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18/11/2005 - 16h13

Confira a primeira parte da íntegra da entrevista do presidente Lula

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da Folha Online

Confira a primeira parte da íntegra da entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para nove emissoras de rádio:

Pergunta 1: Entrevista Coletiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a emissoras de rádio.
Palácio do Planalto, 18 de novembro de 2005

Luís Fara Monteiro: Olá amigos em todo o Brasil, são 8h06, falamos ao vivo do Palácio do Planalto para esta entrevista coletiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a emissoras de rádio. Esta é a primeira de uma série de três entrevistas coletivas de rádio com o Presidente da República.

A primeira será realizada com emissoras de redes regionais, menos São Paulo e Rio de Janeiro.

Participam desta coletiva nove emissoras de todas as regiões do país: duas da região Norte, duas da região Sul, três da região Nordeste, uma do Sudeste e uma da região Centro-Oeste.

Os nossos amigos radialistas já estão posicionados por meio de sorteio. E a gente passa a palavra para o presidente Lula abrir esta entrevista.
Bom dia, Presidente.

Presidente: Bom dia Luís, bom dia, amigos da imprensa.
Eu penso que esta entrevista de hoje está possibilitando concretizar uma coisa que eu tinha assumido na primeira entrevista de rádio que eu dei, aqui, que era preciso valorizar um pouco a imprensa regional. Muitas vezes, nós conversamos muito com a imprensa nacional e, muitas vezes, nós deixamos de atender à imprensa local.

Esta é uma experiência que eu espero que, daqui para a frente, a gente possa repeti-la muitas vezes e, sempre que possível, trazer aqui representação dos estados para que possamos falar, primeiro, de política nacional; segundo, falar das políticas locais, as políticas regionais, dando à imprensa regional o valor que eu acho que ela tem.

Quando nós moramos numa cidade como Brasília ou numa cidade como São Paulo ou Rio de Janeiro, passa-se a idéia de que são determinados jornais que são os jornais nacionais, determinadas rádios que são nacionais e, quando a gente visita um estado, a gente percebe que o que tem importância, na verdade, é o jornal local e a rádio local. Muitas vezes, você sai 70 quilômetros da capital e o jornal da capital já não tem mais importância naquela cidade, o que tem importância é o jornal local.

E eu penso que nós estamos fazendo esta experiência que vai nos conduzir a dar mais importância aos contatos com a imprensa regional que, muitas vezes, consegue falar mais diretamente com o povo do que, somente, a imprensa nacional.

Então, eu quero dizer para vocês que é uma alegria poder estar conversando com vocês. Vamos fazer uma entrevista bem franca, ou seja, não haverá nenhum veto a nenhuma pergunta, não haverá pergunta que não tenha resposta e quero que vocês fiquem totalmente à vontade para exercer o papel de perguntadores que vocês tão bem aprenderam.

Luís Fara Monteiro: Então vamos começar. Compõe esta mesa, também, o porta-voz da Presidência da República, professor André Singer. A gente começa com Wilson Ibiapina, da Rádio Verdes Mares e chefe da sucursal de Brasília da Verdes Mares. Ibiapina, bom dia.

Wilson Ibiapina - Rádio Verdes Mares: Bom dia. Bom dia, Presidente. A pressão é grande, Presidente, para que o senhor mude a política econômica. Os empresários querem juros mais baixos, os políticos, mais verbas. As críticas dentro do próprio governo são feitas com tanta desenvoltura que há quem diga que o senhor estaria ajudando a soltar o fogo amigo, que pode fritar a atual política econômica. O senhor quer mesmo fazer mudanças na política econômica?

Presidente: Olhe, um ser humano nasce e morre tentando aperfeiçoar as coisas que ele consegue fazer, por melhores que elas sejam. O dado concreto e objetivo é que a política econômica do nosso governo tem sido extremamente exitosa. Se vocês analisarem a política econômica do nosso governo, analisarem a situação econômica do Brasil e analisarem a situação econômica do Brasil em outros anos, escolham o tempo que vocês quiserem, vocês vão perceber que há poucos momentos na história do Brasil em que nós temos um conjunto de ações positivas. Como jamais tivemos no Brasil, nós temos crescimento das exportações, nós temos crescimento das importações, nós temos crescimento de superávit comercial, a nossa balança comercial é altamente superavitária, nós temos um saldo de 41 bilhões de dólares, nós temos crescimento da poupança interna, nós temos o crescimento da massa salarial, nós temos crescimento da geração de empregos.

Só para vocês sentirem e, sobretudo, o jornalista Wilson Ibiapina, que fez a pergunta, nós estamos criando nesses três anos, 3 milhões e 700 mil empregos de carteira assinada, coisa que há muitos e muitos anos não acontecia no Brasil. Obviamente que tudo isso vai melhorar na hora em que o juro der sinais de que vai baixar, e na hora em que o juro baixa a gente pode ter uma ajustamento na política cambial e a gente vai poder exportar mais e vai poder distribuir mais renda no Brasil.

