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09/02/2007
-
03h30
KENNEDY ALENCAR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
Enviados especiais da Folha de S.Paulo a Salvador
Governador da Bahia, Jaques Wagner diz que "não é hora de guerra interna" no PT pelo controle do partido, mas de "unidade" para apoiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Julga "oportunista" a crítica de setores da legenda à política econômica, especialmente ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, porque a economia foi um dos ativos eleitorais do partido nas eleições de 2006.
"É maluquice. É fazer o jogo da oposição", disse. Rebate a crítica de aliados de que o PT não divide poder e de que isso seria ruim para a democracia, numa referência ao ataque que o ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PC do B-SP) fez ao petista Arlindo Chinaglia (SP) na disputa pela presidência da Casa. "É um argumento desleal com a democracia. O PT está onde está porque conquistou essa posição nas urnas."
Amigo do ex-ministro da Casa Civil, Wagner acha que José Dirceu tem o direito de lutar por sua anistia, mas avalia que o PT não deve encampar a iniciativa. Critica o sistema de tendências, dizendo que ele está esgotado, como a hegemonia do Campo Majoritário, força que dominou o partido nos últimos anos e que ainda é influenciada pelo ex-ministro da Casa Civil.
Diz que seu nome "é lembrado" para a Presidência, entre outros motivos, devido à vitória "surpresa" na Bahia e à amizade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que terá "peso importante" na definição do candidato. Cita outros petistas e aliados como presidenciáveis. Defende aliança com o PMDB para as eleições de 2008 e 2010. Afirma ser "absurda" a hipótese de Lula tentar aprovar mudança na Constituição para se candidatar em 2010.
Seguem os principais trechos da entrevista, concedida ontem à noite:
Folha - Apesar de convidado, por que o sr. não assinou a tese cuja autoria é atribuída ao ministro Tarso Genro?
Jaques Wagner - Discordo da tese da refundação, da reconstrução, porque o PT não foi destruído. O PT passou por uma crise. O povo brasileiro sofreu com os erros do PT, mas reconheceu os seus valores, e disse ao partido para seguir em frente, dando trabalho aos conservadores que sempre prejudicaram os mais pobres.
Folha - O PT não deve fazer uma auto-crítica?
Wagner - Para a maior parte da militância do PT, os valores da nossa fundação estão mantidos. O combate à corrupção, o respeito ao dinheiro público, a prioridade ao social, aqueles que se consideram socialistas darem prioridade ao socialismo.
Folha - A hegemonia do Campo Majoritário se esgotou?
Wagner - Sim, mas não devemos substituir por outra hegemonia que defina todas as decisões do partido. Não tem de ser "unidos para sempre".
Folha - Esgotou-se esse modelo de tendências do PT?
Wagner - Acho que sim. Apesar de reconhecer o direito de filiação a uma tendência, é um conceito que não funciona mais. As teses para o 3º Congresso estão sendo assinadas por mais de uma corrente. A responsabilidade [erro] dos que tinham maioria, como o Campo Majoritário, foi deixar o partido parar de fazer confronto de idéias e passar a fazer confrontos de máquinas, de aparelhos, de exércitos. Nas reuniões, o importante não era mais ouvir o argumento, mas quem argumentava.
As tendências podem existir, mas não podem engessar o pensamento. Virou briga de máquina, de levantar crachá. Até posso pensar como o outro, mas como minha tendência já decidiu que voto assim, sigo a tendência. É um erro.
Folha - Esse embate originou a crise?
Wagner - Como se sustenta um exército? Alimentando-o, arrumando infra-estrutura. Aí a disputa fica voraz, e, se o problema é ter meu exército bem alimentado, eu vou buscar essa estrutura de qualquer jeito. Aí dá no que deu.
Folha - Uma das teses propõe que Lula possa convocar plebiscitos sem autorização do Congresso para assuntos importantes. Há quem veja uma tentação chavista e uma abertura para tentar aprovar a possibilidade de re-reeleição em 2010?
