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18/11/2005 - 17h07

Confira a segunda parte da íntegra da entrevista do presidente Lula

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da Folha Online

Confira a segunda parte da íntegra da entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para nove emissoras de rádio:

Pergunta 7: Entrevista Coletiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a emissoras de rádio. Palácio do Planalto, 18 de novembro de 2005

Luís Fara Monteiro: Nosso abraço a você em todo o Brasil que acompanha a entrevista ao vivo do presidente Lula, direto do Palácio do Planalto. Presidente, da Bahia a gente vai para Pernambuco. Vamos ouvir o correspondente da Rádio Jornal do Comércio em Brasília, Romualdo de Souza. Bom dia, Romualdo.

Romualdo de Souza - Rádio Jornal do Comércio: Bom dia. Presidente, bom dia, tudo bem? Presidente, sabe que o senhor está ao vivo agora, na Super Manhã, o Geraldo Freire não pôde vir. O senhor sabe como é, sexta-feira, Recife, vai dar praia final de semana. O senhor acha que o Geraldo viria a Brasília? Ele preferiu ficar no Recife e depois vai repercutir esta entrevista. Mandou um abraço para o senhor, pediu para o senhor mandar um abraço para o povo de Pernambuco que está, certamente, acompanhando esta entrevista. Mas o meu tema, presidente Lula, é político.

O deputado José Dirceu disse que quando era ministro da Casa Civil, ele trazia os problemas para o senhor e o senhor simplesmente pedia que ele resolvesse os problemas, que o senhor não ia resolver esses problemas.

O que está acontecendo com o Lula que se empolgou para ser Presidente da República? Aquele Lula que lutava a vida inteira e que lutou a vida inteira para ser o Presidente da República? É o peso do cargo que fez com que o senhor se desinteressasse pelos problemas ou, na verdade, Presidente, o senhor está abatido, desinteressado? Até porque alguns dos seus auxiliares acabaram envolvendo o seu governo no chamado "esquema do mensalão".

O senhor está realmente desinteressado ou o senhor está empolgado e não está conseguindo passar essa empolgação de presidente, de Lula, que brigou para ser presidente da República, tantas vezes?

Presidente: Romualdo, primeiro, eu não li a entrevista do José Dirceu. Não li, então, fica muito difícil eu comentar uma entrevista porque... e se ele não disse isso. Eu vou responder uma coisa que ele não disse.

Romualdo de Souza - Rádio Jornal do Comércio: O senhor não leu?

Presidente: E eu tenho certeza que ele não disse. Eu tenho certeza porque o José Dirceu, como outros ministros, sabe que poucas vezes na história da República, aliás, poucas vezes não, não sei se em algum momento na história da República se trabalhou tanto neste país.

Aqui, o expediente começa, quando começa tarde, às 9 da manhã, e quando termina cedo, termina às 10 ou 11 horas da noite. Vocês podem checar isso com os funcionários que trabalharam para tantos presidentes aí, e sabem meus assessores que eu penso que, quando eu viro as costas, eles ficam falando mal de mim porque eu sou extremamente exigente. Agora, não tomo nenhuma decisão precipitada.

Eu aprendi que o juízo de alguém que tem responsabilidade sempre conta até 10 para tomar uma posição, sempre pensa um pouco mais para não cometer erros na tomada de posição. E cada um de nós tem um estilo de trabalhar.

Eu tenho um estilo de trabalhar que é público e conhecido porque vem desde 1975, quando eu estava à frente do Sindicato. E é um estilo que não tem muita diferença, tem diferença de grandeza, mas o comportamento de manter uma relação de lealdade com as pessoas que trabalham comigo, uma relação de transferência de confiança com essas pessoas sem, em nenhum momento, transferir responsabilidade, porque essa é minha. Quem teve voto foi o presidente da República e, portanto, essa responsabilidade é intransferível nos erros e nos acertos. Eu não sou daqueles que acham que só devo falar das coisas que me favorecem, não.

O presidente da República também tem responsabilidade pelos erros. Mesmo que algum assessor do presidente da República tenha cometido um erro na divisa do Oiapoque com a Guiana Francesa, ainda assim a responsabilidade passa pelo presidente da República.

E quando o presidente da República sabe, ele toma decisão, pune as pessoas.

É esse o papel nosso, esse é o papel de um presidente da República. Eu acredito piamente que nós estamos vivendo um momento em que as insinuações às vezes não têm respaldo no dia seguinte, mas vão ganhando corpo, e vão ganhando corpo e vão ganhando corpo. A CPI do Mensalão vai terminar e eles não vão provar mensalão.

Entretanto, foi o mensalão que criou uma confusão generalizada no Brasil. E por que a CPI não vai provar mensalão? Porque é humanamente impossível você imaginar que, qualquer que seja um governo, e sobretudo no meu governo, você tenha que chamar deputado para dizer "olha, você tem que votar porque eu te dou tanto".

Aliás, o Congresso Nacional criou uma coisa democrática e saudável que são emendas parlamentares, que têm identidade, que quando você libera uma emenda parlamentar de 3 milhões de reais ou de 500 reais, você sabe qual é a ponte que vai ser feita, você sabe qual é a estrada que vai ser feita. Isso é um instrumento criado pelo Congresso Nacional. Então, eu penso que este momento político deve servir de reflexão para nós.

Todos nós, aqui, vocês como jornalistas devem ler pelo menos 10 jornais por dia, 10 revistas, e é importante que a gente leia, leia, leia, leia, e a gente vai fazendo avaliação para ver quem está querendo apurar, quem está falando coisa séria, quem está contando mentira, quem está apenas querendo fazer política, porque nós temos que ter a capacidade de interpretar aquilo que a gente lê e não acreditar, a priori, naquilo que a gente lê. E há um embate político que nós vamos fazer, e não vai terminar agora, não vai ser a primeira vez, não será a segunda, mas eu acho que tem muita gente tratando apenas de tentar transformar toda e qualquer coisa em uma questão eleitoral, coisa que não é saudável.

Eu queria dizer, por fim, meu caro Romualdo, você que é de Pernambuco, que o Geraldo não veio aqui porque ele deu furo, porque o Geraldo de vez em quando vem aqui com um gravadorzinho na mão e ele já fala bom dia com o gravador ligado, e ele deu o furo da refinaria em Pernambuco.

O Nordeste brasileiro - e isso eu acho importante em uma pergunta de Pernambuco, falar isso - vai ter, no meu governo, coisas estruturantes que, se tivesse tido há 20 anos, o Nordeste já teria mudado.

