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13/12/2005 - 22h01

Curso ensina pastor a ser empresário da fé

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JOÃO FELLET
Colaboração para a Folha de S.Paulo

A cartilha dos grandes empresários diz que, para se dar bem nos negócios, é fundamental estar atento às mudanças na sociedade, empregar com eficiência a propaganda, estudar o público-alvo, cuidar bem dos funcionários e vigiar a concorrência.

Pois essas regras também valem para os que desejam abrir a própria igreja evangélica, segundo um curso oferecido pelo Seminário Brasileiro de Teologia (SBTe).

Uma frase presente na apostila do "Curso de Formação de Pastor" dá o tom do seu conteúdo: "A igreja é uma empresa, e uma empresa difícil de ser conduzida, porque o seu estoque são almas". O curso convoca pastores a uma adaptação aos novos tempos: "As igrejas que não seguirem a cultura dos povos tendem a ficar vazias".

A proposta é criticada por teóricos evangélicos, que vêem formação muito superficial em 90 dias. A preparação do pastor no curso tradicional, reconhecido pelos protestantes históricos, costuma chegar a cinco anos. Esses programas com maior duração são avalizados por igrejas seguidas por 11,1% da população em 2002, segundo pesquisa do Eseb (Estudo Eleitoral Brasileiro), número quatro vezes maior do que em 1980.

Empreendedor

O curso recomenda que o pastor seja "empreendedor e capaz de liderar com visão global".

Para aproveitar esse crescimento, o curso lista atitudes que devem ser tomadas pelo pastor. Antes de abrir uma igreja, deve estudar a região e o público-alvo. Se o local for pobre, ajudam a atrair gente a distribuição de lanches e o sorteio de cestas básicas.

Para ser eficiente, ele é aconselhado a se alimentar bem e a se exercitar. Quando tiver de ministrar por muito tempo, deve evitar o sexo nos quatro dias anteriores.

Outro fator determinante para o sucesso é pregar conforme a vontade do público. Em geral, diz o curso, pessoas mais pobres tendem a gostar de "ver coisas sobrenaturais" (como sessões de exorcismo) e ouvir o pastor falar em línguas estranhas (glossolalia).

"O curso ensina recursos que uma empresa moderna usa para se manter competitiva", diz o coordenador do MBA de Marketing da FIA (Fundação Instituto de Administração), Dilson Gabriel dos Santos.

Para o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo Antônio Sauaia, o curso ensina uma técnica usada por empresas de produtos de consumo, que atraem o consumidor por meio de vendedores que vivem no mesmo bairro dele.

Administração eclesiástica

A apostila é dividida em cinco módulos. Os quatro primeiros tratam da legislação sobre a prática religiosa (como obter subvenções do poder público, por exemplo) e como convencer os fiéis a pagar o dízimo. O quinto e maior é intitulado "Administração Eclesiástica". Nele, são indicados "projetos para multiplicar a quantidade de membros, templos e de caixa da igreja a cada 90 dias".

O curso pode ser encomendado no site www.cursodepastor. com.br ou por telefone, custa R$ 450 e deve ser feito por correspondência em 90 dias.

Ao seu final, o aspirante a pastor deve enviar por correio à instituição, que tem sede em Ituiutaba (MG), as respostas a um questionário. Se aprovado, ganha um diploma e uma carteirinha "para as diferentes denominações de igrejas evangélicas".

O pastor Omar Silva da Costa, 49, é o criador deste e de outros 17 cursos por correspondência também oferecidos pela internet. Os mais caros, chamados de "Bacharelado em Teologia Eclesiástica", "Mestrado em Bíblia" e "Doutorado em Divindade", custam, respectivamente, R$ 750, R$ 1.050 e R$ 1.350. Duram 90 dias e dão direito a carteirinha e diploma.

"Decidi oferecer os cursos por correspondência, porque muita gente não tem condições de pagar escolas caras." Segundo Costa, o curso, oferecido desde fevereiro deste ano, já foi vendido a mais de 500 pessoas --se o número estiver certo, as vendas já renderam, ao menos, R$ 225 mil.

A procura tem sido tão boa que, no curso, ele prevê: "Em pouco tempo vai haver nas faculdades cursos de administração de igreja, como já há de administração hospitalar".

João Fellet participou da 40ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que teve como patrocinador a Philip Morris Brasil

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