Mas, o dado concreto é que a política econômica do nosso governo tem sido muito exitosa e eu tenho orgulho de defender a política econômica e tenho orgulho de dizer que nós trabalhamos, todo santo dia, com a certeza de que nós vamos consertar para melhor a política econômica. Quando as pessoas criticam a política econômica as pessoas criticam, muitas vezes, a taxa de juros. Outras vezes, as pessoas criticam o superávit primário, outras vezes as pessoas criticam a política cambial.

São três fatores da nossa política monetária que vão se ajustando na medida em que a gente vai consolidando a estabilidade econômica porque com a estabilidade econômica que nós estamos conseguindo nesse momento, com a criação de políticas sociais como o Bolsa Família, que dá sustentação a milhões de brasileiros pobres e com a geração de empregos, nós estamos criando um mundo muito mais positivo, um Brasil muito mais justo, um Brasil muito mais equânime.

Portanto, eu quero, Ibiapina, dizer para você que a nossa política econômica é exitosa e ela só tende a melhorar. Quando você vier fazer uma entrevista comigo, em 2006, você vai perceber que os números serão muito mais exitosos do que são hoje, porque foi para isso que nós trabalhamos. Fizemos um sacrifício enorme em 2003. Todo mundo sabe o sacrifício que nós fizemos. Eu tomei posse e uma semana depois estávamos fazendo o contingenciamento de 14 bilhões de reais no Brasil, porque era preciso fazer, porque nós aprendemos que é melhor gastar apenas aquilo que a gente tem e não fazer dívida para que os outros paguem depois. Fizemos isso e agora estamos colhendo, de forma madura, de forma serena, dando os passos de acordo com o tamanho da nossa perna para que a gente não tenha uma distensão e não pare de jogar, ou seja, o Brasil está tendo a oportunidade de ter um crescimento sustentável e de longo prazo.

Nós queremos que o Brasil cresça durante 10 anos, durante 15 anos e esse crescimento é que vai permitir que o Brasil faça a distribuição de renda e a justiça social que tanto nós precisamos fazer.

Pergunta 2: Entrevista Coletiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a emissoras de rádio.
Palácio do Planalto, 18 de novembro de 2005

Luís Fara Monteiro: Presidente Lula responde agora à pergunta do radialista Patrick Mota, editor-chefe de rádio e jornalismo da Rede Amazônica. Bom dia, Patrick.

Patrick Mota - Rede Amazônia: Bom dia, Luís, bom dia a todos que aqui estão, bom dia aos ouvintes, bom dia, sr. Presidente.

Presidente: Bom dia, Patrick.

Patrick Mota - Rede Amazônia: Presidente, a gente tem observado uma situação que vem ocorrendo há muito tempo no seu governo quanto a alguns atritos que ocorrem. Primeiro, o Vice-Presidente sempre critica a questão dos juros ao empresário. A gente entende até que o Vice-Presidente, às vezes, esquece que é Vice-Presidente, lida mais como empresário. A gente observa atritos entre Dilma Rousseff, agora, e o ministro Palocci; recentemente, na Amazônia, uma discussão também com o ministro Alfredo Nascimento, dos Transportes, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, quanto à BR-319. Eu pergunto ao senhor: isso significa dizer, na sua avaliação, Presidente, que o seu governo é bastante democrático, que deixa em aberto essas coisas, mesmo elas causando algum desgaste ao governo, ao ponto de o senhor chamar alguns para conversar como ocorreu, ou como é que o senhor observa, na realidade, essa situação?

Presidente: A divergência só existe onde existe democracia. Se não existir democracia, ou seja, se nós vivêssemos em um regime autoritário, possivelmente as perguntas que os jornalistas fizessem para mim teriam que passar pelo dono do jornal, como já tivemos experiência no Brasil.

Na medida em que você exerce a democracia na sua plenitude é normal que dois ministros, enquanto você não tem uma decisão de governo, mas uma decisão apenas desse ou daquele ministro, tenham divergências. Na medida em que os ministros têm divergências, como é que nós dirimimos essa divergência? Nós convocamos uma reunião com os ministros que estão divergindo e resolvemos o problema, porque aí nós transformamos a divergência em uma política pública do governo, e aí todos passarão a defender aquela política pública. Eu vou dar um exemplo de uma coisa que aconteceu ontem, para a gente notar como muitas vezes as divergências são elevadas a conseqüências desproporcionais. Ontem, eu participei de um ato do Selo Social para o Biodiesel, o financiamento que nós estamos fazendo com o subsídio para as empresas que estão contratando biodiesel, comprando a mamona, comprando a soja, comprando a semente de girassol do pequeno produtor. Nós damos um selo social e ele terá redução do PIS, do COFINS, e a ministra Dilma foi a coordenadora do Programa até deixar o Ministério de Minas e Energia. E eu a convidei, como convidei o ministro Miguel Rossetto. Hoje, eu estou lendo a imprensa e estou vendo as manchetes, e fui perguntado ontem porque eu privilegiei a ministra Dilma, em detrimento do ministro Palocci. É uma coisa totalmente maluca porque o Palocci é um ministro extremamente importante para o governo, a Dilma é uma ministra extremamente importante para o governo, houve uma divergência por conta de uma tese --que não é uma política de governo-- apresentada pelo Ministério do Planejamento sobre uma política fiscal de longo prazo. Esse debate que é feito na Câmara sobre política econômica, do qual eu não participo --eu apenas, quando tem um consenso, eles me trazem para saber se eu concordo ou não, se tem que mudar alguma coisa-- e essa divergência saiu na imprensa. Por enquanto eles estão debatendo.

