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18/08/2005 - 09h27

Grupo norte-americano quer recompor fauna da Era do Gelo

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CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo

Recriar os dinossauros numa ilha remota do Caribe, por enquanto, é terreno da ficção. Mas que tal recompor os mamíferos extintos da Era do Gelo na vastidão das pradarias da América do Norte? A proposta está sendo feita por um grupo de biólogos de instituições respeitáveis dos EUA. E, acredite, há quem a leve a sério.

Não se trata, diga-se logo, de algum truque da biotecnologia para ressuscitar mamutes, tigres dente-de-sabre ou outras figuras da chamada megafauna do Pleistoceno, extinta nas Américas há cerca de 13 mil anos. A proposta, desta vez, é povoar a América do Norte com parentes próximos desses animais que ainda sobrevivem: elefantes, cavalos, leões, guepardos e camelos, deixando-os ocupar os nichos ecológicos deixados vagos pelos seus primos.

"A idéia é promover ativamente a restauração dos grandes vertebrados selvagens da América do Norte, preferindo-os às pestes e ervas-daninhas que de outra forma dominarão a paisagem", afirma Josh Donlan, pós-graduando em ecologia na Universidade Cornell, em artigo na edição de hoje da revista científica britânica "Nature" (www.nature.com).

Afinal, argumentam Donlan e colegas de várias instituições acadêmicas dos EUA, há vários precedentes "ecológicos, evolutivos, éticos, estéticos e econômicos" para transformar o centro-sul dos EUA em Parque Pleistocênico.

Para começo de conversa, segundo os autores, a Terra não tem mais nada de "selvagem". A influência humana se faz sentir em todos os ecossistemas do planeta --e propostas de conservação em larga escala precisam levar em conta a possibilidade de manipulação desses ecossistemas.

Crime de responsabilidade

Depois, Donlan e seus colegas afirmam que a humanidade teve um papel na extinção da megafauna americana e que, portanto, teria uma espécie de obrigação moral de restaurá-la. A polêmica hipótese de que a culpa pelo fim de mamutes e companhia é dos humanos foi proposta na década de 1980 por Paul Martin, da Universidade do Arizona. Martin é co-autor do artigo na "Nature".

Um outro ponto (politicamente carregado) da proposta é que a megafauna sobrevive hoje apenas na África e na Ásia, continentes pobres, nos quais a ameaça de extinção no futuro próximo é alta.

Por fim, afirmam os autores, é preciso levar em conta que muitos animais hoje extintos na América do Norte, como os cavalos e os camelos, surgiram naquele continente. Portanto, estariam apenas sendo reintroduzidos. Uma reintrodução dividida em fases, que começaria com herbívoros e terminaria, no futuro, com leões e guepardos correndo soltos pelas pradarias. Para quem acha bizarro, Donlan dá um dado: já existem hoje 77 mil grandes mamíferos africanos e asiáticos em fazendas de caça do Texas.

A proposta soa maluca. Mas muitos biólogos vêem sentido nela. "Seria certamente a maior intervenção humana no planeta a favor de espécies silvestres", disse à Folha o zoólogo Mario de Vivo, do Museu de Zoologia da USP. "A idéia é um pouco chocante para mim. Mas o fato é que somos uma das maiores forças de transformação planetária em ação. Transformar na direção da conservação pode ser uma das saídas para a manutenção de parcelas da biodiversidade que demandam amplos espaços, como a megafauna."

O ecólogo Stuart Pimm, da Universidade Duke (EUA), diz que a idéia é a princípio factível. "Podemos trazer a megafauna de volta? Acho que sim. Muitos desses animais sobrevivem em fazendas no Meio-Oeste. Será que eles iriam se adaptar? Provavelmente."

Já os especialistas em Era do Gelo discordam. "Um projeto desses teria de supor a existência das mesmas espécies extintas para reintrodução, o mesmo clima e a possibilidade de criar um ambiente muito semelhante", diz o paleontólogo Jorge Ferigolo, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. "Acho muito interessante, mas só para ganhar dinheiro. É uma palhaçada chamar isso de Pleistoceno."

Claro, ninguém consultou os africanos a respeito. "Essas realocações afetariam o turismo na África no futuro", disse à agência de notícias Associated Press Elizabeth Wamba, do Ifaw (Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal) no Quênia.

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