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11/05/2006
-
21h54
da Folha de S.Paulo
No ranking de liberdade de imprensa feito pelos Repórteres Sem Fronteira, ONG baseada na França, o primeiro país latino-americano, El Salvador, aparece apenas em 28º lugar. A Costa Rica surge em seguida, em 41º. A Argentina está em 59º. O Brasil, em 63º. A listagem foi mencionada nesta quinta por Julio Blanck, editor-chefe do jornal argentino "Clarín", na terceira e penúltima mesa do Fórum Folha de Jornalismo, um dos eventos que marcam os 85 anos de existência do jornal.
O debate, com o tema "Jornalismo e Democracia", foi mediado por Renata Lo Prete, editora do "Painel", da Folha. Participaram ainda Jaime Abello Banfi, diretor-executivo da Fundação Novo Jornalismo Ibero-americano, da Colômbia, e Jennifer Moyer, diretora de operações do serviço on-line do "Washington Post".
Julio Blanck citou ainda um levantamento de uma ONG originariamente americana, a Freedom House, segundo o qual só 17% da população mundial vive em países com plena liberdade de informação. Há 43% em regimes políticos nos quais essa liberdade inexiste e 40% estão numa "zona cinzenta", em que se enquadram basicamente todos os países latino-americanos.
"A perda da qualidade da democracia se traduz também na perda de qualidade do jornalismo", afirmou.
Internet
Jennifer Moyer discorreu sobre as mudanças que a internet vem trazendo na interatividade e na relação entre a imprensa e a cidadania. Citou dois exemplos do "Washington Post".
Há em primeiro lugar, no site, um banco de dados de votações no Congresso. Por meio dele, o cidadão pode saber como seu deputado votou desde 1991 e ainda ser avisado, por e-mail, de um voto que acaba de ocorrer em plenário. Há a seguir, nas páginas do noticiário on-line, uma remissão para blogs que estejam discutindo o mesmo assunto abordado.
Apesar de entusiasmada com o alcance dessas ferramentas, ela não acredita que, "nos próximos 50 ou 100 anos", a versão on-line venha a substituir a versão impressa de seu jornal.
O colombiano Jaime Abello Banfi citou dois aspectos das mudanças permitidas pela internet no jornalismo de qualidade.
De um lado, diz ele, o leitor se tornou mais desconfiado, com acesso a um número maior de fontes e, por isso, menos tolerante com erros e partidarismos. Mas, de outro lado, os grupos econômicos e de interesse deixaram de ser apenas fontes de informação para produzir e divulgar informações em seus sites.
Banfi citou os políticos corruptos e os grupos de crime organizado como ameaças ao jornalismo. Lembrou o caso de ex-presidentes presos ou afastados por corrupção no continente (Costa Rica, Argentina, México e Peru) e as tentativas, como na Venezuela, de enquadrar politicamente a mídia.
Reportagem
Na segunda mesa desta quinta, que encerrou o evento, o tema abordado foi "Os Limites da Reportagem", com mediação do colunista da Folha Fernando Rodrigues.
Robert Fisk, premiado jornalista e correspondente do jornal britânico "The Independent" em Beirute, ressaltou a "falta de perspectiva histórica" em reportagens internacionais. Como exemplo, citou o modo como jornalistas europeus e norte-americanos geralmente tratam o conflito entre israelenses e palestinos.
"Não se fala em territórios palestinos ocupados, mas em 'territórios em disputa'. Não se fala em colônias judaicas, mas em 'assentamentos'. Se uma criança joga uma pedra contra um soldado porque sua terra foi ocupada, colonizada, é possível entender. Mas se ela atira uma pedra por causa de uma 'disputa', que poderia ser resolvida em um tribunal, isso transforma os palestinos, genericamente, em violentos", disse.
Maria Teresa Ronderos, ex-editora-geral da revista colombiana "Semana" e atualmente assessora da mesma publicação, dividiu em externos e internos os "limites" para a reportagem.
Entre os externos, Ronderos citou "os poderosos, que sempre querem ocultar a verdade". Entre os internos, "os juízos demasiado rápidos" que os jornalistas podem fazer em uma apuração e a "tendência de serem sempre levados por assuntos da conjuntura", deixando de lado temas menos populares, mas mais importantes.
Ricardo Uceda, diretor do Instituto Imprensa e Sociedade, do Peru, e ex-editor e repórter em várias publicações no país, também abordou a escolha de assuntos como uma das "principais limitações" do trabalho de reportagem.
"O problema fundamental é quando restringimos o conceito de notícia. Quando buscamos o mais chamativo, deixando o que temos de mais importante muitas vezes de lado", afirmou.
Debates na íntegra
Os vídeos dos quatro painéis do Fórum Folha de Jornalismo estarão disponíveis para serem assistidos a partir das 12h desta sexta no site da Folha Online. Os debates de quarta e de quinta, com duas horas de duração cada um, poderão ser vistos na íntegra.
