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13/01/2002
-
08h45
Enviado especial da Folha de S.Paulo à Antártida
Uma das coisas que impressionam os viajantes na Antártida é a quantidade de animais que se vê por todo canto. É difícil navegar no verão sem ver pinguins saltando, petréis rodeando o navio e uma baleia ou outra borrifando no horizonte. Alguém que caminhe distraído pela península Keller, na vizinhança da estação Ferraz, possivelmente tropeçará numa foca adormecida, fácil de confundir com uma pedra.
Tudo isso alimenta a imagem de um continente selvagem, onde o homem não conseguiu praticar a sua conhecida lista de perversidades ambientais. Uma imagem falsa, diga-se logo. Entre meados do século 19 e a década de 1960, a Antártida foi palco de um dos maiores massacres de fauna já realizados na era moderna. A instalação de estações baleeiras por países como Noruega, Reino Unido e Argentina levou a população da baleia-azul, o maior animal da Terra, a 2% da original. Só entre 1930 e 1931 foram abatidos 31 mil animais. A das baleias jubartes, a 3%. E as focas, que fazem a alegria dos biólogos e dos 15 mil turistas que visitam todo ano o continente, só escaparam da extinção porque uma convenção internacional -a Convenção para a Conservação das Focas Antárticas- foi criada especialmente para protegê-las em 1972.
A própria descoberta das ilhas Shetlands do Sul tem a ver com o comércio de peles das focas-de-pêlo da Antártida (Arctocephallus gazella). A notícia de lucros fabulosos com as peles de animais capturados nas Malvinas, no fim do século 18, provocou uma corrida à região. Só nas ilhas Juan Fernandez, relata o britânico Alan Gurney no livro "Abaixo da Convergência", foram levadas 3 milhões de peles em sete anos.
O esgotamento rápido das presas fez o capital foqueiro buscar mais lucros ao sul. Em 1819, o comerciante britânico William Smith descobria a ilha Rei George, abrindo o arquipélago ao massacre. O russo Thaddeus Bellingshausen, primeiro homem a avistar terra abaixo do Círculo Polar, testemunhou a matança de 80 mil focas nas ilhas em 1821. Só Londres recebeu 200 mil peles naquele ano.
Preocupado com a perspectiva da extinção, ruim para os negócios, o foqueiro James Weddell propôs um teto para a captura de "só" 100 mil focas por temporada. Ironicamente, esse mesmo caçador daria nome a uma das seis espécies de foca antártica, a foca-de-weddell (Leptonychotes weddelli).
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CLAUDIO ANGELOEnviado especial da Folha de S.Paulo à Antártida
Uma das coisas que impressionam os viajantes na Antártida é a quantidade de animais que se vê por todo canto. É difícil navegar no verão sem ver pinguins saltando, petréis rodeando o navio e uma baleia ou outra borrifando no horizonte. Alguém que caminhe distraído pela península Keller, na vizinhança da estação Ferraz, possivelmente tropeçará numa foca adormecida, fácil de confundir com uma pedra.
Tudo isso alimenta a imagem de um continente selvagem, onde o homem não conseguiu praticar a sua conhecida lista de perversidades ambientais. Uma imagem falsa, diga-se logo. Entre meados do século 19 e a década de 1960, a Antártida foi palco de um dos maiores massacres de fauna já realizados na era moderna. A instalação de estações baleeiras por países como Noruega, Reino Unido e Argentina levou a população da baleia-azul, o maior animal da Terra, a 2% da original. Só entre 1930 e 1931 foram abatidos 31 mil animais. A das baleias jubartes, a 3%. E as focas, que fazem a alegria dos biólogos e dos 15 mil turistas que visitam todo ano o continente, só escaparam da extinção porque uma convenção internacional -a Convenção para a Conservação das Focas Antárticas- foi criada especialmente para protegê-las em 1972.
A própria descoberta das ilhas Shetlands do Sul tem a ver com o comércio de peles das focas-de-pêlo da Antártida (Arctocephallus gazella). A notícia de lucros fabulosos com as peles de animais capturados nas Malvinas, no fim do século 18, provocou uma corrida à região. Só nas ilhas Juan Fernandez, relata o britânico Alan Gurney no livro "Abaixo da Convergência", foram levadas 3 milhões de peles em sete anos.
O esgotamento rápido das presas fez o capital foqueiro buscar mais lucros ao sul. Em 1819, o comerciante britânico William Smith descobria a ilha Rei George, abrindo o arquipélago ao massacre. O russo Thaddeus Bellingshausen, primeiro homem a avistar terra abaixo do Círculo Polar, testemunhou a matança de 80 mil focas nas ilhas em 1821. Só Londres recebeu 200 mil peles naquele ano.
Preocupado com a perspectiva da extinção, ruim para os negócios, o foqueiro James Weddell propôs um teto para a captura de "só" 100 mil focas por temporada. Ironicamente, esse mesmo caçador daria nome a uma das seis espécies de foca antártica, a foca-de-weddell (Leptonychotes weddelli).
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