Nós vamos ter uma refinaria no Nordeste, coisa que a Petrobras tinha a disposição de não fazer porque estava reformando a refinaria do Rio Grande do Sul, estava reformando a refinaria de Duque de Caxias, estava fazendo ampliação na refinaria de Paulínia. E nós decidimos que íamos fazer uma refinaria no Nordeste porque o Nordeste precisava de mais uma.

Nós definimos fazer a Transnordestina, um sonho antigo, que vai ligar o porto de Suape ao porto de Pecém, que vai ligar o porto de Pecém e o porto do Suape a Eliseu Martins, no Piauí, para escoar a soja, que vai escoar o gesso e que vai permitir que o Nordeste tenha a oportunidade de se desenvolver.

O Nordeste vai ter uma siderúrgica em Fortaleza. No começo do ano começaremos o Gasene(?), que vai levar o gás do Sudeste do Brasil para o Nordeste brasileiro para que a gente não tenha problema de apagão.

Vai ter o projeto São Francisco. Então, nós vamos dar... Além das universidades que estamos fazendo no Nordeste, já tive oportunidade de ir a Garanhus, a Caruaru inaugurar universidade, lançar universidades novas tirando braços da Universidade Federal para levar para o interior do país. E a BR 101 que, se Deus quiser, ainda em dezembro, vamos ao Estado de Pernambuco, ao Estado da Paraíba e ao Estado do Rio Grande do Norte.

Era para termos começado em março, Romualdo, não começamos em março porque teve um problema com o Tribunal de Contas, tivemos que refazer cálculos, depois tivemos a licitação, algumas empresas entraram na justiça com liminar. E todo mundo sabe o que é isso numa licitação, uma empresa brigando com outra empresa.

Como a briga estava se arrastando demais, nós tomamos a decisão e esta semana, nesta mesa em que vocês estão hoje, nós trouxemos aqui o ministro da Defesa, o ministro dos Transportes, o Exército brasileiro e vamos começar a fazer um trecho no Rio Grande do Norte, um trecho em Pernambuco e um trecho na Paraíba, com o Batalhão de Engenharia do Exército brasileiro para que essa obra ande definitivamente.

E todo mundo sabe o significado da BR-101, tanto a BR do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, que vai de Osório a Palhoça, que também já tinha sido prometido há 500 anos e que agora está acontecendo de verdade. E a BR-101 Nordeste que é, quem sabe, uma coisa extraordinária, ligando o Rio Grande do Norte à Bahia, para que o povo que venha visitar o Nordeste brasileiro possa transitar de carro numa pista moderna, duplicada, aumentando a possibilidade de geração de riqueza.

É isso que nós estamos fazendo. As divergências nós vamos resolver também. Aliás, eu, em toda a minha vida, eu duvido que tenha alguém mais democrático que eu. Agora, eu gosto de tencionar as disputas, porque toda vez... eu nunca ouvi um único economista na minha vida, nunca.

Quando eu não estava na Presidência, eu, nos últimos dez anos, antes de chegar à Presidência, me reunia todo mês com pelo menos 30 economistas. Quando eu precisava de um assessor que eu chamava para me dizer uma coisa, eu chamava outro que pensava um pouco diferente dele para ver se tinha um denominador comum que me permitisse não ouvir apenas uma voz, mas ouvir duas, se possível três, para poder tomar as decisões corretas. É assim que eu sou e aos 60 anos de idade, ao em vez de mudar, eu quero aperfeiçoar esse modo de ser que aprendemos com a vida.

Pergunta 8:Entrevista Coletiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a emissoras de rádio. Palácio do Planalto, 18 de novembro de 2005

Luís Fara Monteiro: Nove horas e dez minutos. Voltamos a falar, ao vivo, direto do Palácio do Planalto. Vamos ouvir, agora, a pergunta do jornalista Fábio Marçal, da Rádio Guaíba, correspondente dos jornais Bom Dia e Jornal da Manhã. Fábio.

Fábio Marçal - Rádio Guaíba: Bom dia, Presidente. Bom dia, ouvintes, especialmente os ouvintes da Rádio Guaíba. Presidente, mais uma pergunta política. O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia, chegou, de uma forma grosseira, a comparar o senhor ao Pinóquio, pois em entrevista ao Programa Roda Viva o senhor defendeu os trabalhos da CPI e as investigações das denúncias contra integrantes do seu governo. Mas o que se vê é a base aliada do governo brigando para não prorrogar os trabalhos das CPMI.

A CPMI do Mensalão terminou de forma melancólica. Os seus líderes no Congresso não estão seguindo as suas orientações, e quais as suas prioridades no Congresso em 2006?

Presidente: Vamos por etapas, para a nossa Rádio Guaíba e para o torcedor do Internacional. Vamos dizer o seguinte: não existe momento histórico em que o governo cria CPI. A CPI é um instrumento de oposição e nós tentamos utilizá-lo, muitas vezes, quando éramos oposição.

O que nós entendemos é que a CPI dos Correios poderia ser adiada por mais um mês, até dezembro, até sei lá. Ora, quando se pede o adiamento até abril, no nosso entendimento tem um componente político muito forte, já dito pelos nossos adversários. O que disseram os nossos adversários do PFL e do PSDB? Que eles querem fazer o governo sangrar até as eleições.

Então, o adiamento é visto por nós como a tentativa de se arrastar 2006 discutindo CPI, quando o próprio Presidente acha que mais um mês poderia resolver o problema de ter os relatórios prontos. De qualquer forma, a disputa do Congresso Nacional é uma disputa no Congresso Nacional em que o governo tem poucas possibilidades de influir na decisão, sobretudo quando se trata de CPI.

Vamos deixar eles fazerem o que quiserem fazer, que apurem e que mostrem para a sociedade o resultado. Por que o que faz uma CPI? Ela apura, depois ela manda para o Ministério Público, que faz as investigações junto com a Polícia Federal, e manda para o Poder Judiciário julgar. É esse o papel.

O que eu desejo, na verdade, é que apure com rigor tudo que eles já falaram publicamente porque, se não apurarem, o que vai acontecer? Vai redundar no que aconteceu na CPI do Mensalão. Vão chegar à conclusão de que não teve mensalão, mas na cabeça do povo brasileiro já existe a idéia do mensalão. É uma palavra fácil, é uma palavra que todo mundo fala com muita facilidade e está na cabeça do povo. Agora, eu quero é ver quem pôs, tirar da cabeça do povo que não tem mensalão.