Quando eles terminarem o debate, trarão à minha mesa e, junto com a Comissão de Política Econômica, nós pegamos essa tese, transformamos em uma política pública do governo e aí, Dilma, Palocci, o presidente Lula, o Ministro do Planejamento, o Ministro da Agricultura, o Ministro do Meio Ambiente, todos passarão a defender a política definida pelo governo. Portanto, eu não me preocupo com as divergências, acho que elas são salutares, é saudável que as pessoas expressem o seu pensamento até que esse comportamento não prejudique a totalidade e o conjunto do governo. Eu tenho absoluta convicção da importância do Palocci, da Dilma e dos ministros no meu governo, tenho absoluta confiança de que os dois são companheiros da maior lealdade e do maior compromisso com o povo brasileiro, portanto você pode ficar certo de que, dessa divergência, sairá algo muito melhor para o Brasil.

Pergunta 3: Entrevista Coletiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a emissoras de rádio.
Palácio do Planalto, 18 de novembro de 2005

Luís Fara Monteiro: Nós estamos transmitindo, ao vivo, do Palácio do Planalto, a entrevista coletiva do presidente Lula a emissoras de rádio. Agora faz a pergunta o radialista Klécio Santos, editor-executivo da sucursal do Grupo RBS em Brasília e comentarista da Rádio Gaúcha. Bom dia, Klécio.

Klécio Santos - Grupo RBS: Bom dia, Presidente

Presidente: Bom dia, Klécio.

Klécio Santos - Grupo RBS: Como é que o senhor vê a possibilidade de convocação do ministro Antônio Palocci pela CPI dos Bingos? E, voltando a essa questão do embate entre Dilma e ministro Palocci, de que lado o senhor está, afinal, nessa questão do ajuste fiscal?

Presidente: Eu estou do lado do povo brasileiro, estou do lado daquilo que for melhor para o povo. Nós fazemos ajuste fiscal por uma questão de responsabilidade. Eu digo sempre: um bom governante trata as questões financeiras do seu país como ele trata as questões financeiras da sua casa, ou seja, com muita responsabilidade, sabendo que ele precisa cuidar com carinho do recurso para que o recurso não seja jogado fora, para que não seja feito nada faraônico, para que sejam feitas as coisas que são consideradas essenciais para o desenvolvimento de um país.
Nós já tivemos momentos, e muitos momentos na história do Brasil, em que em época de eleição se fazia uma gastança enorme e depois a pessoa ficava no governo, ganhava as eleições e não conseguia governar o segundo mandato porque não conseguia pagar a dívida que tinha contraído para se reeleger.

Eu tenho dito que nós não faremos isso. Nós vamos gastar apenas aquilo que for necessário gastar porque o meu compromisso não é com a próxima eleição, o meu compromisso é com a próxima geração, o meu compromisso é saber que daqui a dez, 15 ou 20 anos, meus netos e os netos de milhões e milhões e milhões de brasileiros vão viver muito melhor do que as crianças estão vivendo hoje. Por isso é que nós precisamos ter responsabilidade nesse ajuste fiscal e por isso é saudável a divergência sobre este tema, é saudável, ou seja, significa que nem tudo é decidido só pela Fazenda ou que nem tudo é decidido apenas por outro Ministério que tem como finalidade a construção...

A Dilma, e aí é importante compreender o papel da Dilma e do Palocci. A Dilma, na Casa Civil, e como a Dilma é lá do Rio Grande do Sul, é importante que o povo saiba, a Casa Civil é uma espécie de sala de espera dos ministros que querem questionar, que querem cobrar, que querem começar a discutir novos projetos, que querem mais dinheiro para fazer os projetos. Então, a Dilma passa o dia inteiro recebendo ministros querendo mais obras, querendo mais financiamento, querendo muito mais coisas e é a Dilma a encarregada de trazer para a minha mesa, junto com o Ministro da Fazenda, junto com o Ministro do Planejamento e o Ministro da área que está reivindicando, essas reivindicações.

O papel do Palocci é o papel de qualquer tesoureiro, de qualquer pessoa responsável pelas finanças em qualquer lugar do mundo, o papel do Palocci é tentar segurar o máximo porque ele sabe que se não segurar, a "vaca vai para o brejo". Então, o equilíbrio entre a nossa necessidade, a nossa vontade, a vontade de um ministro e a disposição e a disponibilidade de liberar recurso é que permite que a gente tenha uma política de gastos justa, sem repetir erros que historicamente foram cometidos no Brasil.

Este é um compromisso que eu tenho e o resultado é altamente positivo, da política econômica, é altamente positivo do crescimento industrial, salvo algumas exceções, é altamente positivo na geração de empregos. Agora, eu acredito, na verdade eu poderia afirmar para vocês o seguinte: olhe, graças a Deus, nós hoje temos espaço para que alguém possa divergir de alguém neste país.