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No ranking de liberdade de imprensa feito pelos Repórteres Sem Fronteira, ONG baseada na França, o primeiro país latino-americano, El Salvador, aparece apenas em 28º lugar. A Costa Rica surge em seguida, em 41º. A Argentina está em 59º. O Brasil, em 63º. A listagem foi mencionada nesta quinta por Julio Blanck, editor-chefe do jornal argentino "Clarín", na terceira e penúltima mesa do Fórum Folha de Jornalismo, um dos eventos que marcam os 85 anos de existência do jornal.
O debate, com o tema "Jornalismo e Democracia", foi mediado por Renata Lo Prete, editora do "Painel", da Folha. Participaram ainda Jaime Abello Banfi, diretor-executivo da Fundação Novo Jornalismo Ibero-americano, da Colômbia, e Jennifer Moyer, diretora de operações do serviço on-line do "Washington Post".
Julio Blanck citou ainda um levantamento de uma ONG originariamente americana, a Freedom House, segundo o qual só 17% da população mundial vive em países com plena liberdade de informação. Há 43% em regimes políticos nos quais essa liberdade inexiste e 40% estão numa "zona cinzenta", em que se enquadram basicamente todos os países latino-americanos.
Moacyr Lopes Jr/Folha Imagem |
Jaime Abello Banfi, da Fundação Novo Jornalismo Ibero-americano, Julio Blanck, do "Clarín", Renata Lo Prete, da Folha, e Jennifer Moyer, do on-line do "Washington Post" (à direita) |
"A perda da qualidade da democracia se traduz também na perda de qualidade do jornalismo", afirmou.
Internet
Jennifer Moyer discorreu sobre as mudanças que a internet vem trazendo na interatividade e na relação entre a imprensa e a cidadania. Citou dois exemplos do "Washington Post".
Há em primeiro lugar, no site, um banco de dados de votações no Congresso. Por meio dele, o cidadão pode saber como seu deputado votou desde 1991 e ainda ser avisado, por e-mail, de um voto que acaba de ocorrer em plenário. Há a seguir, nas páginas do noticiário on-line, uma remissão para blogs que estejam discutindo o mesmo assunto abordado.
Apesar de entusiasmada com o alcance dessas ferramentas, ela não acredita que, "nos próximos 50 ou 100 anos", a versão on-line venha a substituir a versão impressa de seu jornal.
O colombiano Jaime Abello Banfi citou dois aspectos das mudanças permitidas pela internet no jornalismo de qualidade.
De um lado, diz ele, o leitor se tornou mais desconfiado, com acesso a um número maior de fontes e, por isso, menos tolerante com erros e partidarismos. Mas, de outro lado, os grupos econômicos e de interesse deixaram de ser apenas fontes de informação para produzir e divulgar informações em seus sites.
Banfi citou os políticos corruptos e os grupos de crime organizado como ameaças ao jornalismo. Lembrou o caso de ex-presidentes presos ou afastados por corrupção no continente (Costa Rica, Argentina, México e Peru) e as tentativas, como na Venezuela, de enquadrar politicamente a mídia.
Reportagem
Na segunda mesa desta quinta, que encerrou o evento, o tema abordado foi "Os Limites da Reportagem", com mediação do colunista da Folha Fernando Rodrigues.
Robert Fisk, premiado jornalista e correspondente do jornal britânico "The Independent" em Beirute, ressaltou a "falta de perspectiva histórica" em reportagens internacionais. Como exemplo, citou o modo como jornalistas europeus e norte-americanos geralmente tratam o conflito entre israelenses e palestinos.
"Não se fala em territórios palestinos ocupados, mas em 'territórios em disputa'. Não se fala em colônias judaicas, mas em 'assentamentos'. Se uma criança joga uma pedra contra um soldado porque sua terra foi ocupada, colonizada, é possível entender. Mas se ela atira uma pedra por causa de uma 'disputa', que poderia ser resolvida em um tribunal, isso transforma os palestinos, genericamente, em violentos", disse.
Maria Teresa Ronderos, ex-editora-geral da revista colombiana "Semana" e atualmente assessora da mesma publicação, dividiu em externos e internos os "limites" para a reportagem.
Entre os externos, Ronderos citou "os poderosos, que sempre querem ocultar a verdade". Entre os internos, "os juízos demasiado rápidos" que os jornalistas podem fazer em uma apuração e a "tendência de serem sempre levados por assuntos da conjuntura", deixando de lado temas menos populares, mas mais importantes.
Ricardo Uceda, diretor do Instituto Imprensa e Sociedade, do Peru, e ex-editor e repórter em várias publicações no país, também abordou a escolha de assuntos como uma das "principais limitações" do trabalho de reportagem.
"O problema fundamental é quando restringimos o conceito de notícia. Quando buscamos o mais chamativo, deixando o que temos de mais importante muitas vezes de lado", afirmou.
Debates na íntegra
Os vídeos dos quatro painéis do Fórum Folha de Jornalismo estarão disponíveis para serem assistidos a partir das 12h desta sexta no site da Folha Online. Os debates de quarta e de quinta, com duas horas de duração cada um, poderão ser vistos na íntegra.
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