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Presa diz que padre Júlio ofereceu dinheiro
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da Folha de S.Paulo
Em depoimento à Polícia Civil, Conceição Eletério, presa na sexta-feira sob acusação de extorquir dinheiro do padre Júlio Lancelotti, afirmou ter recebido uma oferta financeira do religioso para que abandonasse o marido.
Ela é casada com o ex-interno da antiga Febem (Fundação Casa) Anderson Marcos Batista, que diz ter tido um relacionamento homossexual com o padre durante oito anos em troca de dinheiro --mais de R$ 600 mil nesse período. Batista também foi preso por extorsão.
Conceição já foi anteriormente acusada de furto e tráfico. Batista já tinha sido acusado de homicídio (processo em andamento) e lesão corporal.
O advogado de Lancelotti, o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh, mandou dizer ontem, por uma assessora, que não comentaria o caso.
No último sábado, Greenhalgh disse que padre Júlio nega o relacionamento sexual com Batista, informação que classificou como calúnia. Disse ainda que o padre é vítima.
Foi o padre Júlio quem tomou a iniciativa de procurar a polícia, em agosto, para denunciar que era vítima de extorsão.
O religioso relatou ter recebido ameaças de agressão física e de que seria falsamente acusado de pedofilia caso não repassasse dinheiro a Batista. Lancelotti disse que entregou dinheiro por medo de agressão e por crer que "poderia mudar as pessoas que o extorquiam".
O padre disse à polícia que repassou a Batista cerca de R$ 80 mil --inicialmente, falou em R$ 50 mil. Sua defesa admite agora que o valor repassado pode chegar a R$ 150 mil.
A polícia pediu ontem sigilo no inquérito que investiga a denúncia de extorsão, mas a Justiça ainda não se manifestou.
Depoimento
No depoimento à polícia, Conceição não diz quanto o padre ofereceu. Diz apenas ter sido uma "grande quantia em dinheiro", que alega ter recusado.
Ela afirma ainda, no depoimento, que padre Júlio teria feito ameaças, como de mandá-la para a prisão. "Ele disse que mandou um bando de policiais para cadeia e para me mandar não necessitaria de muito esforço", relatou Conceição.
A presa disse que desconfiava da amizade entre o marido e Lancelotti em razão das quantias repassadas e do tempo que os dois passavam sozinhos no fundo da igreja após as missas.
Hoje com 25 anos, Batista disse ter conhecido padre Júlio entre 1997 e 1998, quando ainda era interno da Febem. Na época tinha entre 15 e 16 anos.
O ex-interno disse ter conhecido o religioso por intermédio de um colega de Febem, apelidado de "Dunga". Batista disse que tempos depois (não menciona quanto) de ser apresentado, o religioso disse que o amava e começou a presenteá-lo.
O ex-interno relatou que, após fugir da Febem, ficou um período no interior, mas decidiu voltar a São Paulo e procurar o padre. Ele alega que ficou numa pensão paga pelo religioso e começou a receber R$ 1.000 após as relações sexuais.
Também disse que o padre pagou uma advogada, de nome Francisca, para tentar evitar seu retorno à Febem.
O primeiro veículo comprado com a ajuda de Lancelotti teria sido uma moto de R$ 1.200, depois um Monza e, por fim, a camionete Pajero.
No depoimento, Batista descreve supostos detalhes do corpo do religioso, como marcas. Com ele, a polícia apreendeu material avaliado em R$ 30 mil, entre TVs e aparelhos de som.
Promotores da Vara da Infância e Juventude afirmaram não acreditar na versão do ex-interno da Febem.
Alegam que Lancelotti era "persona non grata" pelos funcionários por denunciar diversos casos de tortura e que, se isso fosse verdade, o caso já teria sido revelado.
Com ROGÉRIO PAGNAN, ANDRÉ CARAMANTE e KLEBER TOMAZ
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