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16/08/2005 - 09h42

Dente fóssil argentino inaugura era dos mamíferos sul-americanos

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REINALDO JOSÉ LOPES
Enviado especial da Folha de S.Paulo ao Rio

A boa notícia é que pesquisadores argentinos acharam o mais antigo mamífero com traços modernos da América do Sul, capaz de preencher uma lacuna de milhões de anos na história desses animais. A má é que o bicho, por enquanto, não passa de um dente.

Marcelo Tejedor, paleontólogo da Universidade Nacional da Patagônia, esboça um sorriso meio sem graça quando lhe perguntam se não é uma situação frustrante. "Estamos com um saco de 200 kg de sedimento para peneirar", diz, gesticulando para indicar o tamanho do trabalho à frente. "Quem sabe não encontramos mais alguma coisa?", afirmou durante o 2º Congresso Latino-Americano de Paleontologia de Vertebrados, encerrado no fim de semana passado, no Rio de Janeiro.

A descrição do único dente, um molar inferior, foi submetida para publicação numa revista científica, mas os dados preliminares sugerem que o animal pode tanto ter sido um placentário (como humanos, cães ou baleias) quanto um marsupial (como os cangurus, que carregam seus filhotes numa bolsa). "Achamos que é mais provável que ele seja um marsupial", diz Tejedor.

Se essa hipótese for verdadeira, os pesquisadores já sabem até em que grupo marsupial encaixar o caco: ele pertenceria ao grupo dos polidolopimorfos, comedores de frutas parecidos com gambás ou cuícas que hoje estão extintos. "As cúspides [elevações] do dente indicam essa dieta", afirma Tejedor.

A importância do achado, por mais incompleto que seja, vem da sua idade. Trata-se do mais antigo mamífero sul-americano do Paleoceno, o período geológico que marca o começo do "reinado" de seu grupo no planeta, logo depois da extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos. No período anterior, o Cretáceo (quando os dinos ainda eram a forma dominante de vertebrado terrestre), há diversos registros de mamíferos na América do Sul, em especial na Argentina. Mas todos são formas muito primitivas, sem nenhuma relação direta com as espécies do grupo que estão vivas hoje.

A coisa muda de figura com o novo mamífero, ou o que sobrou dele. Ele foi achado em meio a sedimentos de origem marinha: pouco abaixo dele nas camadas de rocha estão mariscos fósseis que se extinguiram no fim do Cretáceo, enquanto lhe faziam companhia moluscos típicos do Paleoceno. "Isso significa que ele não é mais velho que 65 milhões de anos nem mais recente que 61,5 milhões de anos", resume o paleontólogo argentino.

A linhagem dos marsupiais e placentários (que são conhecidos pelo apelido comum de térios) se distingue justamente pelas cavidades especiais dos molares, que ajudam a triturar a comida com mais eficiência e estão presentes no espécime. Se for mesmo um marsupial, como os pesquisadores supõem, é possível que ele tenha vindo da América do Norte, onde membros do grupo aparecem bem antes no registro fóssil, durante o Cretáceo.

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