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05/04/2005
-
09h07
CLÁUDIA COLLUCCI
FERNANDA BASSETTE
da Folha de S.Paulo
A cidade de São Paulo vive surto de uma infecção adquirida pelo consumo de peixe cru (sushi e sashimi), defumado ou mal-cozido. De março de 2004 a março deste ano, foram registrados 28 casos da difilobotríase, doença transmitida pelo parasita Diphyllobothrium spp --18 das ocorrências foram anotadas neste ano.
De 1998 até 2004, o Estado havia notificado apenas dois casos da doença, ambos em pessoas estrangeiras, que haviam consumido peixe cru fora do país. É a primeira vez que se registram casos autóctones no Brasil. Na América do Sul, há confirmação de casos no Chile, Peru e Argentina.
Os principais sintomas da doença são dor e desconforto abdominal, flatulência e diarréia. Também são relatados vômito, perda de peso e anemia megaloblástica, já que o parasita absorve vitamina B-12 do organismo. Só 20% dos infectados têm sintomas.
O CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica) da Secretaria da Saúde (SP) publicará nesta semana uma portaria em que recomenda o congelamento do peixe por pelo menos 24 horas, a -18ºC, para consumo da carne crua, para tentar conter o surto. Recomendação semelhante já é feita pela agência de fármacos e alimentos dos Estados Unidos, FDA.
Mas a própria vigilância epidemiológica admite que o congelamento por si só pode não conter o surto da doença porque não está comprovado, cientificamente, que a baixa temperatura mate ou inative o parasita. "Ainda não sabemos se a aplicação dessa norma trará resultados. É só uma tentativa de impedir a evolução desse importante surto", diz o diretor do CVE, Carlos Magno Fortaleza.
Restaurantes de comida japonesa afirmam que o congelamento é uma prática rotineira e que não causa prejuízo ao sabor dos pratos. Fortaleza diz que os estabelecimentos não devem ser responsabilizados, pois é impossível identificar o parasita visualmente.
A Folha apurou que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) também prepara uma resolução em que deve criar normas para o consumo e importação de peixe cru no país.
A principal suspeita recaiu sobre o salmão porque relatos na literatura o colocam, ao lado do robalo, como principal hospedeiro do parasita. Hoje, o salmão é o único peixe importado --principalmente do Chile-- para a produção de sushi e sashimi.
Porém ainda não ficou demonstrado que ele seja o responsável pelo surto em São Paulo. Técnicos da vigilância estão recolhendo amostras de salmão para localizar o parasita, mas não descartam a possibilidade de espécies de peixes paulistas ou da costa brasileira estarem contaminadas.
O verme vive na musculatura do peixe (no caso do salmão, nos nervos). Ao ser consumido cru, fixa-se no intestino delgado, onde pode viver até dez anos e atingir dez metros de comprimento.
O alerta sobre o surto foi dado pelo laboratório Fleury, responsável por 24 das 28 notificações. De acordo com o patologista clínico Jorge Luiz Mello Sampaio, as pessoas infectadas relataram ter consumido sushis e sashimis em diferentes regiões da cidade, o que sugere não haver um foco específico de contaminação.
Alguns pacientes assintomáticos, inclusive crianças, souberam da infecção ao observar pedaços do parasita nas fezes. Assustados, fizeram o exame, que acabou comprovando a doença.
Os nomes dos restaurantes freqüentados pelas vítimas já foram repassados às autoridades de vigilância para que haja um levantamento das espécies, dos fornecedores e da procedência.
O tratamento é feito com a substância praziquantel, em dose única. A recomendação do médico é que seja feito também um hemograma para verificar se há anemia e, se for o caso, tratá-la.
Colaborou JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, da Redação
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FERNANDA BASSETTE
da Folha de S.Paulo
A cidade de São Paulo vive surto de uma infecção adquirida pelo consumo de peixe cru (sushi e sashimi), defumado ou mal-cozido. De março de 2004 a março deste ano, foram registrados 28 casos da difilobotríase, doença transmitida pelo parasita Diphyllobothrium spp --18 das ocorrências foram anotadas neste ano.
De 1998 até 2004, o Estado havia notificado apenas dois casos da doença, ambos em pessoas estrangeiras, que haviam consumido peixe cru fora do país. É a primeira vez que se registram casos autóctones no Brasil. Na América do Sul, há confirmação de casos no Chile, Peru e Argentina.
Os principais sintomas da doença são dor e desconforto abdominal, flatulência e diarréia. Também são relatados vômito, perda de peso e anemia megaloblástica, já que o parasita absorve vitamina B-12 do organismo. Só 20% dos infectados têm sintomas.
O CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica) da Secretaria da Saúde (SP) publicará nesta semana uma portaria em que recomenda o congelamento do peixe por pelo menos 24 horas, a -18ºC, para consumo da carne crua, para tentar conter o surto. Recomendação semelhante já é feita pela agência de fármacos e alimentos dos Estados Unidos, FDA.
Mas a própria vigilância epidemiológica admite que o congelamento por si só pode não conter o surto da doença porque não está comprovado, cientificamente, que a baixa temperatura mate ou inative o parasita. "Ainda não sabemos se a aplicação dessa norma trará resultados. É só uma tentativa de impedir a evolução desse importante surto", diz o diretor do CVE, Carlos Magno Fortaleza.
Restaurantes de comida japonesa afirmam que o congelamento é uma prática rotineira e que não causa prejuízo ao sabor dos pratos. Fortaleza diz que os estabelecimentos não devem ser responsabilizados, pois é impossível identificar o parasita visualmente.
A Folha apurou que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) também prepara uma resolução em que deve criar normas para o consumo e importação de peixe cru no país.
A principal suspeita recaiu sobre o salmão porque relatos na literatura o colocam, ao lado do robalo, como principal hospedeiro do parasita. Hoje, o salmão é o único peixe importado --principalmente do Chile-- para a produção de sushi e sashimi.
Porém ainda não ficou demonstrado que ele seja o responsável pelo surto em São Paulo. Técnicos da vigilância estão recolhendo amostras de salmão para localizar o parasita, mas não descartam a possibilidade de espécies de peixes paulistas ou da costa brasileira estarem contaminadas.
O verme vive na musculatura do peixe (no caso do salmão, nos nervos). Ao ser consumido cru, fixa-se no intestino delgado, onde pode viver até dez anos e atingir dez metros de comprimento.
O alerta sobre o surto foi dado pelo laboratório Fleury, responsável por 24 das 28 notificações. De acordo com o patologista clínico Jorge Luiz Mello Sampaio, as pessoas infectadas relataram ter consumido sushis e sashimis em diferentes regiões da cidade, o que sugere não haver um foco específico de contaminação.
Alguns pacientes assintomáticos, inclusive crianças, souberam da infecção ao observar pedaços do parasita nas fezes. Assustados, fizeram o exame, que acabou comprovando a doença.
Os nomes dos restaurantes freqüentados pelas vítimas já foram repassados às autoridades de vigilância para que haja um levantamento das espécies, dos fornecedores e da procedência.
O tratamento é feito com a substância praziquantel, em dose única. A recomendação do médico é que seja feito também um hemograma para verificar se há anemia e, se for o caso, tratá-la.
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