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País não tem cadastro de desaparecidos
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LUCAS FERRAZ
Colaboração para a Folha
Num país onde cerca de 40 mil crianças e adolescentes desaparecem por ano, segundo estimativa do Ministério da Justiça, não há nenhuma rede ou cadastro nacional para agregar informações dos desaparecidos. Só em São Paulo, são registradas a metade das ocorrências, cerca de 20 mil.
Além da inexistência de um cadastro nacional, não há comunicação entre as polícias militares, civis e federal, reclamam representantes de ONGs. Segundo eles, as investigações não são conduzidas com "seriedade", o que acaba contribuindo para que muitos casos não sejam solucionados.
"Não há comunicação nem entre a polícia do mesmo Estado", diz Mariza Tardelli, coordenadora do Redesap (Rede de identificação e Localização de Crianças e Adolescentes Desaparecidos), órgão ligado à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência.
A Redesap tenta unificar os dados nacionais em seu site (www.desaparecidos.mj.gov.br), mas, para isso, depende do cadastro de ocorrências, que é feito pelas polícias estaduais.
Uma consulta mostra que o site está totalmente desatualizado. Até o dia 31 de outubro, havia o registro de apenas 1.177 desaparecidos em 2007. Só no Estado de São Paulo, segundo informações da Secretaria da Segurança Pública, foram registradas 17.557 ocorrências de desaparecimentos de crianças e adolescentes com até 18 anos de janeiro até o dia 22 de outubro deste ano.
Para Ivanise Esperidião, presidente da ABCD (Associação Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas), organização conhecida como Mães da Sé, é um "absurdo" o país ter um cadastro nacional para veículos roubados e inexistir um semelhante para crianças desaparecidas. "Esse é um problema social muito grave e o poder público não dá a devida atenção, não se empenha para resolver".
Ivanise criou a Mães da Sé há 11 anos, depois que sua filha desapareceu --ela ainda continua sumida. A organização já ajudou a localizar 1.688 pessoas, entre crianças e adultos. Desse total, 172 foram encontrados mortos.
Wal Ferrão, coordenadora da Mães do Brasil, entidade do Rio, engrossa o coro de críticas. Segundo ela, sempre que o assunto é criança desaparecida as investigações policiais não são levadas adiante. "Não há investigação séria. Já reclamei disso até com o Lula", diz.
Situação de risco
A maioria das crianças que desaparecem viviam em casa sob situação de risco ou enfrentavam algum tipo de conflito familiar, o que resulta na fuga. "Esse é o motivo de 73% dos desaparecimentos", diz Mariza Tardelli. Segundo ela, a Redesap não tem o número de crianças reencontradas.
A situação se agrava ainda mais, afirma Ivanise Esperidião, quando os pais das crianças estão envolvidos com álcool e drogas. "Grande parte dos desaparecimentos são de pobres e estão ligados à prostituição infantil, tráfico de órgãos e adoção ilegal", conta.
A presidente da Mães da Sé critica ainda o fato de São Paulo ter apenas uma delegacia especializada de desaparecidos para atender todo o Estado, o que ela diz ser insuficiente para o número de casos.
Um funcionário da delegacia de desaparecidos, que pediu para não ser identificado, admite que a estrutura é insuficiente para atender a todos os casos. Segundo ele, há apenas 20 investigadores para atender às ocorrências.
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