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02/05/2004 - 12h46

Animais desprezados, ratos ajudam a melhorar saúde humana

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LEONARDO MEDEIROS
da Folha Online

Ratos e camundongos costumam causar pânico entre as mulheres e atrair o desprezo do resto da humanidade. Porém, a raça humana deve a estes mamíferos grande parte dos avanços da medicina.

A grande utilização destes animais em laboratório está mais ligada a questões de praticidade e fisiologia do que à pouca simpatia pelos bichos.

Segundo Lilian Al-Chueyr Pereira Martins, professora do programa de estudos pós-graduados de História da Ciência da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, provavelmente o animal foi adotado como modelo experimental por também ser um mamífero e se reproduzir rapidamente.

"Os ratos têm gestações rápidas e muitos filhotes. Desta maneira, é possível observar o que acontece em várias gerações. Além disso, o custo do rato deve ser menor do que o de outros animais", considera Martins.

De acordo com a historiadora, um dos primeiros pesquisadores que utilizaram ratos para experimentos foi o franco-americano Charles Édouard Brown-Séquard (1817 - 1894). Estudioso do sistema endócrino e nervoso, ele usou os animais para tentar compreender a epilepsia.

Entre o fim do século 19 e início do 20, outro que realizou experiências com ratos foi o biólogo alemão August Weismann (1834 - 1914). O pesquisador cortou a cauda dos animais para verificar se era possível transmitir caracteres adquiridos para as gerações seguintes.

Fisiologia

Para o fisiologista Luiz Roberto Giorgetti de Britto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo), os ratos são mesmo muito utilizados em pesquisas devido à fisiologia semelhante à dos homens.

"O rato é um animal resistente, se reproduz facilmente e não requer muito trabalho para mantê-lo em laboratório", diz Britto.

Mas é preciso dizer que os ratos utilizados em pesquisas são diferentes dos encontrados em esgotos. Os de laboratório são criados em biotérios, sob condições estritamente controladas e normas estabelecidas mundialmente. Em geral, são produzidos de matrizes compradas de outros países.

De acordo com o especialista, uma das linhagens mais utilizadas é a de ratos Wistar, que tem um custo de cerca de R$ 4 cada.

Ética

Para aqueles que acham uma crueldade a pesquisa com animais, Britto esclarece que há normas éticas que regulamentam como os bichos devem ser tratados.

"Praticamente todas as universidades do Brasil têm comissões de ética para avaliar se os pesquisadores estão tomando os cuidados necessários não apenas para que a pesquisa tenha resultados confiáveis, mas também para que o animal seja tratado de forma digna, recebendo anestesia [para não sentir dor em nenhum momento] e alimento", afirma.

O procedimento está de acordo com a lei de Crimes Ambientais, que prevê punição a quem realizar "experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos".

Proteção aos animais

Para Isabel Cristina Nascimento, presidente da Suipa (Sociedade União Internacional Protetora dos Animais), estes recursos alternativos já existem.

"Se já é possível realizar tudo in vitro, para que vão furar os animais?", questiona.

Nascimento afirma ser contra qualquer tipo de pesquisa que utilize animais, não importando se são animais menores, como ratos, ou mais parecidos com os humanos, como os macacos. "Não se pode sacrificar um ser vivo para benefício de outro", declara.

Para os cientistas, entretanto, ainda não é seguro substituir os modelos animais por modelos de testes in vitro.

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