Então, uma CPI não pode terminar sem que preste contas à sociedade do trabalho para o qual foi criada. Este é o desejo do Presidente da República, e o desejo é que os deputados trabalhem com muito carinho nisso.

Os projetos importantes que nós temos para o próximo ano, eu gostaria que fosse este ano ainda, porque o ano que vem é ano eleitoral. E em ano eleitoral todo mundo sabe que, o Brasil, depois de junho, quando começa a campanha, fica mais ou menos paralisado do ponto de vista da votação de projetos, porque tem muita gente do Congresso que é candidato a alguma coisa.

Mas nós temos projetos importantes, eu vou começar pelo primeiro, o projeto do Fundeb, que vai colocar na educação brasileira mais quatro bilhões e 300 milhões do governo federal, para que possamos atender o ensino fundamental e o ensino técnico, para que possamos fazer com que os Estados mais pobres do Brasil tenham, pela primeira vez, a oportunidade de, na área da educação, se equiparar aos Estados mais desenvolvidos do Brasil. Eu espero, então, que o Congresso Nacional vote o Fundeb.

O Estatuto da Pequena e Micro Empresa, que se chama Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, que é extremamente importante para o Brasil, tanto na redução dos impostos que nós precisamos fazer, como para facilitar que as empresas sejam criadas. Nós estamos com um Projeto de Lei que foi fundido com o Estatuto Geral da Pequena e Micro Empresa, o Pré-Empresa, que é para dar condições ao cidadão ou à cidadã que mora em Porto Alegre, que mora em Passo Fundo, que mora em Alegrete, que mora em Salvador, que mora em Pernambuco, que mora em Belo Horizonte, que esse cidadão possa, com muita facilidade, legalizar a sua situação e não ser mais perseguido pelos fiscais das prefeituras como se fosse bandido. Eu quero que seja aprovado esse projeto e estou torcendo para que o Congresso possa votar.

Gostaria, imensamente, que o Congresso votasse alguma coisa na reforma eleitoral, na legislação política, para que a gente pudesse ter partidos mais fortes, que pudéssemos acabar com contribuição da iniciativa privada, que o fundo fosse público. Gostaria que tivéssemos fidelidade partidária, gostaria que o Congresso votasse, não sei se vai ser possível votar.

Gostaria que o Congresso, hoje, votasse a Medida Provisória 258, da Super Receita que é, possivelmente, a coisa mais moralizante na arrecadação brasileira. Espero que o Congresso vote.

Além disso, nós temos o projeto de desenvolvimento da Amazônia, temos um projeto que regulamenta o futebol no país, para tentar transformar os clubes de futebol em algo mais profissional e não ficarem todos como estão hoje aí, praticamente endividados, sem poder pagar salário, sem poder recolher Previdência. Então, são projetos extremamente importantes que eu gostaria que fossem aprovados.

O presidente Aldo e o presidente Renan, que almoçaram comigo ontem, estão com a disposição de definir, junto ao governo, as prioridades do governo para ver se a gente consegue votar até o final do ano esses projetos mais importantes para o país, para começarmos o ano com coisa muito nova no
Brasil, como foi a Medida 255, a chamada Medida do Bem, que foi aprovada e vai ser um benefício para incentivarmos novos investimentos no Brasil, para facilitar as empresas brasileiras que já estão investindo. E eu estou certo de que o Congresso Nacional vai dar essa colaboração.

O fato de perder as coisas no Congresso de vez em quando, faz parte da democracia, meu caro. O Congresso Nacional, por mais que a gente tenha discordância em alguns assuntos, é o que demonstra a essência da democracia no Brasil.

A diversidade cultural e social do país está representada dentro do Congresso Nacional e nós, ao em vez de acharmos ruim quando perdemos alguma coisa, temos que dizer: graças a Deus este país tem Congresso, porque o que não tem vive uma democracia mais capenga do que a nossa.

Fábio Marçal - Rádio Guaíba: Presidente, falando em Congresso, apenas uma pergunta. O senhor é a favor da Constituinte exclusiva para 2007? Uma Constituinte, um Congresso Constituinte?

Presidente: Eu não sei se nós deveremos priorizar um debate sobre uma Constituinte. Nós acabamos de fazer uma Constituição, ela tem 15 anos. Eu acho melhor nós aperfeiçoarmos essa Constituição, fazer as mudanças que poderão aprimorá-la e aperfeiçoá-la e não tentar fazer outra vez uma nova Constituinte. Acho que não há espaço para isso.

Pergunta 9: Entrevista Coletiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a emissoras de rádio. Palácio do Planalto, 18 de novembro de 2005.

Luís Fara Monteiro: Presidente, vamos ouvir agora a Leid Carvalho, correspondente da Rádio Itatiaia de Minas Gerais em Brasília. Leid.

Leid Carvalho - Rádio Itatiaia de Minas Gerais: Bom dia presidente, bom dia colegas, bom dia ouvintes da Rádio Itatiaia e das demais rádios também que participam.

Presidente, a minha pergunta foi sugerida pelo meu diretor de jornalismo e trata da questão da segurança pública. Só para ilustrar, a situação de contagem, um Juiz determinou a soltura de presos, o Tribunal de Justiça determinou o contrário, os presos foram soltos e agora precisam ser recapturados.

Agora a falta de segurança pública não é um privilégio de Minas Gerais, não é Presidente? O que ocorre com os recursos da segurança pública? Porque as parcelas do Fundo Nacional de Segurança Pública não são liberadas e quando ocorre a liberação é com muito atraso, com até um ano, por exemplo.

O governador Aécio Neves já esteve aqui, reunido com o Ministro da Justiça algumas vezes, mas a gente sabe que o Ministro da Justiça não é o dono do cofre.

Para contextualizar, Presidente, uma entrevista do ex-presidente Fernando Henrique, que está sendo divulgada hoje, ele critica a ultra-ortodoxia do PT. Ele diz que o Brasil paga o preço pela demagogia do PT na oposição.

As bravatas de então levaram o PT no governo a ser ultra-ortodoxo na condução da política econômica. A política fiscal foi apertada a ponto de praticamente eliminar o investimento público federal e comprometer serviços fundamentais, a exemplo da vigilância sanitária, como agora se vê o ressurgimento de focos da febre aftosa e eu associo à questão da segurança pública em Minas Gerais também.

