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04/05/2006 - 23h15

"Pensão representa só 5% da justiça", diz vítima de erro judicial

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FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife

Para o ex-motorista e ex-mecânico Marcos Mariano da Silva, 57, a pensão de R$ 1.200 concedida pelo governo de Pernambuco como paliativo à indenização a ser fixada pelos 19 anos em que permaneceu preso injustamente "representa só 5% da justiça".

"Saí [do presídio] cego e tuberculoso, perdi tudo o que tinha", declarou ele, em entrevista à Folha. "Mas esse dinheiro vem em boa hora, porque minha família hoje vive de favor."

Silva diz que não tem mais sonhos a realizar. O dinheiro da indenização a ser fixada pela Justiça, afirmou, será distribuído entre os familiares.

"Vou doar também uma parte para duas entidades que tratam da saúde das crianças e dos adultos. Para mim, não quero nada." Leia a seguir, trechos da entrevista de Marcos Mariano da Silva à Folha.

Folha - O que achou da pensão?
Marcos Mariano da Silva - Acho que representa só 5% da justiça. Saí cego e tuberculoso, perdi tudo o que tinha. Perdi o gosto de viver, não tenho mais prazer nenhum. Mas esse dinheiro vem em boa hora, porque minha família vive hoje de favor.

Folha - O que pensa sobre a Justiça e o sistema penitenciário?
Silva - Estão falidos. O Brasil não tem condições de manter metade dos presos que tem. A cadeia é a profundeza dos infernos. Um caldeirão cheio de gasolina prestes a explodir. Acho que 98% dos que estão lá são culpados, mas tem vários casos iguais ao meu. Em todo lugar tem.

Folha - Como foram os 19 anos presos injustamente?
Silva - Na cadeia fui torturado, fiquei com presos perigosos, assassinos e traficantes. Fiquei em uma cela com cinco camas e 48 presos. Levei palmatória, chutes, porrada na cabeça. Levei muito. Mandavam a gente deitar pelado na galeria e pisavam por cima.

Folha - Quem é o culpado por tudo o que passou?
Silva - Quem sou eu para culpar alguém? Perdoei a Justiça e quem fez isso comigo. Mas o culpado mesmo foi a pressão da família da vítima, que queria me ver preso.

Folha - O que pensa do futuro?
Silva - Entrego a Deus. Perdi o gosto de viver, não tenho mais prazer nenhum. Já tentei o suicídio em 1999, mas vi que o caminho não era esse. Quero me dedicar à família.

Folha - O que pretende fazer quando for indenizado?
Silva - Não tenho sonhos. Quero que meu filho curse a universidade. Vou ajudar minhas filhas, meus pais. Vou doar também uma parte para duas entidades que tratam da saúde das crianças e dos adultos. Para mim, não quero nada. Vou doar para que Deus guarde um lugarzinho para mim no céu, e não nas trevas.

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