19/04/2005 - 09h07

PF culpa em inquérito 9 policiais por chacina na Baixada Fluminense

MARIO HUGO MONKEN
SERGIO TORRES
da Folha de S.Paulo, no Rio

A Polícia Federal concluiu que nove policiais militares são os responsáveis pela morte de 29 pessoas no último dia 31, em Queimados e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense (região metropolitana do Rio). O indiciamento não aponta razão para os crimes. As acusações são de homicídio doloso, co-autoria, tentativa de homicídio e formação de quadrilha.

A conclusão do inquérito gerou discordâncias entre PF e Estado. O secretário estadual Marcelo Itagiba (Segurança Pública) criticou a conclusão do inquérito federal 11 dias antes do prazo previsto em lei (30 dias). A PF e a Polícia Civil abriram dois inquéritos sobre o crime, sem troca de informações.

"Se a Polícia Federal está concluindo agora, ela [nem] sequer tem nos autos os laudos cadavéricos", disse o secretário.

Para Itagiba, o inquérito da Polícia Civil "é o principal" e o da PF "servirá de subsídio para a gente poder ter provas mais robustas".

A crítica recai sobre a falta de provas técnicas, já que o indiciamento baseia-se em testemunhas.

O superintendente da PF no Rio, José Milton Rodrigues, confirmou que o inquérito baseou-se no relato de testemunhas e que não há prova técnica --o que, na opinião dele, será difícil obter.

A PF não conseguiu apurar o que levou à matança das 29 vítimas. Nem a Polícia Civil, até agora. Nenhuma arma usada pelos assassinos foi localizada. Já foram apreendidas 120 pistolas para exames de balística, mas nenhuma das 96 balas recolhidas nos locais dos crimes ou nos cadáveres partiu de uma arma apreendida. Os exames prosseguem, sem data para acabar, segundo a Polícia Civil.

"Não adianta ter uma peça que diga que foi fulano, beltrano ou sicrano porque a testemunha diz isso. Da mesma forma que existe testemunha para dizer um fato, pode ter testemunha para dizer outro fato. Precisamos aliar a prova testemunhal à técnica. É o que tentamos fazer", disse Itagiba.

Os indiciados são o sargento Sidimar Gomes, os cabos José Augusto Moreira Felipe e Marcos Siqueira de Castro e os soldados Fabiano Gonçalves Lopes, Carlos Jorge Carvalho, Ivonei de Souza, Maurício Jorge Montezano, Gilmar da Silva Simão e Júlio César Amaral de Paula.

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