Segundo o ex-presidente Fernando Henrique, a dose de juros tem sido cavalar, ao mesmo tempo em que reduz investimento, aumenta o gasto financeiro, uma combinação ruim para o crescimento. Eu estou citando o ex-presidente Fernando Henrique, presidente Lula, mas no Congresso eu já ouvi diversos petistas dizerem a mesma coisa, criticarem essa política econômica, o superávit fiscal elevado, que compromete serviços básicos.

Presidente: Primeiro, Leid, bom dia. Bom dia aos ouvintes da Itatiaia, bom dia ao povo de Minas Gerais. Eu não vou fazer comentário sobre a política do presidente Fernando Henrique, sobre a entrevista do presidente Fernando Henrique Cardoso, porque contra ele existem os números de oito anos de mandato dele, e os números de 36 meses meus. E os números falam por si só.

Eu, se fosse pegar a questão dos juros que você citou, a média de juros dele foi o dobro da média de juros no meu governo em 36 meses. Enquanto no governo dele se criou apenas 8 mil empregos por mês, empregos positivos - a diferença entre os demitidos e os contratados -, o saldo positivo dele foi de apenas 8 mil por mês. Neste mês de setembro, com 35 meses de governo, nós estamos completando uma média mensal de 108 mil empregos com carteira profissional assinada. O superávit na balança comercial no governo dele era de apenas 13 bilhões de reais, o nosso é de 41 bilhões de dólares.

Então, não existe comparação e eu fico satisfeito que, não sendo presidente, ele pensa de forma mais progressista do que quando exerceu o mandato. Na questão da segurança pública, habitualmente nós temos no Brasil uma transferência de responsabilidade na questão da segurança pública. A segurança pública é 99,9% de responsabilidade dos governos estaduais.

O governo federal tem responsabilidade pela coordenação da Polícia Federal, de cuidar das nossas fronteiras para evitar o contrabando de armas, o contrabando de drogas, e nós criamos o SUSP, que é um sistema de segurança pública unificado, ou seja, em todos os Estados já foram montadas as parcerias com o governo federal e é verdade que nós não estamos passando a quantidade de dinheiro que deveríamos passar, mas não é esse dinheiro que está fazendo falta para a segurança pública nos Estados.

Eu penso que cada governador antes de, com muita facilidade, dizer que o governo federal tem responsabilidade, deveria dizer o que ele está fazendo, porque no Brasil tem muita facilidade para a transferência de responsabilidade: é o prefeito que culpa o governador, o governador que culpa o presidente, e o presidente não tem a quem culpar. "Ah, teve um problema de enchente? É o governo federal. Teve um problema de seca? É o governo federal. Teve um problema de clima? É o governo federal'.

É preciso que cada ente federativo assuma a responsabilidade pela sua parte. O único Estado que pediu a interferência do governo federal para resolver o problema da segurança pública foi o Estado do Espírito Santo, e o governo federal foi lá e, junto com o governador, resolvemos o problema do crime
organizado no Espírito Santo.

Outros Estados não pediram a intervenção do governo federal porque, se pedirem, nós mandamos para lá. Nós temos uma polícia pública nacional, que são policiais de vários Estados treinados pelo governo federal para ter ações especiais nos Estados, nós temos a Polícia Federal.

Se o governador Aécio Neves ou outro governador qualquer quiser que a União interfira junto com eles - nós não queremos mandar na polícia do Estado, não - a gente vai interferir. Ontem, por exemplo, eu tive uma reunião aqui com a Comissão de Direitos Humanos de Pernambuco, de uma região que tem muita violência, esteve aqui o Secretário da Justiça do governador Jarbas Vasconcelos, esteve aqui o Procurador de Justiça do Estado, e a decisão nossa foi de que vamos combinar com o governador Jarbas Vasconcelos uma atuação conjunta do governo federal e do governo estadual para a gente
enfrentar o crime organizado no Estado de Pernambuco.

Contagem tem um problema grave? Tem, e o governador Aécio, que deve estar em Brasília, precisa conversar com o governo federal para que o governo federal, através do Ministério da Justiça, da Polícia Federal, do Secretário de Segurança Nacional, ajude a resolver o problema. Pode ficar certo que nós estamos com a disposição 100% para mandar pessoas para Minas Gerais, para mandar especialistas, para mandar a inteligência, e o dinheiro, quando nós tivermos para mandar, certamente mandaremos.

Eu até vou ver qual é a diferença que falta dar para Minas Gerais, que não deve ser muito não, eu acho que o governador Aécio Neves tem sido um governador com comportamento exemplar na relação com o governo federal, tem sido um homem extremamente civilizado na relação com o governo federal.

Se ele precisar que o governo federal ajude a resolver o problema da segurança de Minas Gerais, ele contará com o apoio total do governo federal e certamente nós iremos lá quando for preciso. Aliás, já tivemos uma experiência dessa quando entrou em greve a polícia militar de Minas Gerais. Quando Leid, você entrevistar o Aécio, pergunte para ele, em 24 horas o Exército brasileiro chegou a Belo Horizonte para fazer a intervenção que ele pediu. Agora, nós estamos prontos para colaborar e para ajudar, nós só não podemos fazer aquilo que é o papel do Estado.

Leid Carvalho - Radio Itatiaia de Minas Gerais: Mas ao invés de liberar os recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública, o senhor sugere uma intervenção Presidente, em Minas Gerais?

Presidente: Não. Eu sugiro colaboração do governo federal para ajudar a resolver o problema de segurança dos Estados. Eu não posso ficar citando muitos governadores, mas eu posso dizer que todos aqueles, e eu citei o espírito Santo como exemplo. Nós tínhamos um problema do crime organizado no Espírito Santo que era um atentado ao Estado brasileiro.

Quando o governador Paulo Hartung pediu ao Ministro da Justiça que intercedesse junto com ele, nós ficamos alguns meses lá e resolvemos um problema. A começar do presidente da Assembléia Legislativa do Estado que era o chefe do crime organizado.

Então, o que eu proponho é o seguinte: mesmo que não exista dinheiro, nós temos homens, nós temos inteligência e nós temos disposição política. Não vamos fazer da ausência dos recursos todos de que nós precisamos, uma desculpa para a gente não fazer o que precisa ser feito. É apenas isso.