Klécio Santos - Grupo RBS: Sobre a convocação do ministro na CPI dos Bingos?

Presidente: Eu acredito que, se for convocado, o Palocci irá. Até porque ele foi no Senado, ficou quase dez horas no Senado, ou seja, eu que cheguei dez horas da noite lá em casa e depois fiquei assistindo na televisão, eu fiquei cansado, eu fico imaginando o Palocci lá, das três horas da tarde a quase uma hora da manhã, ouvindo toda e qualquer tipo de pergunta, respondendo com a maior objetividade, com a maior sinceridade. Se ele for convidado, eu não vejo por que não ir e certamente ele irá..

Klécio Santos - Grupo RBS: Sim, mas agora o debate não vai ser sobre questões econômicas.

Presidente: Não tem problema. A minha tese é de que quem não deve não teme e para mim a CPI tem um papel, a CPI sempre joga um papel importante quando elas estão obstinadas a apurar alguma coisa com seriedade. Quando ela é utilizada para fazer política, ela vai se perder por si só, porque começa a perder a credibilidade na sociedade, mas se o objetivo e a seriedade de apurar forem levados como prioridade, eu penso que as CPIs terminam sendo um benefício para o Brasil.

Você pode ter certeza que depois de tudo isso o Brasil sairá muito mais fortalecido e as coisas serão muito melhores para o nosso país.

Pergunta 4: Entrevista Coletiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a emissoras de rádio.
Palácio do Planalto, 18 de novembro de 2005

Luís Fara Monteiro: Presidente, a pergunta agora é de Santino Soares, da Rádio Liberal. Sociólogo e apresentador do programa Bom Dia Cidadão. Santino.

Santino Soares - Rádio Liberal: Bom dia aos colegas das outras emissoras que estão em rede. Senhor Presidente, bom dia.

Eu expresso aqui a minha alegria de participar desta segunda entrevista para a rádio. E a minha felicidade é porque acompanhei, depois da primeira entrevista, o que nós conversamos, aqui, nesta sala. E pude ver que tudo que o senhor falou foi comprovado, desde o que os nossos companheiros lá do Rio Grande do Sul perguntaram sobre o plantio do transgênico, a transposição do rio São Francisco, que entrou na pauta da discussão. Os nossos companheiros do Amazonas perguntaram se o senhor iria acabar com a Zona Franca e o senhor disse que não acabaria. E eu, na oportunidade, fiz uma pergunta sobre alguns projetos estratégicos para o estado do Pará e para a região Amazônica: o asfaltamento a BR-163, a Santarém-Cuiabá, o asfaltamento da Transamazônica e a transposição da barragem, da usina de Tucuruí.

E na ocasião o senhor disse que estava assumindo o compromisso de asfaltar a BR-163, a Santarém-Cuiabá, que tinha uma parceria com o governo do estado para fazer a transposição da barragem de Tucuruí, que a Transamazônica o senhor não se comprometia a asfaltar, mas que faria um serviço. E eu fico satisfeito porque a informação que eu tenho é que neste inverno que está chegando, a estrada vai ficar trafegável porque está se fazendo um trabalho muito bom, um trabalho de colocar cascalho, o que vai ajudar muito os produtores daquela área.

Mas ficou o impasse do asfaltamento da BR 163 e também da construção das eclusas de Tucuruí. E a maior preocupação é porque se for desativado, Presidente, o canteiro de obras de Tucuruí, dificilmente aquela obra vai sair.

Eu repito novamente a pergunta: nós teremos essas obras lá na Amazônia, lá no estado do Pará?

Presidente: Meu caro Santino, quero aproveitar e cumprimentar o povo do Pará e dizer o seguinte: os compromissos que eu assumi estão de pé. Alguns deles com mais dificuldades, outros sem nenhuma dificuldade. Na questão da Transamazônica nós estamos recuperando, colocando em ordem, fazendo a manutenção de 1.600 quilômetros de estrada que você conhece tão bem quanto eu, porque já passei muitas vezes por lá.

Nós estamos trabalhando a BR-116 para ver se a gente melhora o tráfego, sobretudo na cidade de Belém. Nós estamos discutindo a BR-163, eu assisti até o ministro Palocci, no Senado, ser perguntado por alguns senadores, Ana Júlia e outros senadores, sobre a 163. A rodovia 163 é uma rodovia extremamente sensível. Por que sensível? Porque você sabe perfeitamente bem que quase todos os ambientalistas do mundo estão de olho no que vai ser feito na 163.

Eu tenho conversado com o ministro Alfredo Nascimento, tenho conversado com a ministra Marina e nós precisamos encontrar um senso comum para que possamos fazer a 163 sem causar prejuízos ambientais que em outras estradas foram causados em outros anos. É uma estrada extremamente sensível e nós queremos fazer, porque ela é muito necessária para a região Norte do Brasil, ela é extremamente necessária. Eu diria que ela é uma artéria altamente importante para aquela região e nós queremos concluí-la. Pode demorar um pouco mais, mas ela vai ser feita como uma rodovia exemplar entre o desenvolvimento de uma região e a preservação ambiental.

