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05/12/2005
-
09h57
REINALDO JOSÉ LOPES
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Kuching (Malásia)
Um encontro internacional sobre a relação entre imprensa e ambiente terminou na última sexta-feira com um alvo improvável: a própria imprensa. Na primeira edição da Imes (Cúpula Internacional de Mídia e Ambiente), na Malásia, os meios de comunicação foram acusados de saturar o público com catástrofes.
As críticas começaram já na abertura da Imes, num hotel de Kuching, que fica na ilha de Bornéu e é capital do Estado malaio de Sarawak. O secretário-geral da Associação das Nações do Sudeste Asiático, Ong Keng Yong, afirmou que a falta de contextualização do noticiário ambiental e a concentração em grandes desastres, rapidamente esquecidos, faz com que o público acabe desconfiando da relevância e realidade do que é mostrado.
Yong citou o exemplo do tsunami de dezembro passado --segundo ele, apesar do desastre e da perda de vidas, poucos jornais mencionaram o fato de que os países que haviam conservado seus manguezais tiveram suas perdas minimizadas.
O geneticista e divulgador de ciência canadense David Suzuki, por sua vez, afirmou que hoje a imprensa "é parte do problema", graças ao excesso de superficialidade e imediatismo que, segundo ele, caracteriza seu comportamento. "A mídia consegue prestar atenção às coisas pelo mesmo tempo que um beija-flor", debochou, ao fazer comentários após a fala de Yong.
Também sobraram críticas para a necessidade da imprensa de tratar fatos como certezas absolutas --algo que, quando se leva em conta o conteúdo científico dos estudos ambientais e a incerteza inerente a eles, é impraticável. O exemplo do aquecimento global --os cientistas não têm dúvida sobre a relação de causa e efeito entre a ação humana e o fenômeno, mas não sabem quanto nem em quanto tempo o planeta vai esquentar-- foi citado.
A reação mais extrema contra o comportamento da imprensa, no entanto, veio dos próprios anfitriões, representados pelo ministro-chefe de Sarawak, Pehin Sri Abdul Taib Mahmud. Para ele, Sarawak (pronuncia-se "sarauá") é vítima de uma "campanha de difamação" estimulada por ONGs do Primeiro Mundo e "jornalistas de escritório".
Mahmud afirmou que a "publicidade adversa" gerada por esses grupos era composta de "fatos infundados e mentiras deslavadas". Ele citou o caso de um relatório segundo o qual orangotangos estavam sendo mortos para abrir espaço a plantações de palmeira. "Ora, essas áreas eram floresta secundária, e se sabe muito bem que os orangotangos só vivem em matas primárias", defendeu-se.
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Enviado especial da Folha de S.Paulo a Kuching (Malásia)
Um encontro internacional sobre a relação entre imprensa e ambiente terminou na última sexta-feira com um alvo improvável: a própria imprensa. Na primeira edição da Imes (Cúpula Internacional de Mídia e Ambiente), na Malásia, os meios de comunicação foram acusados de saturar o público com catástrofes.
As críticas começaram já na abertura da Imes, num hotel de Kuching, que fica na ilha de Bornéu e é capital do Estado malaio de Sarawak. O secretário-geral da Associação das Nações do Sudeste Asiático, Ong Keng Yong, afirmou que a falta de contextualização do noticiário ambiental e a concentração em grandes desastres, rapidamente esquecidos, faz com que o público acabe desconfiando da relevância e realidade do que é mostrado.
Yong citou o exemplo do tsunami de dezembro passado --segundo ele, apesar do desastre e da perda de vidas, poucos jornais mencionaram o fato de que os países que haviam conservado seus manguezais tiveram suas perdas minimizadas.
O geneticista e divulgador de ciência canadense David Suzuki, por sua vez, afirmou que hoje a imprensa "é parte do problema", graças ao excesso de superficialidade e imediatismo que, segundo ele, caracteriza seu comportamento. "A mídia consegue prestar atenção às coisas pelo mesmo tempo que um beija-flor", debochou, ao fazer comentários após a fala de Yong.
Também sobraram críticas para a necessidade da imprensa de tratar fatos como certezas absolutas --algo que, quando se leva em conta o conteúdo científico dos estudos ambientais e a incerteza inerente a eles, é impraticável. O exemplo do aquecimento global --os cientistas não têm dúvida sobre a relação de causa e efeito entre a ação humana e o fenômeno, mas não sabem quanto nem em quanto tempo o planeta vai esquentar-- foi citado.
A reação mais extrema contra o comportamento da imprensa, no entanto, veio dos próprios anfitriões, representados pelo ministro-chefe de Sarawak, Pehin Sri Abdul Taib Mahmud. Para ele, Sarawak (pronuncia-se "sarauá") é vítima de uma "campanha de difamação" estimulada por ONGs do Primeiro Mundo e "jornalistas de escritório".
Mahmud afirmou que a "publicidade adversa" gerada por esses grupos era composta de "fatos infundados e mentiras deslavadas". Ele citou o caso de um relatório segundo o qual orangotangos estavam sendo mortos para abrir espaço a plantações de palmeira. "Ora, essas áreas eram floresta secundária, e se sabe muito bem que os orangotangos só vivem em matas primárias", defendeu-se.
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