Como o governador Aécio deve se encontrar comigo na segunda-feira, eu vou tocar neste assunto com ele, vou lembrar da sua pergunta e vou dizer para ele. Eu acho grave um juiz liberar presos por excesso de gente na cadeia, acho ruim porque essa não é a melhor solução. Então, vamos ver o que precisa ser feito em Minas Gerais porque esse caso de Contagem é um caso que não pode ser exemplar para outros Estados.

Nós temos que aproveitar a lição do que aconteceu em Contagem e tentar, a partir daí, fazer uma discussão para evitar que aconteça, senão daqui a pouco nós teremos muitos presos soltos por excesso de gente na cadeia.

Pergunta 10: Entrevista Coletiva do presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, a emissoras de rádio.Palácio do Planalto, 18 de novembro de 2005.

Luís Fara Monteiro: São nove horas e trinta e dois minutos. Havia previsão de encerrarmos esta entrevista às nove e meia. O presidente Lula quer conversar um pouco mais com os radialistas. Vamos fazer um rápido pingue-pongue para dar tempo de todos participarem novamente. Vamos voltar, então, ao correspondente Wilson Ibiapina, da Rede Verdes Mares, do Ceará.

Wilson Ibiapina - Rede Verdes Mares: Presidente, o seu conterrâneo, Nelson Rodrigues, chamava de "turistas do Vesúvio" os políticos que esticavam a corda da crise, e ninguém fez isso melhor ou pior do que a UDN.

Presidente, hoje em dia, os "turistas do Vesúvio" estão na oposição ou no seu próprio Partido?

Presidente: Eu acredito que estão na oposição. Pessoas que... obviamente que tem gente séria, que quer apurar, e tem gente que quer esticar a corda porque tem gente que defende a teoria do "quanto pior, melhor". Tem gente que não se contenta em ver o Brasil dar certo.

Luís Fara Monteiro: Vamos ouvir então, agora, Patrick Motta, da Rede Amazônica. Patrick.

Patrick Motta - Rede Amazônica: Presidente, dois assuntos regionais, lá do Amazonas, o gás de urucu, que quando o senhor esteve lá, e o senhor conhece muito bem a importância desse gás de urucu, gasoduto, ele deu uma parada seis meses, a Petrobrás ainda não conseguiu fazer licitação, os tubos estão lá no local, as clareiras já foram abertas pelo Exército, mas a obra não andou. Depois que o senhor saiu de lá, andou, mas depois parou.

Este é um assunto, e se o senhor vai cumprir com a sua promessa de ir lá dar solda que todos estão aguardando? O outro assunto é a BR-319, que ontem, felizmente, caiu a liminar que impedia esse assunto, e agora a gente espera que isso siga adiante, o que o senhor tem também a dizer sobre essa importante rodovia, não só para o Amazonas, mas que liga fisicamente dois Estados, Amazonas e Rondônia, ao resto do país também?

Presidente: Três coisas importantes sobre o Estado do Amazonas. Primeiro, a minha decisão, logo no começo do mandato, de prorrogar a Zona Franca de Manaus de 2013 para 2023. Isso possibilitou um incentivo extraordinário porque hoje a indústria de Manaus é a indústria que mais cresce no Brasil,
desenvolvendo aquela região, e tem gente que ainda é contra.

E só é contra quem não conhece Manaus e não conhece os benefícios daquelas indústrias, que estavam com pouco mais de 50 mil trabalhadores e hoje estão com mais de 100 mil trabalhadores.

Segundo, o Gasoduto Quari-Manaus. Todo mundo que ele será a mola propulsora para uma definitiva consolidação da industrialização do Estado do Amazonas. E a BR-319, que agora terminou a liminar - vamos ver se tem outra, porque liminar é o que não falta no Brasil - para a gente poder acertar entre o Ministério dos Transportes e o Ministério do Meio Ambiente, e fazermos isso.

O Gasoduto Quari-Manaus teve um problema, eu chamei o presidente da Petrobrás aqui, faz mais ou menos oito dias, junto com o ministro Silas, das Minas e Energia, junto com a ministra Dilma, ligamos para o governador, e a informação que eu tenho, tanto da Petrobras quanto do Ministro, é de que está tudo resolvido para a gente ir lá, falta marcar uma data para ir lá dar o ponto de solda, e eu quero ver se vou ainda este ano dar o ponto de solda.

Se este ano, por qualquer problema, não der, pode ficar certo que, no mais tardar em janeiro, estarem os lá dando o ponto de solda porque o Estado do Amazonas precisa desse gás. A região Norte do Brasil precisa desse gás.

Patrick Motta - Rede Amazônica: Presidente, rapidamente, por favor, o senhor disse que...

Presidente: Veja, caiu a liminar, tem uma divergência entre o Ministério dos Transportes e a ministra Marina, e na próxima semana estaremos em uma mesa aqui, junto com os dois para decidir fazer, porque o Ministro dos Transportes acha que é extremamente importante a estrada ligando Manaus a Porto Velho.

Luís Fara Monteiro: Vamos ouvir agora Klécio Santos, da Rádio Gaúcha.

Klécio Santos - Rádio Gaúcha: Presidente, na última entrevista o senhor disse que a Câmara está condenada a cassar José Dirceu. Essa afirmação não prejudica a defesa do seu ex-ministro, que se empenha, neste momento, em garimpar votos contra a cassação, entre os deputados? E eu queria que o senhor também comentasse como é que o senhor vê as denúncias envolvendo os seus familiares, filho e seu irmão?

Presidente: Eu não acredito que a minha denúncia tenha... que a minha fala tenha prejudicado o José Dirceu. Eu leio pelo menos seis jornais por dia, leio três revistas, ouço noticiário, e o que eu tenho visto são as pessoas condenarem, a priori, o José Dirceu.

Eu tenho visto as pessoas dizerem que o José Dirceu vai ter que ser punido, que não tem como ficar lá. E eu fico me perguntando qual o crime que José Dirceu cometeu? Porque, até agora, se você colocar todas as denúncias contra o José Dirceu em uma prensa, apertar, não vai sair uma gota, porque não tem.

Você viu que eu fiz a pergunta no Roda Viva a um jornalista "qual é a acusação contra o José Dirceu?" Ele não sabia. Até porque, quem o acusou, foi cassado, porque mentiu ao Congresso Nacional. Com relação à minha família, veja, a minha família não está livre de ser acusada, como nunca esteve livre a família de qualquer presidente da República. Agora, eu penso que vocês, como pessoas inteligentes, leram as matérias e devem ter chegado à conclusão de não existe nenhuma base para terem publicado e acusado pessoas sem nenhuma prova, sem nenhum cabimento, apenas porque, de vez em quando isso faz parte da política nacional.

