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22/11/2003 - 17h11

Arqueólogos escavam cemitério indígena em ruínas santistas

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LEONARDO MEDEIROS
da Folha Online

Para reconstruir a história do engenho São Jorge dos Erasmos, em Santos (Baixada Santista), pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da Unisantos (Universidade Católica de Santos) estão submetendo as lendas ao rigor da ciência.

Em trabalho arqueológico concluído em outubro, especialistas do MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia) da USP e do Instituto de Pesquisas em Arqueologia da Unisantos confirmaram o mito de que o terreno, onde se encontram as ruínas do engenho, também esconderia um cemitério indígena.

Divulgação
Escavações de cemitério indígena em Santos (SP)
De acordo com o arqueólogo José Luiz de Morais, vice-diretor do MAE e coordenador da pesquisa, a notícia da existência do cemitério era antiga. E, em 1957, antes da transferência do engenho à USP, o antigo proprietário teria ordenado a dois funcionários que escavassem o terreno para localizar o suposto cemitério sob a supervisão de um historiador local, Jaime Caldas. "Nós tínhamos notícias disso tudo. Mas não havia documentação", esclarece Morais.

Procurado pela equipe de arqueólogos, Jaime Caldas forneceu algumas indicações genéricas que facilitaram a localização do cemitério. Segundo Morais, foram escavados 14 m² do cemitério --um terço da área total estimada pelos pesquisadores.

Evidências

De acordo com o arqueólogo José Luis Morais, a escavação evidenciou características que permitem afirmar que os restos mortais encontrados são indígenas, como o enterramento dos corpos na direção norte-sul ou com leve desvio para nordeste.

"Esse padrão de enterramento lembra muito os sepultamentos indígenas pré-coloniais", esclarece Morais. Além disso, o arqueólogo ressalta a presença de dentes incisivos em "forma de pá", típica em populações de origem mongolóide.

O estado de degradação dos restos mortais não permitiu a exumação dos esqueletos. Entretanto, os pesquisadores coletaram amostras que passarão por testes de DNA e carbono 14 para confirmar a origem e a idade do material. Os primeiros resultados devem ser divulgados no início de 2004.

Especulações

Embora as evidências confirmem que a área escavada seja um cemitério indígena, os arqueólogos são cautelosos em elaborar novas afirmações. "À arqueologia competiu descobrir a evidência concreta do homem do engenho. Agora, as interpretações, o significado disso em sua real amplitude é um trabalho interdisciplinar", pontua José Luiz de Morais.

De acordo com o especialista, é possível fazer apenas algumas especulações sobre a presença dos índios no engenho. "Nós temos notícias de que as incursões bandeiristas trouxeram índios guaranis escravizados para o litoral", diz Morais. "Por outro lado, nós temos uma situação curiosa: índios escravos, mas com sepultamento condigno. Então, acredito que essa relação precisaria ser melhor estudada."

Os restos mortais encontrados mostram que os sepultamentos naquela área do engenho tiveram início no século 16 e continuaram por um longo período de tempo. Por esta razão, a escavação dos dois terços restantes do cemitério ainda pode trazer novos esclarecimentos.

Sambaquis

Além da escavação do cemitério indígena, a última etapa de pesquisa arqueológica nas ruínas também teve como objetivo confirmar se a construção do engenho, no século 16, teria destruído um sambaqui.

Sambaquis são registros pré-históricos indígenas encontrados, principalmente, na costa Sudeste brasileira e formados por amontoados de conchas de moluscos, peixes e crustáceos. Esses montes seriam restos de comida ou monumentos funerários, já que neles são comumente encontrados objetos indígenas e esqueletos humanos.

Boa parte dos sambaquis foram destruídos no período colonial, pois a queima das conchas produzia cal, utilizada em argamassas e edificações.

De acordo, com o arqueólogo José Luiz de Morais, os indícios encontrados no engenho dos Erasmos sugerem que, de fato, houve um sambaqui de encosta no local. "O material encontrado é bastante caótico", afirma Morais. "Mas o processamento de laboratório fez surgir evidências, ainda que pequenas, de moluscos típicos de sambaquis."

Os trabalhos arqueológicos nas ruínas do engenho dos Erasmos foram financiados pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo) e tiveram um custo estimado em R$ 120.000.

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