Wagner - Não adianta querer colocar no presidente uma roupa que não lhe cabe. É absurda essa tese. Estive ao lado dele na crise inteira. Cansei de ouvir gente propondo absurdos, como meta a mão no Orçamento e gaste em determinadas áreas. Conversando com autoridades americanas hoje [ontem], vi um reconhecimento de que ele [o presidente Lula] é um ponto de equilíbrio na América Latina, é centrado. Quanto à convocação de plebiscito, obedecidas as regras, tudo bem. Só não dá para plebiscitar e referendar todos os tipos de assunto, porque há custos e vivemos numa democracia representativa.
Folha - O sr. é favorável a que o PT encampe o projeto de anistia de José Dirceu?
Wagner - O ex-ministro, como qualquer cidadão numa democracia, tem toda a legitimidade e direito de provar a sua inocência. Sofreu até agora um julgamento político e aguarda a manifestação da Justiça. Não acho que o PT deva encampar, e imagino que não seja a pretensão do Zé.
Folha - A aliança preferencial do PT para 2008 e 2010 deve ser com o PMDB?
Wagner - Preferencial não, porque devemos procurar alianças com outros partidos. Evidentemente, o peso do PMDB dá uma base muita sólida para uma aliança para disputar eleição e para governar. É uma aliança fundamental, que pratiquei na Bahia e que defendo que seja feita institucionalmente nas próximas eleições.
Folha - Peemedebistas e petistas dizem que o sr. pode ser candidato a presidente em 2010 por essa aliança?
Wagner - O jogo não começou. Hoje, tenho que decidir entre o que é bom ou ruim para a Bahia. Não vou colocar outra variável. Não é jogo de palavras, minha preocupação com 2010 é zero. Minha obrigação agora é governar bem a Bahia.
Folha - Seu nome está entre os presidenciáveis do PT.
Wagner - Meu nome surgiu porque tive uma vitória expressiva, uma surpresa, derrotando um bastião conservador. Não fui atingido pelas mazelas da crise [do PT]. Todo mundo sabe da minha relação [de amizade] com o presidente Lula. É natural que eu seja lembrado. Lula terá um peso importante, não absoluto. É prematuro tratar disso, até porque há outros nome no PT e entre os aliados.
Folha - Quais?
Wagner - Marta Suplicy, Marcelo Déda [governador de Sergipe], o ministro Patrus Ananias, que é de Minas, um Estado importante. O prefeito Fernando Pimentel [Belo Horizonte]. Há nomes do PSB, como o governador Eduardo Campos (PE) e o Ciro Gomes (deputado federal). Posso lembrar de um nome do PMDB, como Sérgio Cabral (governador do Rio). O cardápio é extenso.
Folha - Na reforma ministerial, o PT deve ceder espaço aos aliados?
Wagner - É assunto do presidente, que tem a sua cota pessoal e que fará a composição partidária. Se quiser usar um critério, pode levar em conta o apoio das bancadas no Congresso. Quem sustenta a aliança participa do governo, como aqui na Bahia.
Folha - Na disputa com o PT pela presidência da Câmara, Aldo Rebelo criticou a resistência do PT em dividir poder, disse que sua derrota para um petista significaria concentração de poder e que isso seria ruim para a democracia.
Wagner - Me incomoda essa conversa de que o PT quer tudo, usurpa tudo. É um argumento desleal com a democracia. O PT está onde está porque conquistou essa posição dentro da democracia. Se a gente tivesse ganhado na mão grande, corrompendo urna, essa crítica procederia. Mas não foi assim. Foi no voto da maioria da população.
Folha - O PT voltou a atacar a política econômica, criticando o câmbio e pedindo a cabeça do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O sr. concorda?
Wagner - É outro assunto do presidente. O que nós colhemos até agora na economia não descredencia a gestão que foi feita. Parece que apoiamos a política econômica na eleição por oportunismo. Ela foi uma das razões que deram a vitória ao governo Lula nas urnas. Está errado esse discurso do PT agora. É maluquice. É fazer o jogo da oposição.
Folha - As correntes do PT ameaçam romper a trégua que fizeram para disputar a eleição, começando uma nova guerra interna pelo controle do partido.
Wagner - Não é hora de guerra interna. Será um erro. A hora é de unidade e de apoio ao governo Lula. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deve ser a prioridade.