A questão da eclusa. Eu estive visitando Tucurí. Assumi o compromisso de fazer a eclusa, foi colocado dinheiro no PPI, de repente houve uma divergência no preço da eclusa. Houve uma divergência que também eu vi o ministro Palocci ser cobrado no Senado. Na próxima semana nós vamos convocar aqui o ministro Alfredo Nascimento, possivelmente convoquemos a empresa para saber porque houve essa diferença de preços entre aquilo que estava previsto e o novo preço que a empresa apresentou, porque a eclusa é uma obra muito necessária para o estado do Pará. E sobretudo para o escoamento da produção de um estado que, cada vez mais, produz mais, e cada vez mais, exporta mais. Os compromissos continuam mantidos e aquilo que tem dificultado, nós vamos tentar resolver da melhor forma possível, sem permitir que as obras caiam no esquecimento, como muitas vezes aconteceu no Brasil.

Pergunta 5: Entrevista Coletiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a emissoras de rádio.
Palácio do Planalto, 18 de novembro de 2005

Luís Fara Monteiro: Nós estamos acompanhando a entrevista coletiva do presidente Lula às emissoras de rádio. Vamos fazer um pequeno intervalo de três minutos e voltamos, ao vivo, em seguida. Até já.

Oito horas e trinta e dois minutos. Bom dia a você, em todo o Brasil. Voltamos com a entrevista coletiva do presidente Lula, direto do Palácio do Planalto, a emissoras de rádio. Quem faz a pergunta, agora, é o radialista Sandes Junior, da Rádio Terra FM e da Rádio 730AM, apresentador do programa Sandes Junior, líder de audiência no estado. Sandes, bom dia.

Sandes Junior - Rádio Terra FM e Rádio 730 AM: Bom dia. Bom dia, Presidente. Bom dia a todos os companheiros. Primeiro, o meu testemunho aqui, de que esta entrevista é altamente democrática, ninguém quis saber que pergunta qualquer um de nós iria fazer. É como disse o Presidente, na abertura, porque sempre tem alguém que pergunta: "escuta, pediram para perguntar alguma coisa?" Fica aquela desconfiança. Então eu quero dar aqui o meu testemunho, como já foi dado no Roda Viva, não me lembro, por um jornalista que falou a mesma coisa.

Presidente, todo mundo só pergunta, lota a mente do senhor com questões nacionais e até internacionais. Eu vou para uma pergunta regional. A transposição do rio São Francisco é uma obra importante, é claro que ela é polêmica, e talvez seja polêmica até pelo desconhecimento de muitos, que querem falar o que não sabem com relação a ela. Mas eu quero focar em uma pergunta regional, que é a Ferrovia Norte-Sul. Acho a Ferrovia Norte-Sul tão importante quanto a transposição do rio São Francisco. A Ferrovia Norte-Sul passa por estados que podem abastecer não só o Brasil, mas também o mundo, em termos de alimentos. Ela passa por Mato Grosso, por Goiás, Tocantins, enfim, Maranhão, e ela está praticamente parada. Começa, pára, começa, pára, pára, começa. E é uma obra que todos dessa região não sabem quando ela terá um fim. Eu queria saber do seu governo se a Ferrovia Norte-Sul, que nos interessa, à região Centro-Oeste, Norte e Nordeste, ela vai ter uma priorização do seu governo, o senhor vai colocar alguma coisa para, quem sabe, o próximo governo, pode ser até seu, no caso de uma reeleição... Como é que o seu governo encara uma obra fundamental, principalmente para a agricultura brasileira, que é a Ferrovia Norte-Sul? Eu colocaria também o biodiesel porque Goiás, Tocantins, podem entrar maciçamente também na produção da mamona, na produção da soja, aumentar mais ainda no que se refere ao biodiesel, que é um programa do seu governo.

Presidente: Primeiro, Sandes Junior, é um prazer, porque eu não sabia que você viria aqui como... Ontem, o André me disse: "olha, tem um jornalista que foi deputado, vocês fizeram passeata e caminhada juntos na cidade de Goiânia". É um prazer saber que você está de volta à rádio e, sobretudo com um programa, com muita audiência. O São Francisco, logo, logo, vai ter um debate aqui, porque aqui nós temos estados receptores, temos estados doadores, daqui a pouco nós vamos assistir a uma briga, aqui, entre o Ceará e a Bahia, entre Pernambuco... vai ser uma coisa... e uma parte de Minas Gerais. Nós vamos ter uma celeuma aqui, eu espero que seja uma briga entre os jornalistas e não me envolvam nessa briga. Mas, vou dizer para você o seguinte: o projeto São Francisco é um projeto necessário. E eu tenho certeza que, muitas vezes, a discussão envereda para o campo da ideologia e não permite que a racionalidade permeie a cabeça das pessoas. Eu não acredito que tenha na Bahia, com um povo generoso como é o povo baiano, alguém que queira negar um copo de água a um irmão do semi-árido que precisa de água para beber. O canal está sendo pensado de forma muito equilibrada, nós vamos extrair do rio São Francisco apenas 1% da água do rio São Francisco para levar água para beber para 12 milhões de pessoas que moram no semi-árido.