Então, se alguém levanta uma dúvida contra um membro do meu governo, um membro da minha família, não basta levantar a dúvida, precisa provar para que ele pague tanto quanto qualquer brasileiro que cometa erro ter que pagar neste país.

Pergunta 11: Entrevista Coletiva do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a emissoras de rádio. Palácio do Planalto, 18 de novembro de 2005.

Luis Fara Monteiro: Santino Soares, da Rádio Liberal do Pará.

Santino Soares - Rádio Liberal: Presidente, quando o senhor citou as obras que o governo está fazendo no Nordeste, eu, aqui do Norte da Amazônia fiquei com uma inveja, um dor de cotovelo. Eu queria perguntar ao senhor: esta obra da 319 não é concorrente da BR-163? Fazer as duas obras, faz a do Amazonas, mas não completa a do Estado do Pará.

E o Fundo de Desenvolvimento da Amazônia tem, para este ano, R$ 500 milhões que ainda não foram usado, tem R$ 600 milhões para o ano de 2006. Esse dinheiro não poderia ser usado para essas obras de infra-estrutura no Estado do Pará?

Presidente: Deixa eu lhe dizer uma coisa, meu querido Santino, o problema não é de dinheiro no Pará. Eu acabei de dizer o seguinte: a questão da eclusa, o dinheiro estava no PPI, o dinheiro estava colocado no PPI. Teve um problema por conta da empresa ter aumentado o preço de R$ 400 para R$ 600 milhões.

E eu me dei conta disso no debate que houve no Congresso Nacional, quando a senadora Ana Júlia e o senador Flecha Ribeiro perguntaram ao Palocci. Na próxima semana nós vamos tentar resolver esse problema. Segundo, as duas estradas não são incompatíveis, porque a região Norte do país... seria importante que o Brasil inteiro conhecesse a dimensão do que nós estamos falando, para saber que qualquer estrada que a gente fizer naquela região, sempre vai precisar de mais uma. E, sobretudo, no Pará, que é um Estado que tem crescido muito.

Eu vou lhe dar um dado: eu estive, há uns dez dias, com o Presidente da Vale do Rio Doce. Ele tem dez projetos para que eu vá ao Estado do Pará fazer o lançamento do projeto, tal a quantidade de riqueza que tem aquele Estado.

E nós queremos combinar, não apenas o Estado do Pará, enquanto o Estado exportador de matéria-prima, mas nós queremos trabalhar para que o Pará se transforme num Estado exportador de produtos com mais valor agregado.

Ajudar a industrializar o Estado, ajudar para que a reforma agrária se dê da forma mais pacífica lá, porque o Pará é um Estado de muita importância dentro do território na cional e muito importante para o Brasil, sobretudo pela quantidade de riqueza que tem e, sobretudo, porque só não gosta do Pará quem não conhece o povo do Pará. É um povo extraordinário.

Luis Fara Monteiro: Falamos ao vivo do Palácio do Planalto com a entrevista coletiva do presidente Lula às emissoras de rádio. Sandes Júnior, da Rádio Terra FM de Goiânia e da Rádio 730 AM de Goiás.

Sandes Júnior - Rádio Terra FM: Bom, eu só queria agradecer aos jornalistas Altair, da 730; o Ivan Mendonça e o Jarbas de dois jornais de Goiânia, o Popular e Dário da Manhã; e o Carlinhos, da Terra, que colaboraram com as perguntas, mas não vai dar tempo de fazer todas.

Presidente, eu vou colaborar com o senhor no sentido do senhor dar uma resposta bem clara ao que saiu já, on line, para todo o Brasil. O senhor falou que gostava do debate. E num determinado momento o senhor disse, ao em vez de falar: "eu vou para o debate, eu vou para a disputa". Aí está todo mundo já anunciado que o senhor vai ser candidato à reeleição.

O senhor quis falar: eu vou para o debate. E disse: eu vou para a disputa. Afinal, o senhor vai para o debate, vai para a disputa ou vai para os dois?

Presidente: Sandes, a minha convicção era que eu tinha dito: "se for para a disputa". A minha convicção numa pergunta do Mário Kertész. Essa foi a minha convicção. Se ao em vez de dizer, "se for para a disputa", eu disse "eu vou para a disputa", eu cometi um lapso.

Sandes Júnior - Rádio Terra FM: Mas foi sem querer.

Presidente: Foi sem querer, porque eu poderia dizer ontem que eu sou candidato, antes de ontem. Eu não vou dizer por quê? Porque não decidi se sou candidato. Apenas isso. Não decidi. Não tenho pressa de decidir.

E vou repetir: se eu for para a disputa, vou para a disputa com a certeza de que o debate, da nossa parte, será no mais elevado nível, como sempre fizemos quando disputamos eleições. Mas eu quero te agradecer pela pergunta, se alguém que ouviu entendeu eu dizer: "eu vou para a disputa", eu quero dizer que não foi isso que eu quis dizer. Eu quis dizer: se eu fosse para a disputa, porque não tenho nenhum interesse em decidir isso agora.

Sandes Júnior - Rádio Terra FM: Agora a pergunta é a seguinte: o metrô das médias cidades como Goiânia. Qual é o plano do seu governo para o financiamento desses metrôs que estão todos já prontos, elaborados, só falta o recurso do governo federal?

Presidente: Uma coisa grave no Brasil. Nós não podemos ficar prometendo os metrôs sem ter dinheiro para construir metrô. tem muita cidade querendo metrô, e nós temos prioridade com quatro metrôs que já estão há muito tempo com buracos feitos nas capitais, causando transtornos enormes em Salvador, em Recife, em Fortaleza e em Belo Horizonte.

Com esses metrôs nós assumimos o compromisso de passar dinheiro e eu vou dar um exemplo: para Salvador são R$ 296 milhões, e R$ 100 milhões ainda este ano. A Medida Provisória já foi para o Congresso Nacional. Fortaleza, 374 milhões, Recife nós estamos negociando ainda, não foi definido o acordo, e Belo Horizonte foi o primeiro que nós acordamos porque é preciso que os governos dos Estados assumam, junto com os prefeitos, a administração do metrô, porque não tem sentido o governo federal ficar administrando metrô nas capitais.

Eu estou indo a Salvador logo, logo, participar de uma grande manifestação junto com o Prefeito pela retomada das obras do metrô, estarei indo a Fortaleza, vou a Belo Horizonte e, se Deus quiser, vou a Recife.

