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14/02/2002
-
18h18
da Folha de S.Paulo
Numa resposta a pressões internacionais e domésticas, o presidente George W. Bush anunciou ontem a tão esperada "alternativa flexível" dos EUA ao Protocolo de Kyoto, acordo multilateral para combater o aquecimento global.
Em vez de reduzir as descargas dos gases de efeito estufa, o que Bush propõe é uma desaceleração do aumento dessas emissões, atrelada ao crescimento do PIB.
Pela proposta, a chamada intensidade de gases-estufa, ou seja, o total emitido por milhão de dólares do PIB, deverá ser reduzida em 18% nos próximos dez anos. Das atuais 183 toneladas por milhão, espera-se chegar a 151 toneladas em 2012.
O governo também quer dar incentivos fiscais às empresas que cortarem voluntariamente emissões e anunciou a destinação de US$ 4,5 bilhões (US$ 700 milhões a mais que a verba atual) para pesquisa científica e busca de energias alternativas.
"Precisamos reconhecer que crescimento econômico e proteção ambiental andam de mãos dadas", disse o presidente ontem na Noaa (Administração Nacional Oceanográfica e Atmosférica).
Também foi lançada no pacote contra as mudanças climáticas a chamada Clear Skies Initiative (Iniciativa dos Céus Limpos, em inglês), que propõe cortar em 70% as emissões de três poluentes do ar -óxidos de nitrogênio (NOx), dióxido de enxofre (SO2) e mercúrio- até 2018.
A nova política americana vinha sendo aguardada desde março do ano passado, quando Bush rejeitou o protocolo por considerá-lo prejudicial à economia do país.
Pelas regras do acordo, os países industrializados teriam, até 2012, de reduzir em 5,2% (em relação aos níveis de 1990) suas emissões de gases de efeito estufa (em particular o gás carbônico, ou CO2), produzidos principalmente pela queima de combustíveis fósseis.
Bush, um texano que teve sua campanha financiada por multinacionais do petróleo, considera os objetivos de Kyoto incompatíveis com o crescimento econômico do país -cuja indústria depende da energia proveniente de óleo, gás natural e carvão mineral.
Diz também que grandes emissores do mundo subdesenvolvido como Índia e China, deveriam ser obrigados a adotar metas de redução -o protocolo os isenta disso.
Um argumento legítimo, se os EUA não fossem o maior emissor desses gases no planeta. O país mais rico do mundo contribui, sozinho, com quase 25% das 6,6 bilhões de toneladas de carbono lançadas todo ano na atmosfera por atividades humanas. Não bastasse isso, na contramão da meta do protocolo, os EUA já aumentaram suas descargas de gás carbônico em 11% desde 90.
O recuo de Bush enfraqueceu as negociações em torno do protocolo, capitaneadas pela União Européia, e ameaçou tornar o acordo letra morta. Em julho do ano passado, em Bonn (Alemanha), a UE conseguiu salvar Kyoto, obtendo o apoio do Japão. O país é o quarto maior emissor mundial de CO2 e tradicional aliado dos EUA no tema mudança climática.
Após a salvação do pacto, Bush ficou isolado dentro e fora de casa. Empresas americanas e alguns Estados passaram a adotar metas de redução, temendo perder competitividade no exterior.
Após conseguir apoio da Europa em sua luta contra o terrorismo, Bush quer apagar de vez a mancha de isolacionismo na questão ambiental. Não por acaso, a proposta contra o efeito estufa foi anunciada na véspera de sua viagem à China e ao Japão.
O porta-voz da Casa Branca Ari Fleischer disse que Bush discutiu a proposta com o primeiro-ministro espanhol, José María Aznar, que ocupa atualmente a presidência da UE. Representantes de países do G-77 (o bloco dos subdesenvolvidos), como o Brasil, também foram contactados.
Com agências internacionais
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CLAUDIO ANGELOda Folha de S.Paulo
Numa resposta a pressões internacionais e domésticas, o presidente George W. Bush anunciou ontem a tão esperada "alternativa flexível" dos EUA ao Protocolo de Kyoto, acordo multilateral para combater o aquecimento global.
Em vez de reduzir as descargas dos gases de efeito estufa, o que Bush propõe é uma desaceleração do aumento dessas emissões, atrelada ao crescimento do PIB.
Pela proposta, a chamada intensidade de gases-estufa, ou seja, o total emitido por milhão de dólares do PIB, deverá ser reduzida em 18% nos próximos dez anos. Das atuais 183 toneladas por milhão, espera-se chegar a 151 toneladas em 2012.
O governo também quer dar incentivos fiscais às empresas que cortarem voluntariamente emissões e anunciou a destinação de US$ 4,5 bilhões (US$ 700 milhões a mais que a verba atual) para pesquisa científica e busca de energias alternativas.
"Precisamos reconhecer que crescimento econômico e proteção ambiental andam de mãos dadas", disse o presidente ontem na Noaa (Administração Nacional Oceanográfica e Atmosférica).
Também foi lançada no pacote contra as mudanças climáticas a chamada Clear Skies Initiative (Iniciativa dos Céus Limpos, em inglês), que propõe cortar em 70% as emissões de três poluentes do ar -óxidos de nitrogênio (NOx), dióxido de enxofre (SO2) e mercúrio- até 2018.
A nova política americana vinha sendo aguardada desde março do ano passado, quando Bush rejeitou o protocolo por considerá-lo prejudicial à economia do país.
Pelas regras do acordo, os países industrializados teriam, até 2012, de reduzir em 5,2% (em relação aos níveis de 1990) suas emissões de gases de efeito estufa (em particular o gás carbônico, ou CO2), produzidos principalmente pela queima de combustíveis fósseis.
Bush, um texano que teve sua campanha financiada por multinacionais do petróleo, considera os objetivos de Kyoto incompatíveis com o crescimento econômico do país -cuja indústria depende da energia proveniente de óleo, gás natural e carvão mineral.
Diz também que grandes emissores do mundo subdesenvolvido como Índia e China, deveriam ser obrigados a adotar metas de redução -o protocolo os isenta disso.
Um argumento legítimo, se os EUA não fossem o maior emissor desses gases no planeta. O país mais rico do mundo contribui, sozinho, com quase 25% das 6,6 bilhões de toneladas de carbono lançadas todo ano na atmosfera por atividades humanas. Não bastasse isso, na contramão da meta do protocolo, os EUA já aumentaram suas descargas de gás carbônico em 11% desde 90.
O recuo de Bush enfraqueceu as negociações em torno do protocolo, capitaneadas pela União Européia, e ameaçou tornar o acordo letra morta. Em julho do ano passado, em Bonn (Alemanha), a UE conseguiu salvar Kyoto, obtendo o apoio do Japão. O país é o quarto maior emissor mundial de CO2 e tradicional aliado dos EUA no tema mudança climática.
Após a salvação do pacto, Bush ficou isolado dentro e fora de casa. Empresas americanas e alguns Estados passaram a adotar metas de redução, temendo perder competitividade no exterior.
Após conseguir apoio da Europa em sua luta contra o terrorismo, Bush quer apagar de vez a mancha de isolacionismo na questão ambiental. Não por acaso, a proposta contra o efeito estufa foi anunciada na véspera de sua viagem à China e ao Japão.
O porta-voz da Casa Branca Ari Fleischer disse que Bush discutiu a proposta com o primeiro-ministro espanhol, José María Aznar, que ocupa atualmente a presidência da UE. Representantes de países do G-77 (o bloco dos subdesenvolvidos), como o Brasil, também foram contactados.
Com agências internacionais
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