Nós tomamos como iniciativa primeira, discutir a revitalização do rio São Francisco, porque hoje eu fico vendo pessoas falarem em revitalização mas pessoas que já governam o país há 30 anos, 40 anos e estão jogando esgoto nos afluentes do rio São Francisco, desmataram todo o cerrado que permeava as margens do rio São Francisco e nós estamos nos propondo a recuperar tudo isso para que a água a ser levada para o semi-árido não seja um transtorno para o rio São Francisco.

Nós estamos fazendo debate e vamos continuar fazendo esse debate enquanto for necessário porque eu moro em São Bernardo, eu não moro mais no semi-árido nordestino, eu não moro mais no nordeste. Agora eu não posso, porque eu não tenho problema de água, não me incomodar com um problema que incomoda o Brasil há 300 anos, no mínimo. É uma questão de justiça social, além do que, um canal de quase 700 quilômetros, ou seja, nós estamos colocando dois quilômetros e meio à margem do canal, de cada lado, para que a gente possa fazer políticas de assentamento para ajudar a agricultura familiar. É um projeto de cunho social extremamente forte, é um projeto que está sendo pensado, sobretudo, para manutenção do rio São Francisco, que é uma paixão nacional, e para isso nós temos que cuidar, não apenas de tirar 1% da água, mas de conservar e recuperar as matas ciliares, que a gente possa fazer um tratamento de esgoto na região toda, são quase 200 cidades que permeiam as margens do rio São Francisco e por isso estamos com a PEC no Congresso Nacional querendo aprovar... que estabelece uma pequena quantia que dá 300 milhões de reais/ano, para que a gente faça a revitalização do rio São Francisco.
Então é extremamente importante, Sandes, e eu fico agradecido que você tenha feito esta pergunta antes que os jornalistas do Nordeste, dos estados, façam.

Sandes Junior - Rádio Terra FM e Rádio 730 AM: Eu fiz ela Presidente, para entrar na Norte/Sul.

Presidente: E vou entrar na Norte/Sul agora. A Norte/Sul, eu até um tempo desse pedi desculpas ao presidente Sarne, porque quando foi lançada a idéia da Norte/Sul, eu era deputado Federal constituinte e eu e tantos outros, eu até comentava com o ministro do Supremo Tribunal Federal o presidente Nelson Jobim, que também era deputado, que nós fizemos muitos discursos contra a Ferrovia Norte/Sul e hoje eu, estou convencido que a Norte/Sul é muito, muito importante a ser concretizada. Por isso eu quero antecipar para você, que certamente no começo do próximo ano, nós iremos a Goiás dar início a um outro trecho da Ferrovia Norte/Sul.

Nós trabalhamos quase que um ano tentando construir uma PPP com empresas chinesas para que a gente pudesse construir a totalidade da Ferrovia Norte/Sul, isso demorou muito e o resultado não foi positivo e nós agora vamos, com o dinheiro do orçamento, começar a fazer uma nova parte da Ferrovia Norte/Sul, porque ela é extremamente importante para o escoamento da produção de um estado que cresce de forma extraordinária como o cresce o estado de Goiás e como cresce a região Centro-Oeste do Brasil.

Portanto, você estará comigo num palanque logo, logo, dando início às obras da Ferrovia Norte/Sul.

Pergunta 6: Entrevista Coletiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a emissoras de rádio.
Palácio do Planalto, 18 de novembro de 2005

Luiz Fara Monteiro: Presidente, vamos ouvir agora o radialista Mário Kertész, administrador de empresas, ex-prefeito de Salvador e também apresentador do Jornal da Bahia no Ar. Mário, bom dia.

Mário Kertész - Jornal da Bahia no Ar: Bom dia, bom dia Presidente.

Presidente: Bom dia, Mário.

Mário Kertész - Jornal da Bahia no Ar: Presidente, o senhor disse que a gente pode fazer qualquer pergunta, devemos nos sentir à vontade. Eu queria entrar na área política e a gente conversar um pouquinho sobre isso. Dificilmente hoje, no Brasil, pode existir uma pessoa que não acredite que o senhor será candidato à reeleição. É um direito seu, o senhor é presidente da República, foi contra a reeleição, mas existe hoje um instituto da reeleição e, mais do que claro para a população brasileira, embora o senhor tenha evitado se definir sobre isso, que o senhor será candidato à reeleição. Então, a pergunta que eu faço ao senhor é a seguinte: desta vez, o senhor candidato à Presidência da República, o senhor vai com um partido já não tão forte quanto estava em 2002. O senhor perdeu alguns companheiros, que se afastaram, como o próprio José Dirceu, que foi importante na sua campanha, o seu marketeiro, Duda Mendonça, e outras divisões. O próprio PT perdeu um pouco aquela fisionomia que tinha e, se de um lado o senhor vai apresentar a sua política econômica exitosa, como o senhor falou, e as coisas que o senhor conseguiu, é claro, no seu governo, é mais do que justo isso, mas também seus adversários vão buscar os pontos que não tenham sido cumpridos em sua campanha, como por exemplo, a segurança do Brasil que é hoje uma coisa dificílima e, cada vez, pior, a recuperação de estradas e rodovias. Enfim, usando também o senhor, agora, como um pouco de vidraça. O senhor, agora, vai levar chumbo quando começar o processo de reeleição. Além de ser presidente da República, o senhor será candidato. Então, a pergunta que eu queria fazer ao senhor é a seguinte: como é que o senhor pretende e com que forças o senhor pretende fazer essa segunda jornada, que eu tenho certeza que o senhor vai fazer?

