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11/07/2005 - 09h21

Homem crê que divide as tarefas

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da Folha de S.Paulo

Para a maioria dos casais brasileiros, parece não haver dúvida. Mesmo quando os dois trabalham, é para a mulher que sobra a responsabilidade de lavar roupa, limpar a casa, cozinhar, cuidar das crianças ou lavar pratos. É o que mostra o livro "Gênero, Família e Trabalho no Brasil" (editora FGV), das sociólogas Clara Araújo e Celi Scalon, feito a partir de pesquisa de opinião financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.

Ao serem indagadas sobre a freqüência com que realizavam essas atividades domésticas, o percentual de respostas "sempre eu" ou "geralmente eu" das mulheres variou entre 73,5% (lavar pratos) e 95,7% (cuidar das crianças).

A mesma pergunta foi feita aos homens e, em pelo menos um caso, a resposta deles foi totalmente diferente da delas. Para 56,2% dos homens, a tarefa de cuidar das crianças era dividida igualmente. Entre as mulheres, essa porcentagem era de apenas 0,9%. Das duas uma: ou alguém está mentindo ou a percepção sobre o que significa cuidar são bastante diferentes.

Para Scalon, essa segunda hipótese é a mais provável. "Os homens saem para passear ou brincar com a criança e entendem isso como cuidar, mas pouco ajudam em tarefas como trocar fralda ou limpar banheiro. Ele parece assumir mais as funções no espaço público, mas, dentro de casa, quem segura a onda é a mulher."

O psicólogo social Bernardo Jablonski, que também fez uma pesquisa entrevistando casais sobre o assunto, afirma que, mesmo quando o homem divide de maneira mais igualitária as tarefas domésticas, isso é encarado como uma ajuda e não como uma obrigação compartilhada.

"Eu percebi muito na minha pesquisa que alguns homens usavam a palavra "ajudar". É como se reafirmássemos que não temos nada a ver com isso, mas que, como somos caras legais, sensíveis e pós-modernos, a gente quebra um galho", diz Jablonski.

Ele afirma que percebeu, em alguns casos, que os homens até se comprometiam com algumas tarefas, mas só em situações nobres. "O marido até se dispõe a cozinhar, mas não a fazer o trivial."

O psicólogo criou um termo para definir esse homem pós-moderno que, no discurso, defende a igualdade, mas que tem dificuldade para executá-la na vida privada: "Somos "boçalossauros". É como se habitasse dentro de nós esse ser que a gente quer esconder, mas que urina na privada, fica sempre na frente da TV e não aceita lavar prato. Temos um verniz pós-moderno, mas, se a gente arranhar um pouquinho a casca, acaba aparecendo esse monstro".

O curioso da pesquisa de Scalon e Araújo é que, mesmo com a existência de tantos "boçalossauros", 53,3% das mulheres consideram justa a divisão das tarefas domésticas. "É inegável que existe um certo consenso em parte da sociedade de que essas atribuições são femininas. Quando trabalha fora, a mulher ainda carrega culpa por não conseguir cuidar da casa. Já os homens não sentem tanto essa culpa", afirma Scalon.

No entanto, mesmo com uma maioria achando justa a divisão, a pesquisa indica que a percepção de injustiça é muito maior entre as mulheres. Para 43,3%, elas trabalham em casa mais do que o justo. Entre os homens, essa porcentagem é de apenas 8,2%.

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