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02/05/2004
-
12h49
LEONARDO MEDEIROS
da Folha Online
Neste mês de abril, dois camundongos tiveram destaque na imprensa mundial. O primeiro foi Yoda, que completou quatro anos de vida --algo equivalente a 136 anos para um ser humano. Mas a vedete foi mesmo a fêmea Kaguya, criada sem ajuda de um pai, apenas com material genético de outras duas fêmeas.
Ratos e camundongos povoam os laboratórios de todo o mundo. Mas o tempo necessário para que um experimento com estes roedores se converta em um novo conhecimento ou benefício para os seres humanos --o que realmente importa, convenhamos-- pode levar muitos anos, às vezes, décadas.
Anestésico
Um exemplo de experiência que se iniciou com ratos e já resultou em um produto final é a do anestésico desenvolvido pela equipe da pesquisadora Maria Simonetti, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo). Chamado de simocaína, o produto já está sendo produzido comercialmente e vendido até mesmo em outros países.
Segundo Simonetti, o trabalho começou tendo como base o bupivacaína, um dos mais utilizados no mundo para anestesia regional. O produto é composto por dois isômeros e o problema é que um deles pode causar danos ao coração quando cai na corrente sangüínea
Pesquisas anteriores tentaram excluir o isômero "ruim". Mas, como anestésico, o produto não demonstrou a mesma eficiência. A equipe de Simonetti, então, decidiu alterar a composição do produto, deixando apenas 25% do isômero tóxico.
"O resultado é um anestésico menos tóxico e tão eficiente quanto o mais utilizado no mundo", afirma Simonetti.
De acordo com a pesquisadora, o processo de desenvolvimento do produto foi relativamente curto pois já se tinha um embasamento da substância "mãe". O trabalho começou em 1998 e, no ano 2000, o produto já estava no mercado.
"Nos testes de laboratório, eu injetei meu anestésico na veia de ratos e ele não demonstrou toxicidade, enquanto a substância 'mãe' matava todos os meus ratinhos", disse Simonetti, acrescentando que, para o trabalho, foram utilizados cerca de 200 ratos.
Vacina contra toxoplasmose
Há dois anos, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP publicaram os bons resultados que tiveram nos testes em camundongos de uma vacina contra o protozoário Toxoplasma gondii, causador da toxoplasmose.
Financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o trabalho teve a parceria de pesquisadores do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares) para criar uma vacina com a ajuda da radiação.
A idéia é esterilizar o protozoário de modo que ele não consiga mais se reproduzir. Porém, quando introduzido no hospedeiro, gera uma resposta imunológica.
Segundo Heitor Franco de Andrade Júnior, coordenador do trabalho, depois dos ratos, a vacina já foi testada em carneiros, coelhos e gatos.
O pesquisador explica que a idéia de uma vacina oral para seres humanos não foi abandonada. Mas os esforços do grupo agora se concentram em criar um meio de imunizar os gatos --hospedeiros definitivos.
"A idéia é criar uma isca, e para isso estamos trabalhando em uma vacina oral, para imunizar o bicho que passa a doença para a gente", diz Andrade.
Células-tronco
Trabalhando em uma das áreas mais promissoras da biotecnologia, a pesquisadora Rosália Mendez Otero, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) conseguiu, há dois anos, fazer com que células-tronco da medula de ratos se diferenciassem em neurônios.
"Já elaboramos uma proposta de protocolo clínico e esperamos a provação do Conep [Conselho Nacional de Saúde, órgão ligado ao Ministério da Saúde] para iniciarmos os primeiros testes em seres humanos", afirma Otero.
De acordo com a pesquisadora, esta fase da pesquisa consistirá em avaliar a toxicidade do procedimento em um grupo de, no máximo, dez pacientes que tiveram acidente vascular cerebral isquêmico.
Passada esta fase, os pesquisadores ainda terão que avaliar a eficiência do tratamento em um grupo maior de pacientes e, por último, fazer um estudo multicêntrico, envolvendo populações de diversas regiões do pais. Por esta razão, é difícil estimar o tempo necessário para o trabalho se converter em um tratamento confiável.
"Para mim, que sou pesquisadora, fica muito óbvia a necessidade de realizar testes com modelos animais antes de se chegar em humanos", afirma Otero. "Quando se trabalha com os animais, é possível por em prova inúmeras hipóteses e fazer as correções necessárias a tempo", conclui.
