HC funciona sem atestado dos bombeiros

O Hospital das Clínicas de São Paulo, o maior da América Latina e que enfrentou um incêndio na noite da véspera do Natal, não tem autorização do Corpo de Bombeiros para funcionar, revela reportagem publicada na edição deste sábado da Folha de S.Paulo (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal).

O incêndio provocou correria, obrigou a remoção dos pacientes internados, suspendeu cirurgias e cancelou consultas e exames. Os ambulatórios de especialidades do HC só receberão novos pacientes após o Carnaval. Neste período, os pacientes que foram encaminhados por UBSs (Unidades Básicas de Saúde) para os ambulatórios da rede estadual e que deveriam ir para o HC irão para outros hospitais especializados, como o do Mandaqui.

O atestado de segurança dos bombeiros é, segundo lei de 1975, documento obrigatório para o funcionamento de um prédio como o do HC. Em agosto do ano passado, o Corpo de Bombeiros fez uma vistoria, a pedido do Ministério Público, e concluiu: "Há um risco potencial aos ocupantes da edificação se um sinistro vier a acontecer". O documento é assinado pelo coronel João dos Santos de Souza.

Segundo o ofício, "saídas de emergência, compartimentação, alarmes e detecção de incêndio não atendem às especificações".

De acordo com a reportagem da Folha, o superintendente do hospital, José Manoel Teixeira, disse que o HC não possui a autorização porque ainda é preciso instalar novas portas corta-fogo. Ele afirmou que a falta do documento, no entanto, não compromete a segurança do prédio porque trata-se apenas da modernização de portas já existentes.

O superintendente afirmou, ainda, que outras recomendações dos bombeiros --como recuperação e revisão do sistema de alarme e adequação da iluminação de balizamento-- já foram cumpridas.

O governador José Serra (PSDB) foi procurado pela Folha para comentar a falta de alvará mas, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que não se manifestaria. O HC tem autonomia para gerir seus recursos. Porém, o superintendente é nomeado pelo governador e a coordenação administrativa cabe à Secretaria de Estado da Saúde.

Atendimento

Inicialmente, o HC anunciara a intenção de retomar o atendimento no Prédio dos Ambulatórios no próximo dia 2 de janeiro. No entanto, o funcionamento só deve ser normalizado após o Carnaval. Para o hospital, o desvio de pacientes para outros hospitais pelos próximos 30 dias é necessário para desafogar o complexo.

Somente na sexta-feira (28), 556 consultas e exames originalmente agendados para ocorrer no Prédio dos Ambulatórios foram reagendados. Desde quarta (26), primeiro dia útil após o fogo, mais de 4.000 consultas e exames foram adiados.

Equipes ainda trabalham na limpeza do centro cirúrgico do prédio, que fica no 9º andar. De acordo com a diretoria do HC, quase todo o andar ficou coberto de fuligem após o incêndio e, por isso, tudo precisa ser limpo, esterilizado e testado antes de ser utilizado mais uma vez, sob risco de prejudicar algum paciente. Parte do prédio continua sem energia.

Investigações preliminares indicam que o incêndio começou com um curto-circuito em uma subestação do prédio, e que a fumaça se espalhou por todos os andares pela tubulação de ar-condicionado. O caso é investigado por equipes do Corpo de Bombeiros, do IC (Instituto de Criminalística) da Polícia Civil de São Paulo, do Contru (Departamento de Controle do Uso de Imóveis), da prefeitura, e do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), do Estado.

O Gaesp (Grupo de Atuação Especial da Saúde Pública, do Ministério Público de São Paulo) instaurou na última quinta-feira um inquérito civil para apurar as causas do incêndio ocorrido no Hospital das Clínicas.