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12/07/2006 - 18h24

Falta de inteligência da polícia estimula o crime, diz especialista

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CAMILA MARQUES
da Folha Online

Os ataques em série contra as forças de segurança de São Paulo continuam porque o Estado combate o crime com estratégias erradas. A explicação é de Paulo de Mesquita Neto, 45, pesquisador do Núcleo de Violência da USP e doutor em Ciência Política. Segundo ele, já está mais do que provado que partir para o confronto com os criminosos, como tem sido feito, só aumenta a sensação de insegurança da população e a disposição dos criminosos atacarem.

"Claro que o medo vem dos ataques, das mortes. Mas em parte vem da incapacidade do governo em dar uma resposta efetiva a essas ocorrências. A sensação de insegurança está sendo intensificada pela sensação de impunidade. Ela [sensação] vem da percepção de que a polícia é incapaz de prender e o poder público é incapaz de mover processos e punir os culpados. Falta inteligência para o combate do crime", diz Neto.

Entre a noite de terça-feira e a madrugada desta quarta, uma nova onda de violência atingiu diferentes municípios de São Paulo. Segundo balanço divulgado pelo governo do Estado no início da tarde, cinco pessoas foram mortas. Diferentemente da ação promovida em maio e atribuída à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), as novas ações --as maiores desde então-- atingiram também supermercados, lojas de carros e agências bancárias e ônibus foram incendiados.

Até agora, forma identificadas 48 ações criminosas, que atingiram 53 alvos em municípios como São Paulo, Santos, Guarujá, Praia Grande, Santa Isabel, Ferraz de Vasconcelos, Suzano, Osasco, Guarulhos, Mauá, Taubaté, Embu, Pontal, Taboão da Serra, Botucatu, Bragança Paulista, Pindamonhangaba e Poá.

"Os primeiros ataques do tipo ocorreram há quase dois meses e até hoje não há informações disponíveis sobre resultado de inquéritos que apontem quem são os responsáveis. Simplesmente não sabemos se algum processo foi concluído, se algum inquérito policial foi instaurado para responsabilizar esses agressores", afirma Neto.

Para o especialista, a gravidade da questão aumenta porque as vítimas são agentes do Estado. "Parece que eles são incapazes de oferecer uma resposta. E o que dá mais insegurança é pensar que esses são casos que envolvem agentes do Estado, com as mesmas características, não são casos distintos. Além disso, execuções não começaram a ocorrer há dois meses, isso acontece há anos, mas mesmo assim não se sabe como resolver".

Assim, diz Neto, o medo da população vem da dúvida quanto à capacidade real do Estado e da polícia de investigar e do Poder Judiciário em julgar e condenar. "Enquanto isso não acontecer, estaremos incentivando a continuidade desses ataques, demonstrando para todo mundo que quem pratica esses ataques fica impune."

Medir forças

Mudar a estratégia de atuação, segundo Neto, não é uma questão de falta de policiais ou dinheiro --para ele, São Paulo investe bastante em segurança pública--, mas apenas de organização da polícia e aperfeiçoamento do trabalho investigativo.

"O objetivo não pode ser mostrar quem tem mais força. Não é provar que tenho condições de isolar líderes de uma facção criminosa em determinado presídio, ou saber se eles conseguem burlar este isolamento. A questão é que, para cada assassinato, deve ser aberto um inquérito policial, encontrado os responsáveis e as provas para apontar os autores e levar o caso à Justiça".

Neto explica que se a polícia parte para a demonstração de forças, o risco de punição de quem pratica os ataques muda de condição e pode até ser evitado.

"O medo não é ir para a cadeia, mas ser morto em retaliação policial. Claro que não é um risco baixo, mas frente à punição judicial, é algo mais fácil de ser evitado. O bandido pode, por exemplo, pagar na mesma moeda, fugindo e matando o policial primeiro. Ou seja, ele tem opção de fuga. Mas essa possibilidade não existiria num inquérito policial efetivo, em que o culpado não teria chance".

Por outro lado, continua Neto, à medida em que as investigações começarem a mostrar os culpados e os processos judiciais levarem a condenações, "aí sim [os criminosos] vão começar a pensar duas vezes antes de entrar em algum ataque".

Com tal pensamento, colocar o Exército na rua, como pedem tantas pessoas, surtiria um resultado oposto ao ideal. "Em São Paulo, particularmente, vai intensificar o processo de confronto de forças. Na teoria, poderia se pensar que o aumento do efetivo controlaria a crise momentaneamente, mas acho que ocorreria apenas a transferência dos conflitos para as zonas menos policiadas.

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