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"Não é hora de guerra interna por controle do PT", diz Jaques Wagner
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JOSÉ ALBERTO BOMBIG
Enviados especiais da Folha de S.Paulo a Salvador
Governador da Bahia, Jaques Wagner diz que "não é hora de guerra interna" no PT pelo controle do partido, mas de "unidade" para apoiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Julga "oportunista" a crítica de setores da legenda à política econômica, especialmente ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, porque a economia foi um dos ativos eleitorais do partido nas eleições de 2006.
"É maluquice. É fazer o jogo da oposição", disse. Rebate a crítica de aliados de que o PT não divide poder e de que isso seria ruim para a democracia, numa referência ao ataque que o ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PC do B-SP) fez ao petista Arlindo Chinaglia (SP) na disputa pela presidência da Casa. "É um argumento desleal com a democracia. O PT está onde está porque conquistou essa posição nas urnas."
Amigo do ex-ministro da Casa Civil, Wagner acha que José Dirceu tem o direito de lutar por sua anistia, mas avalia que o PT não deve encampar a iniciativa. Critica o sistema de tendências, dizendo que ele está esgotado, como a hegemonia do Campo Majoritário, força que dominou o partido nos últimos anos e que ainda é influenciada pelo ex-ministro da Casa Civil.
Diz que seu nome "é lembrado" para a Presidência, entre outros motivos, devido à vitória "surpresa" na Bahia e à amizade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que terá "peso importante" na definição do candidato. Cita outros petistas e aliados como presidenciáveis. Defende aliança com o PMDB para as eleições de 2008 e 2010. Afirma ser "absurda" a hipótese de Lula tentar aprovar mudança na Constituição para se candidatar em 2010.
Seguem os principais trechos da entrevista, concedida ontem à noite:
Folha - Apesar de convidado, por que o sr. não assinou a tese cuja autoria é atribuída ao ministro Tarso Genro?
Jaques Wagner - Discordo da tese da refundação, da reconstrução, porque o PT não foi destruído. O PT passou por uma crise. O povo brasileiro sofreu com os erros do PT, mas reconheceu os seus valores, e disse ao partido para seguir em frente, dando trabalho aos conservadores que sempre prejudicaram os mais pobres.
Folha - O PT não deve fazer uma auto-crítica?
Wagner - Para a maior parte da militância do PT, os valores da nossa fundação estão mantidos. O combate à corrupção, o respeito ao dinheiro público, a prioridade ao social, aqueles que se consideram socialistas darem prioridade ao socialismo.
Folha - A hegemonia do Campo Majoritário se esgotou?
Wagner - Sim, mas não devemos substituir por outra hegemonia que defina todas as decisões do partido. Não tem de ser "unidos para sempre".
Folha - Esgotou-se esse modelo de tendências do PT?
Wagner - Acho que sim. Apesar de reconhecer o direito de filiação a uma tendência, é um conceito que não funciona mais. As teses para o 3º Congresso estão sendo assinadas por mais de uma corrente. A responsabilidade [erro] dos que tinham maioria, como o Campo Majoritário, foi deixar o partido parar de fazer confronto de idéias e passar a fazer confrontos de máquinas, de aparelhos, de exércitos. Nas reuniões, o importante não era mais ouvir o argumento, mas quem argumentava.
As tendências podem existir, mas não podem engessar o pensamento. Virou briga de máquina, de levantar crachá. Até posso pensar como o outro, mas como minha tendência já decidiu que voto assim, sigo a tendência. É um erro.
Folha - Esse embate originou a crise?
Wagner - Como se sustenta um exército? Alimentando-o, arrumando infra-estrutura. Aí a disputa fica voraz, e, se o problema é ter meu exército bem alimentado, eu vou buscar essa estrutura de qualquer jeito. Aí dá no que deu.
Folha - Uma das teses propõe que Lula possa convocar plebiscitos sem autorização do Congresso para assuntos importantes. Há quem veja uma tentação chavista e uma abertura para tentar aprovar a possibilidade de re-reeleição em 2010?