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Neste mês de abril, dois camundongos tiveram destaque na imprensa mundial. O primeiro foi Yoda, que completou quatro anos de vida --algo equivalente a 136 anos para um ser humano. Mas a vedete foi mesmo a fêmea Kaguya, criada sem ajuda de um pai, apenas com material genético de outras duas fêmeas.
Ratos e camundongos povoam os laboratórios de todo o mundo. Mas o tempo necessário para que um experimento com estes roedores se converta em um novo conhecimento ou benefício para os seres humanos --o que realmente importa, convenhamos-- pode levar muitos anos, às vezes, décadas.
Anestésico
Um exemplo de experiência que se iniciou com ratos e já resultou em um produto final é a do anestésico desenvolvido pela equipe da pesquisadora Maria Simonetti, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo). Chamado de simocaína, o produto já está sendo produzido comercialmente e vendido até mesmo em outros países.
Segundo Simonetti, o trabalho começou tendo como base o bupivacaína, um dos mais utilizados no mundo para anestesia regional. O produto é composto por dois isômeros e o problema é que um deles pode causar danos ao coração quando cai na corrente sangüínea
Pesquisas anteriores tentaram excluir o isômero "ruim". Mas, como anestésico, o produto não demonstrou a mesma eficiência. A equipe de Simonetti, então, decidiu alterar a composição do produto, deixando apenas 25% do isômero tóxico.
"O resultado é um anestésico menos tóxico e tão eficiente quanto o mais utilizado no mundo", afirma Simonetti.
De acordo com a pesquisadora, o processo de desenvolvimento do produto foi relativamente curto pois já se tinha um embasamento da substância "mãe". O trabalho começou em 1998 e, no ano 2000, o produto já estava no mercado.
"Nos testes de laboratório, eu injetei meu anestésico na veia de ratos e ele não demonstrou toxicidade, enquanto a substância 'mãe' matava todos os meus ratinhos", disse Simonetti, acrescentando que, para o trabalho, foram utilizados cerca de 200 ratos.
Vacina contra toxoplasmose
Há dois anos, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP publicaram os bons resultados que tiveram nos testes em camundongos de uma vacina contra o protozoário Toxoplasma gondii, causador da toxoplasmose.
Financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o trabalho teve a parceria de pesquisadores do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares) para criar uma vacina com a ajuda da radiação.
A idéia é esterilizar o protozoário de modo que ele não consiga mais se reproduzir. Porém, quando introduzido no hospedeiro, gera uma resposta imunológica.
Segundo Heitor Franco de Andrade Júnior, coordenador do trabalho, depois dos ratos, a vacina já foi testada em carneiros, coelhos e gatos.
O pesquisador explica que a idéia de uma vacina oral para seres humanos não foi abandonada. Mas os esforços do grupo agora se concentram em criar um meio de imunizar os gatos --hospedeiros definitivos.
"A idéia é criar uma isca, e para isso estamos trabalhando em uma vacina oral, para imunizar o bicho que passa a doença para a gente", diz Andrade.
Células-tronco
Trabalhando em uma das áreas mais promissoras da biotecnologia, a pesquisadora Rosália Mendez Otero, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) conseguiu, há dois anos, fazer com que células-tronco da medula de ratos se diferenciassem em neurônios.
"Já elaboramos uma proposta de protocolo clínico e esperamos a provação do Conep [Conselho Nacional de Saúde, órgão ligado ao Ministério da Saúde] para iniciarmos os primeiros testes em seres humanos", afirma Otero.
De acordo com a pesquisadora, esta fase da pesquisa consistirá em avaliar a toxicidade do procedimento em um grupo de, no máximo, dez pacientes que tiveram acidente vascular cerebral isquêmico.
Passada esta fase, os pesquisadores ainda terão que avaliar a eficiência do tratamento em um grupo maior de pacientes e, por último, fazer um estudo multicêntrico, envolvendo populações de diversas regiões do pais. Por esta razão, é difícil estimar o tempo necessário para o trabalho se converter em um tratamento confiável.
"Para mim, que sou pesquisadora, fica muito óbvia a necessidade de realizar testes com modelos animais antes de se chegar em humanos", afirma Otero. "Quando se trabalha com os animais, é possível por em prova inúmeras hipóteses e fazer as correções necessárias a tempo", conclui.
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