDB) disse hoje que tratou do repasse do dinheiro com o senador Eduardo Azeredo (PSDB), então governador de Minas e candidato à reeleição.

Rafael disse ainda que o pedido foi feito a Azeredo e ao seu então candidato a vice do PFL, Clésio Andrade (PL), atual vice-governador de Minas. Posteriormente, afirmou o deputado, a transferência foi acertada com Cláudio Mourão, tesoureiro da campanha tucana em 98.

"Em um primeiro momento, fizemos essa solicitação [de ajuda financeira] ao Clésio e ao governador Azeredo, em conversas pessoais. O Cláudio Mourão entrou em um segundo momento e informou que o valor repassado seria R$ 90 mil [R$ 153 mil em valores atualizados]", afirmou.

O deputado disse que os R$ 90 mil cobriram despesas de campanha dele e de Azeredo em sua base eleitoral, o sul de Minas. Afirmou ter recebido o dinheiro "de boa fé", pois acreditava que a origem era o comitê central do PSDB.

Na lista entregue por Valério ontem à CPI do Mensalão, Chico Rafael aparece como beneficiário de R$ 45 mil --R$ 15 mil em seu nome e R$ 30 mil no de seu irmão Luciano Claret Gonçalves. O fato de o deputado ter dito que recebeu R$ 90 mil indica que os valores repassados pelo PSDB via Valério durante a campanha de 98 podem ter sido maiores.

O deputado estadual Márcio Kangussu (PPS) também afirmou ter recebido R$ 25 mil do PSDB via Valério na campanha de 1998. Com isso, é de pelo menos 12 o número de políticos mineiros da lista do empresário que atualmente exercem mandatos. Kangussu disse que o dinheiro cobriu despesas que teve no apoio a Azeredo no 2º turno.

Procurados pela reportagem, outros beneficiários da lista de Valério também informaram que o dinheiro foi destinado a campanha de Azeredo. São eles: deputado federal Romel Anízio (PP), deputada estadual Maria Olívia (PSDB), secretário de Ciência e Tecnologia de Minas e deputado estadual licenciado Bilac Pinto (PFL) e o presidente da Epamig (estatal de pesquisa agropecuária), Baldonedo Napoleão, que concorreu a deputado estadual em 1998 pelo PSDB.

Candidato a deputado estadual pelo PFL em 1998, o secretário de Saúde de Ipatinga, Renato Fraga, disse que os R$ 12,5 mil que recebeu foram solicitados a Clésio Andrade e cobriram despesas de sua campanha à Assembléia.

Além de Fraga e Napoleão, figuram na lista de Valério pelo menos seis candidatos a deputado estadual em 1998 que não conseguiram se eleger: Rui Resende (PSD), Afonso Celso Dias (PDT), Francisco Ramalho (PSDB), Arnaldo Penna (PSDB), Antônio Milton Salles (PPS) e José Pinto Resende Filho (PSC).

Outros dois nomes da lista de Valério --Jaldo Retes Dolabela e Naylor Vilela-- disseram à Folha que trabalharam na campanha de Azeredo de 1998. Nelson Antônio Prata, também incluído na lista, disse que naquele ano trabalhava para o PDT e "pode ter recebido" o dinheiro para a campanha de Azeredo.

Nota

Em nota divulgada por sua assessoria, Azeredo reafirmou que não tinha conhecimento do empréstimo: "No que diz respeito à sua tentativa de reeleição, Azeredo reitera, como já esclareceu com documentos, por iniciativa própria, à CPMI dos Correios, no dia 02 de agosto, que desconhecia o empréstimo feito pela agência DNA junto ao Banco Rural".

Azeredo atribui a Cláudio Mourão, seu ex-secretário de Recursos Humanos e Administração e tesoureiro da campanha de 1998, toda a responsabilidade por isso. Disse que "não autorizou ou avalizou tal empréstimo".

"Em um Estado grande como Minas Gerais, é impossível que o governador, em disputa pela reeleição, possa cuidar de ações administrativo-financeiras da campanha. Os pagamentos são feitos por uma coordenação, conforme atesta em carta de próprio punho o coordenador financeiro da campanha de 1998", afirmou.

Na nota, Azeredo "repudia as manobras para encobrir o que vem acontecendo no país", referindo-se às investigações sobre o suposto "mensalão" do PT, e faz uma comparação com os casos:

"Os valores envolvidos nos dois casos, pela diferença proporcional, são, por si, provas de que as questões são absolutamente diferentes. O R$ 1,8 milhão repassado aos apoiadores da campanha de 1998, semelhante ao que acontece em todas as disputas eleitorais realizadas no país, é infinitamente menor do que os propalados R$ 55 milhões repassados ao PT no caso do 'mensalão' e também para o financiamento de suas campanhas."

Desde que esse assunto veio à tona, no final do mês passado, Mourão não é localizado pela Folha. O vice-governador Clésio Andrade, procurado desde anteontem pela reportagem, também não se pronunciou.

Chico Rafael

Informada pela reportagem sobre as declarações do deputado Chico Rafael (PMDB), a assessoria do senador Eduardo Azeredo informou que a posição do tucano estaria em nota divulgada ontem.

A nota, no entanto, não faz menção às declarações do deputado. Procurada novamente pela reportagem após o envio da nota, a assessoria de Azeredo reiterou que o senador não tratou de repasses financeiros durante sua campanha em 1998.

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