Wagner - Não adianta querer colocar no presidente uma roupa que não lhe cabe. É absurda essa tese. Estive ao lado dele na crise inteira. Cansei de ouvir gente propondo absurdos, como meta a mão no Orçamento e gaste em determinadas áreas. Conversando com autoridades americanas hoje [ontem], vi um reconhecimento de que ele [o presidente Lula] é um ponto de equilíbrio na América Latina, é centrado. Quanto à convocação de plebiscito, obedecidas as regras, tudo bem. Só não dá para plebiscitar e referendar todos os tipos de assunto, porque há custos e vivemos numa democracia representativa.
Folha - O sr. é favorável a que o PT encampe o projeto de anistia de José Dirceu?
Wagner - O ex-ministro, como qualquer cidadão numa democracia, tem toda a legitimidade e direito de provar a sua inocência. Sofreu até agora um julgamento político e aguarda a manifestação da Justiça. Não acho que o PT deva encampar, e imagino que não seja a pretensão do Zé.
Folha - A aliança preferencial do PT para 2008 e 2010 deve ser com o PMDB?
Wagner - Preferencial não, porque devemos procurar alianças com outros partidos. Evidentemente, o peso do PMDB dá uma base muita sólida para uma aliança para disputar eleição e para governar. É uma aliança fundamental, que pratiquei na Bahia e que defendo que seja feita institucionalmente nas próximas eleições.
Folha - Peemedebistas e petistas dizem que o sr. pode ser candidato a presidente em 2010 por essa aliança?
Wagner - O jogo não começou. Hoje, tenho que decidir entre o que é bom ou ruim para a Bahia. Não vou colocar outra variável. Não é jogo de palavras, minha preocupação com 2010 é zero. Minha obrigação agora é governar bem a Bahia.
Folha - Seu nome está entre os presidenciáveis do PT.
Wagner - Meu nome surgiu porque tive uma vitória expressiva, uma surpresa, derrotando um bastião conservador. Não fui atingido pelas mazelas da crise [do PT]. Todo mundo sabe da minha relação [de amizade] com o presidente Lula. É natural que eu seja lembrado. Lula terá um peso importante, não absoluto. É prematuro tratar disso, até porque há outros nome no PT e entre os aliados.
Folha - Quais?
Wagner - Marta Suplicy, Marcelo Déda [governador de Sergipe], o ministro Patrus Ananias, que é de Minas, um Estado importante. O prefeito Fernando Pimentel [Belo Horizonte]. Há nomes do PSB, como o governador Eduardo Campos (PE) e o Ciro Gomes (deputado federal). Posso lembrar de um nome do PMDB, como Sérgio Cabral (governador do Rio). O cardápio é extenso.
Folha - Na reforma ministerial, o PT deve ceder espaço aos aliados?
Wagner - É assunto do presidente, que tem a sua cota pessoal e que fará a composição partidária. Se quiser usar um critério, pode levar em conta o apoio das bancadas no Congresso. Quem sustenta a aliança participa do governo, como aqui na Bahia.
Folha - Na disputa com o PT pela presidência da Câmara, Aldo Rebelo criticou a resistência do PT em dividir poder, disse que sua derrota para um petista significaria concentração de poder e que isso seria ruim para a democracia.
Wagner - Me incomoda essa conversa de que o PT quer tudo, usurpa tudo. É um argumento desleal com a democracia. O PT está onde está porque conquistou essa posição dentro da democracia. Se a gente tivesse ganhado na mão grande, corrompendo urna, essa crítica procederia. Mas não foi assim. Foi no voto da maioria da população.
Folha - O PT voltou a atacar a política econômica, criticando o câmbio e pedindo a cabeça do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O sr. concorda?
Wagner - É outro assunto do presidente. O que nós colhemos até agora na economia não descredencia a gestão que foi feita. Parece que apoiamos a política econômica na eleição por oportunismo. Ela foi uma das razões que deram a vitória ao governo Lula nas urnas. Está errado esse discurso do PT agora. É maluquice. É fazer o jogo da oposição.
Folha - As correntes do PT ameaçam romper a trégua que fizeram para disputar a eleição, começando uma nova guerra interna pelo controle do partido.
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