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20/03/2006 - 22h20

Rio transborda e deixa cidades em calamidade pública no AM

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KÁTIA BRASIL
da Agência Folha, em Manaus

As prefeituras de Manicoré e Humaitá, no sul do Amazonas, decretaram nesta segunda-feira estado de calamidade pública em razão de trasbordamentos do rio Madeira.

Segundo a Defesa Civil Estadual, nas duas cidades, 13 mil pessoas que vivem em comunidades ribeirinhas foram atingidas pela enchente. As plantações de banana, macaxeira, milho e melancia estão perdidas.

Um plano de emergência está sendo preparado para retirar famílias de áreas inundadas assim que o governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), reconhecer o desastre ambiental nas duas cidades e liberar os recursos para alimentação e medicamentos.

O secretário-executivo da Defesa Civil Estadual, coronel Roberto Rocha, que sobrevoou as cidades no fim de semana, afirmou que um surto de malária foi detectado.

Como as águas inundaram as casas, há ainda muitos casos de mordidas de cobras. O problema é que muitas pessoas não querem deixar as casas e acabam se abrigando em redes atadas quase no teto.

"Eles relutam em sair da casa porque é uma questão antropológica, eles convivem com o rio e querem ficar lá. Mas a prefeitura avalia que é melhor evacuar as pessoas para um abrigo", disse o coronel.

As equipes da Defesa Civil começam a chegar a Manicoré e Humaitá nesta semana. "Os municípios não têm coordenadoria nem Defesa Civil local. Avaliamos que a intensidade do desastre é grave. Já foram atingidas 60% das comunidades, faltando apenas as sedes dos municípios", disse o coronel Rocha.

Seca

Manicoré (332 km ao sul de Manaus) foi uma das cidades mais castigadas pela seca, em 2005, ficando isolada. Faltaram alimentos, água potável e medicamentos. Na época, os governos federal e estadual enviaram cestas básicas em aeronaves das Forças Armadas.

O comerciante Carlos Alberto do Carmo Severino, 52, que durante a seca do ano passado ficou com 12 embarcações paradas por falta de navegabilidade, disse nesta segunda que também tem prejuízos com a enchente.

Ele afirmou que as comunidades produtoras de banana são as mais atingidas. "Pelo menos 45 toneladas de banana já foram perdidas. Temos sete embarcações paradas por falta de mercadorias", afirmou.

A média anual do nível do rio para navegação no Madeira é de 12,9 m. Com a enchente, o nível subiu em Manicoré para 22,84 m, cota registrada nesta segunda pelo Serviço Geológico do Brasil, que acompanha a subida das águas em 15 estações de monitoramento nos Estados do Amazonas, Acre e Rondônia.

Em Humaitá, as águas do rio Madeira dão sinais que vão parar de subir. No dia 15 a cota estava em 23,07 m e nesta segunda, em 22,83 m.

Ciclo

O ciclo de enchente e vazante (seca) é um processo natural que acontece todos os anos na Amazônia devido, principalmente, às chuvas que atingem toda a bacia hidrográfica. Também marca as duas estações: o inverno, que vai de novembro a junho, e o verão, de julho a outubro.

Os cientistas afirmam os desastres ambientais têm sido de maior intensidade devido ao aumento das queimadas e por causa dos desmatamentos.

Segundo cientistas, secas e enchentes estão relacionadas também a fenômenos climáticos. A seca anormal do ano passado na Amazônia teve origem, além das queimadas e dos desmatamentos, com o aquecimento do oceano Atlântico, provocando vários efeitos na distribuição pluviométrica.

Já a grande enchente de 1997 foi em conseqüência do fenômeno climático La Niña --aquecimento das águas do oceano Pacífico.

"O ciclo das cheia e da vazante está relacionado a quantidade de chuvas. Estudamos também os efeitos do degelo dos Andes, que pode estar ocasionando mais chuvas", disse o hidrólogo Daniel Oliveira, do Serviço Geológico do Brasil.

Especialista em hidrologia dos rios da Amazônia, Naziano Filizola, da Universidade Federal do Amazonas, afirmou que os extremos, tanto das cheias quanto das secas, possuem tempos de recorrência maiores do que o ciclo anual.

"Esses tempos podem variar de dez, 20, 60, cem ou até mil anos. Em geral a seca ou cheia milenar são extremas das extremas. Prever isso é muito difícil, principalmente, quando a série histórica tem só tem 39 anos [no caso do rio Madeira]. Hoje podemos fazer algo como uma previsão apenas em curtíssimo prazo [menos de 30 dias]", afirmou.

Filizola disse que no Brasil há várias estações hidrológicas monitoradas pela ANA (Agência Nacional das Águas). Um programa desenvolvido pelo Brasil e a França, denominado Hibam, estuda a hidrologia e a geodinâmica da bacia amazônica.

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