Quando estes estiverem prontos, Sandes, aí nós temos que pegar outras capitais. Eu sei que Goiânia é uma cidade que está na fila e fica mais fácil fazer o metrô enquanto ela está do tamanho que está, porque se deixar passar muitos e muitos anos e ela crescer muito, vai ficar muito mais caro fazer o metrô, mas eu, particularmente, não aconselho começar outro antes que a gente termine esses que já estão em andamento porque estão causando transtornos enormes nessas quatro capitais que eu citei agora, Sandes.

Luís Fara Monteiro: Quinze para as dez da manhã, vamos ouvir Mário Kertész, da Rádio Metrópole da Bahia. Mário.

Mário Kertész - Rádio Metrópole da Bahia: Presidente, continuando na política aí, que o senhor gosta do debate, é bom, dr. Freud até pode explicar esse lapso aí do senhor. Eu acredito que o senhor vai ser candidato mesmo porque não vejo nenhuma outra pessoa em condições, no PT, de disputar essa eleição, não sei.

O Presidente que tem já a sua base bem sólida. Mas o que eu queria saber do senhor é o seguinte: eu me lembro que em uma determinada época, no Rio de Janeiro, tinha uma disputa muito grande para o governo do Estado entre Sandra e Moreira Franco, tinha até uma publicidade, até muita gente dizia: nem Sandra nem Miro, vote em Moreira Franco do Brizola.

Em Salvador, na última eleição, também o PT chegou de um lado, PFL de outro, apareceu um azarão e ganhou a prefeitura. Então a pergunta é a seguinte: entre a disputa mais séria que será entre o PT e o PSDB, o senhor não tem medo que surja um azarão aí correndo por fora e ganhe a eleição não?

Presidente: Uma pessoa que ganha nunca será azarão, e nunca 1989 como exemplo, Mário. Em 1989 não estava prevista, em nenhum artigo de nenhum grande cientista político brasileiro, a possibilidade de eu ir para o segundo turno, porque disputei as eleições contra Ulysses Guimarães, contra Brizola, contra Aureliano Chaves, contra Mário Covas, todos grandes personalidades.

Quem foi para o segundo turno? Eu e o Collor, ou seja, duas figuras que não estavam contabilizadas com perspectiva. É plenamente possível que o povo diga: "olha, eu não quero fulano, eu não quero beltrano e vou escolher um novo".

Quer que eu fale como um cidadão brasileiro? Eu peço a Deus que o povo escolha sempre o melhor, que possa fazer mais por eles. Eu estou convencido hoje, Mário, de que as coisas no Brasil estão andando e eu queria chamar a atenção de vocês para o seguinte: mesmo quando vocês estiverem criticando o governo, e eu acho que a crítica é saudável, analisem o que está acontecendo no Brasil, do ponto de vista da geração de empregos, do ponto de vista de políticas sociais com a transferência de renda, através do Bolsa Família, com a política educacional brasileira.

O ProUni, que foi uma criação do ministro Tarso Genro, é uma revolução neste país. Na primeira inscrição nós colocamos 112 mil jovens a mais na universidade, o que não estava previsto, gente da periferia, e com uma coisa agravante: eu tenho informações, hoje, que a meninada que está na universidade, pelo ProUni, está se transformando nos melhores alunos.

Então, nós estamos com estabilidade econômica, com geração de emprego e com transferência de renda, através do Bolsa Família, com política social. Eu devo ir a Porto Alegre, devo ir a outras capitais lançar o ProJovem, que é outra revolução na educação. São 200 mil jovens da periferia inscritos, em parceria com os prefeitos.

O prefeito Fogaça já me convidou para ir lá, o ministro Dulci também. Nós estamos pagando um salário, penso, de R$120 reais, estamos pagando uma ajuda para que esse jovem de 17 a 24 anos que tinha deixado de estudar volte a estudar, receba uma ajuda e faça um trabalho comunitário.

Ontem, eu recebi uma informação de que os professores, na sala de aula, estão chorando e, em Pernambuco, o melhor aluno é um preso que sai para estudar e volta para a cadeia, está sendo o melhor aluno de todos que estão fazendo o ProJovem. Isso demonstra o quê? Que nós estamos criando oportunidade para algumas pessoas, ainda não para todos como eu gostaria de criar, para os 186 milhões mas estamos criando, e quando as pessoas têm oportunidade elas se agarram e vão em frente.

Eu vou repetir, se eu tiver que disputar as eleições outra vez, eu tenho material de sobra para mostrar a diferença do Brasil de 2006 para o Brasil de 2002, para o Brasil de 2000 e tantos anos que a gente queira comparar.

Estou muito tranqüilo em relação a isso. A agricultura familiar - eu sei que o coordenador aqui está querendo que eu acabe logo - mas a agricultura familiar, os meus companheiros gaúchos sabem que era só do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Quando o governo anunciava o Pronaf, era só para Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que pegavam 80% dos recursos porque eram os Estados mais organizados, onde a agricultura familiar estava mais organizada.

Nós conseguimos sair de uma liberação de 2 bilhões e 400 milhões de dólares, em 2003, para 6 bilhões e 200 milhões, em 2005. E, para a safra de 2005/2006, estamos disponibilizando 9 bilhões de reais. Estados do Nordeste brasileiro que tinham dois ou três mil agricultores pegando o
Pronaf, hoje têm 100 mil, 150 mil, 80 mil, ou seja, nós, na verdade, elevamos isso muito e vamos chegar, se Deus ajudar, a quase dois milhões de contratos nesta safra que está terminando agora. Essa é uma revolução na agricultura familiar que precisava, porque gera posto de trabalho, gera manutenção da pessoa na sua cidade e melhora a qualidade dos produtos.

É por isso que nós vamos fazer o jogo, qualquer que seja o candidato dos partidos que me apóiam, do PT, se for de outro partido político, nós temos instrumentos para fazer uma campanha e debater com os nossos adversários.

Luís Fara Monteiro: Falamos ao vivo do Palácio do Planalto, nesta entrevista coletiva do presidente Lula a emissoras de rádio. Romualdo de Souza, da Rádio Jornal do Comércio.

Jornalista Romualdo de Souza: Presidente Lula, a deputada Zulaiê Cobra disse que o senhor é um bandidão. Eu pergunto: que tipo de cobra é a deputada? E o líder Artur Virgílio disse que era capaz de dar uma surra no senhor. O senhor teria coragem de enfrentá-lo, uma vez que ele é lutador de taekwondo, Presidente? Ou jiu-jitsu?