Presidente: Só podia ser um baiano para me fazer essa pergunta e permitir que possamos discutir um pouco de política a partir do pensamento do presidente da República. Por que eu não decidi ainda se sou ou não candidato? Por uma razão muito simples: quem acompanha a minha vida política sabe que eu, na Constituição de 1988, votei contra a reeleição. Eu tenho esse pensamento. Entretanto, eu sei que o instrumento da reeleição foi aprovado. Aliás, eu fui vítima naquela ocasião. Vocês estão lembrados que o mandato era de cinco anos. Quando, em 1994, eu estava muito bem nas pesquisas no mês de abril, fizeram uma mudança e reduziram o mandato para quatro anos, pensando que eu ia ganhar as eleições. Eu não ganhei as eleições, o Fernando Henrique Cardoso ganhou, aumentou para cinco anos... ou melhor, aí propuseram, em 1996, a tese da reeleição. Quando você é presidente da República ou você entra na política, não é você sozinho que toma uma decisão de dizer "eu vou ser ou não vou ser", porque você participa de uma agremiação, você participa de um conjunto de pessoas que te ajuda a decidir e a tomar determinadas posições sobre candidaturas a vereador ou a presidente da República. Eu estou muito convencido de que o presidente da República não tem que fazer campanha eleitoral antes do momento que se começa a campanha, porque no Brasil, lamentavelmente, no ano de eleição, as coisas param, e eu tenho mais um ano e dois meses de mandato, e quero exercitar este mandato na sua plenitude, até porque agora nós estamos colhendo muita coisa que nós plantamos. Então, se eu tiver que decidir, Mário, vai ser lá para março, ou abril ou maio, não vai ser agora e, para eu decidir, estou levando muitas coisas em consideração.

A única coisa que não me assusta é o embate político, porque eu não vou ser vidraça porque eu sou Presidente. Eu já fui vidraça a vida inteira porque contra mim teve, possivelmente, o maior preconceito já estabelecido na política nacional e eu enfrentei essa situação e vou enfrentar. E vamos enfrentar fazendo coisas, e eu quero comparar o nosso governo com o os outros governos. Eu não vou partir do zero, eu quero, em um processo eleitoral, comparar, sobretudo na Bahia. Eu vou lhe dizer algumas coisas importantes. Mário, na Bahia, só para você ter idéia, o Bolsa Família atende 993 mil famílias. Nós passamos para a Bahia uma quantia anual de mais de 800 milhões de reais, com o Bolsa Família. Na Bahia, Mário, o Pronaf, que tinha historicamente 87 mil contratos e um repasse do governo federal de 111 milhões, agora tem 129 mil contratos com o repasse de 365 milhões de reais/ano. Você sabe o que significa, para a agricultura familiar, o estado da Bahia.

O programa Luz para Todos, que eu tive o prazer de ir à Vitória da Conquista fazer uma inauguração, está atendendo, na Bahia, 257 mil pessoas com 51 mil ligações. Na questão da educação, este ano nós colocamos quase 10 mil novos alunos nas universidades da Bahia por conta do ProUni, além do que eu vou lhe convidar para ir comigo ao Recôncavo Baiano inaugurar o lançamento da universidade do Recôncavo Baiano, mais uma universidade federal que será muito importante. Além da universidade, nós vamos fazer mais dois campi, um em Vitória da Conquista e outro em Barreiras para que a gente consiga interiorizar as universidades brasileiras que estão, normalmente, nas capitais. Então, nós vamos fazer essa campanha, se eu for candidato ou não for candidato, estarei em campanha porque eu vou ajudar um companheiro. É verdade que o PT passa por momentos críticos, mas é verdade que a prévia do PT demonstrou que o PT tem muito vigor porque quando todo mundo imaginava que o PT estava morto, compareceram 320 mil filiados para escolher a nova direção do Partido, em uma demonstração de vigor que poucas vezes foi dada na história política do Brasil. E é muito importante que aconteçam essas coisas com o PT enquanto o PT é novo. O PT só tem 25 anos de vida e, nessa idade, você sabe que entre 18 e 25 anos nós cometemos muitos erros para que a gente amadureça quando estiver com 30 anos, ou seja, isso vai servir de aprendizado para nós. Aqueles que cometeram erros, pagarão, e já estão pagando o preço, mas o PT é muito grande, o PT está espraiado por este território nacional como nunca um partido esteve, nos mais diferentes e nos mais longínquos lugares em que você for, você vai encontrar alguém com a bandeira do PT. Isso, durante a campanha, renasce com um vigor enorme e renasce para defender as políticas que o governo está fazendo.

Quando eu participei ontem do ato do biodiesel, Mário, eu dizia o seguinte: daqui a dez anos, todos nós vamos estar vivos, se Deus quiser, ou daqui a 15 anos, e nós vamos poder discutir o que significou o Programa do Biodiesel para o Brasil. O Programa do Biodiesel para o Brasil, terá um efeito multiplicador igual ou maior do que tem o Pró-Álcool, hoje. O Pró-Álcool, que estava falido há alguns anos, o Pró-Álcool que estava desacreditado e nós recuperamos e discutimos junto com a indústria automobilística --governo, indústria automobilística e os sindicatos-- a retomada da produção de carro a álcool. E este ano 65% dos carros vendidos pela indústria brasileira, no mercado interno, foram flexil, em uma demonstração de que o álcool virou, definitivamente, uma matriz energética alternativa para o Brasil, que o biodiesel será para o mundo. E poucos países do mundo terão condições de competir com o Brasil, porque Deus nos deu sol, terra, água e gente boa para trabalhar.

E com o Programa, tal como está feito, dando um privilégio aos produtores do Norte do país e aos produtores do Nordeste, sobretudo os da palma e da mamona, mas ele certamente vai se estender para a soja, na medida em que vai crescendo o mercado, na medida em que nós precisarmos de mais produção. E aí nós vamos resolver um outro problema futuro, que é a tal da soja transgênica, que tanta polêmica deu, porque grande parte dela vai ser utilizada para fazer biodiesel. E aí, veja o que vai acontecer de interessante no Brasil: os produtores terão uma arma extraordinária de negociação se o mundo comprador de soja oferecer um preço muito baixo, certamente os produtores vão dizer: "bom, nós vamos produzir biodiesel". Então eles vão ter que melhorar o preço. Isso, num futuro, que eu estou dizendo, em 10 anos, porque nós estamos começando com 2% de biodiesel no óleo diesel, depois vamos chegar a 5%. Está previsto para 2013, e ontem eu fiz um desafio ao ministro Miguel Rossetto, que nós vamos superar as metas, nós vamos... essas metas vão ser todas ultrapassadas, porque não vai demorar muito nós vamos ter carro a biodiesel no Brasil, poluindo menos, gerando empregos.
Eu fui a Floriano, no Piauí, inaugurar uma fábrica de biodiesel. Para 40 trabalhadores que trabalham na Fábrica de transesterificação, ou seja, que define a qualidade do biodiesel, que refina, para cada trabalhador que trabalha nesta fábrica, precisa de 1000 trabalhadores no campo. Já temos 70 mil trabalhadores no campo e se Deus quiser no final do ano que vem, nós termos 350 mil trabalhadores trabalhando a questão do biodiesel. O que será uma revolução energética.

Na conversa que eu tive com o presidente Bush, eu disse ao presidente Bush: Presidente, os Estados Unidos produzirem etanol de milho, não é possível, porque custa quase três vezes mais o custo do etanol de cana-de-açúcar. Produzir biodiesel na Europa, de beterraba. Ora, vamos produzir, vamos fazer parcerias com as empresas brasileiras e vamos encher o Nordeste brasileiro, o semi-árido sobretudo, que é a parte mais pobre do Brasil, de fábricas, para produzir biodiesel, de plantadores de mamona, para que a gente possa fazer com que o nosso querido Nordeste, que é a parte mais pobre do Brasil, possa ser tratado para chegar às condições das regiões mais ricas do Brasil.

Quando isso ganhar a dimensão que eu quero que ganhe, com os ônibus utilizando 20%, 25%, com carros a diesel, com o mundo comprando do Brasil, aí certamente o Centro-Oeste, o Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso, vão produzir biodiesel como jamais algum país pensou em produzir. E aí, quem sabe, o mundo inteiro, por causa do protocolo de Quioto, seja obrigado a vir ao Brasil negociar o biodiesel e nós então iremos nos transformar num grande produtor de uma matriz energética renovável em que você não precisa cavar um buraco de 4 mil metros de profundidade, 2 mil de lâmina d'água e 2 mil na terra, você apenas com um metro e meio planta um pezinho de mamona estica a mão e colhe, manda para a máquina, mói, faz o óleo, faz o biodiesel e coloca o carro para funcionar. Essa é uma revolução brasileira e eu estou convencido que nos próximos dez ou 15 anos, todos nós estaremos orgulhosos de ver o Brasil ser o país ponta de lança na produção de biodiesel.

Então, são com essas armas que se eu tiver que ser candidato eu vou para uma eleição. Eu gosto de um debate, adoro um debate, gosto de polêmica e é bonito porque o povo vai se politizando, o povo vai ensinando a gente. é assim que eu penso meu querido Mário e vou sim disputar as eleições. Eu tenho dito: não tenho pressa. Os meus adversários é que têm pressa, aliás eles estão demonstrando um certo nervosismo por conta de 2006. Eu não estou porque eu acho que o povo brasileiro já foi generoso demais comigo. Quem saiu de Garanhuns com cinco anos de idade, cheguei onde cheguei, só posso agradecer todo dia a Deus.

Agora eu sei o que o povo deseja, eu sei o que o povo cobra de mim e eu quero terminar o meu mandato fazendo o máximo que um presidente da República pode fazer pelo seu povo.

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