Presidente: Eu demorei muito para receber o diploma de Presidente da República. Foram três derrotas, muito sacrifício para chegar e, quando a gente pega aquele diploma, é preciso que as pessoas tenham a dimensão de que aquele diploma vem carregado de uma responsabilidade, porque vem para as tuas costas a responsabilidade de cuidar de 186 milhões de seres humanos e isso não me permite fazer política rasteira, baixar o nível do comportamento de um presidente da República.

Lamentavelmente, no Brasil... Lamentavelmente, não. No Brasil, nós temos imunidade total para parlamentares que chega a levar à impunidade. Qualquer cidadão, de qualquer Estado de vocês, pode processar o presidente da República. O presidente da República é acusado e não pode processar um deputado porque ele tem imunidade.

Então, eu não posso responder a esse baixo nível da política nacional. Cada um será julgado por aquilo que fez e por aquilo que falou. Aqueles que exageraram, o povo irá julgá-los. Portanto, eu peço desculpas a você de não entrar no detalhe das provocações porque quando as pessoas baixam o nível é porque as pessoas estão ficando desesperadas.

Luís Fara Monteiro: Nove horas e cinqüenta e três minutos. Pergunta de Fábio Marçal, da Rádio Guaíba.

Fábio Maçal - Rádio Guaíba: Presidente, o Sandes Júnior que acabou de derrubar o lead, virou o líder governista da entrevista, ele já é da sua base, virou o líder governista, mas tudo bem. Mas, Presidente, muitos ouvintes me ligam afirmando que nos postos de saúde faltam medicamentos, o governo já gastou mais de R$ 1 bilhão em viagens e diárias com seus funcionários. Muitas viagens não poderiam ser evitadas em função do avanço das comunicações?

E por que o governo não cria um banco de milhagens que favoreceriam o governo e não o funcionário viajante como ocorre hoje? E o senhor vai inaugurar em seu governo a duplicação da BR 101?

Presidente: É bem possível que tenha exagero em viagens. Agora, determinadas pessoas fazem críticas às viagens imaginando que o governo deva, junto com o seu grupo de assessores, ficar trancafiado dentro do Ministério, num país de 8 milhões e meio de quilômetros quadrados e num país que tem uma relação internacional e uma importância muito forte.

Se nós temos problemas na saúde não é por causa das viagens, deve ser outro problema, porque nós fazemos transferência de recursos para prefeitos e para os Estados. Então, é preciso saber se o dinheiro que está sendo transferido está sendo aplicado corretamente na compra dos remédios, na compra de equipamentos, porque o orçamento do Ministério da Saúde é um orçamento, eu diria, sozinho, ele é metade do orçamento de todos os outros ministros. Portanto, o problema não é da falta de dinheiro.

De vez em quando eu vejo na televisão: está faltando remédio, está faltando isso. Num país desse tamanho, com uma quantidade de quase seis mil prefeituras, 27 governadores, é bem possível que em alguma região as pessoas cometam erros, tardaram nas compras, mas eu posso te dizer que dinheiro nós temos no Ministério da Saúde e eu espero que a gente possa entender, de uma vez por todas, que o que nós estamos fazendo na área da saúde, sobretudo com médico de família, a quantidade de hospitais que estamos reformando no Brasil inteiro, sobretudo na cidade de Porto Alegre, a política de saúde bucal que estamos fazendo no Brasil...

Eu quero chegar no dia 31 de dezembro de 2006 inaugurando 400 centros de saúde bucal, em que as pessoas vão ser atendidas por telefone, vão fazer tratamento de canal, vão fazer ortodontia, que hoje é só coisa de gente chique, só gente chique é que pode pagar um dentista, colocar aqueles negocinhos na boca. Pobre, agora, vai ter direito de colocar, pobre não, qualquer um pode colocar; o rico se quiser, pode ir também, não é só para pobre.

O trabalho é para ajudar aqueles que não podem pagar um dentista, mas se tiver... se o Fábio, da Rádio Guaíba quiser ir, pode ir, se o Mário Kertész quiser ir... Klécio, se você quiser tratar o dente, pode ir lá no centro de saúde bucal e ainda vai fazer tratamento de canal, e vai fazer prótese de primeira qualidade.

Não é aquela prótese que, normalmente, em época de eleição em alguns Estados, o político leva em uma cesta e bota qualquer uma na boca do cidadão. Às vezes não cabe, mas fica na boca, às vezes é muito larga.

Não, agora ele vai ter um protético que vai tratá-lo com respeito. É uma revolução e, como eu sou nordestino, eu falo muito do Nordeste porque é no Nordeste que a gente presencia mais essas coisas. Hoje, já na periferia dos grandes centros, a gente presencia jovens de 17 anos, 18 anos, 20 anos sem dente na boca. As pessoas não riem, de vergonha.

Então, nós estamos recuperando a cidadania desses milhões de brasileiros. São quatrocentos centros de saúde bucal, cada centro tratando de 500 mil pessoas, num ciclo de 500 mil pessoas, e essas pessoas vão ser atendidas por telefone, com horário marcado, coisa de primeiro mundo, para acabar com essa mania de que pobre tem que entrar na fila para conquistar qualquer coisa.

Fábio Maçal - Rádio Guaíba: E inaugura a BR-101?

Presidente: Eu penso que está muito adiantada. O nosso compromisso é trabalhar aquela obra com uma pressa muito grande. Por que? Porque ela está no eixo central do Mercosul. E não apenas o transporte de carga, mas o transporte de gente, ou seja, nós queremos muitos argentinos e muitos uruguaios vindo passar férias em Torres, vindo passar férias em Santa Catarina, vindo passar férias no Brasil, e queremos que os brasileiros também vão passar férias lá. Tem muitos acidentes naquela estrada.

Você está lembrado que, em 2002, foram lá, fizeram a ordem de serviço, entregaram o documento para um trabalhador, eu fui três anos depois, recebi do trabalhador a ordem de serviço que ele recebeu porque a obra não tinha começado, e começamos. Começamos, ela está a todo vapor, eu já fui lá, devo outra vez visitar a obra em Santa Catarina ou Rio Grande do Sul, porque essa obra não é uma paixão gaúcha e catarinense, é uma paixão nacional, porque ela é um grande corredor de exportação de turistas, ou melhor, de trânsito de turistas e de exportação das nossas riquezas.

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