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24/02/2008 - 09h38

Pesadelo atômico ainda aflige imigrantes no Brasil

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VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
da Folha de S.Paulo, em Bastos (SP)

Eram 8h15 de 6 de agosto de 1945 no Japão da 2ª Guerra, e Shunji Mukai, à época com 15 anos, lembra hora e minutos exatos em que viu um relâmpago de luz tão brilhante como o sol, seguido de um estampido que o deixou surdo por alguns instantes. Ele estava na Hiroshima da bomba nuclear.

Nem tão longe dali, na ilha de Kyushu, 75 horas depois, Nobuaki Honda, aos nove anos, via igual devastação em Nagasaki.

Eles são "hibaku-shá", vítimas da bomba atômica, numa tradução livre, e vieram para o Brasil na onda da imigração japonesa, que em junho completa o primeiro centenário.

Sessenta e três anos depois, Mukai e Honda -que hoje vivem em Bastos, cidade a 536 km de São Paulo, uma das maiores colônias japonesas no Estado- contam lembranças do terror das explosões atômicas, as únicas lançadas sobre a humanidade.

Mukai tem medo de trovão, ruído que evoca a hecatombe de Hiroshima. Honda, de raios e relâmpagos (a luminosidade o faz lembrar da luz ofuscante sobre Nagasaki).

Imigrantes japoneses para São Paulo em 1955 (Mukai veio no navio África Maru, 53 dias no mar) e em 1960 (Honda foi trazido pelo Brasil Maru em 45 dias), eles integram um subgrupo que vive com a semente do medo da morte prematura por radiação, câncer ou leucemia.

As duas vítimas, por viverem fora do Japão, precisam voltar constantemente para realizar exames e tratamento médico adequados. Os gastos são pagos pelo governo japonês.

Eles carregam um documento, uma caderneta cor-de-rosa, que comprova que estavam em Hiroshima e Nagasaki no dia das explosões, dá a distância do hipocentro das bombas e garante acesso universal a hospitais no Japão. A de Mukai mostra a proximidade de 1.500 metros. A de Honda, uma distância de 3.000 metros.

Fome

O Japão do pós-guerra era outro, um país pobre e devastado. Mukai e Honda passaram fome, o que os faz hoje, dizem, "comer qualquer coisa".

Com irmãos pequenos para sustentar, decidiram embarcar numa viagem incerta a um país desconhecido, de língua e comida estranhas, na esperança de enriquecer facilmente e regressar alguns anos depois.

"Os nossos amigos diziam que no Brasil dinheiro nascia em árvores", diz Honda, que por aqui casou e hoje é aposentado. "Hoje, sou mais brasileiro do que japonês", afirma Mukai. Eles não falam português (a entrevista é traduzida simultaneamente por descendentes).

A bomba matou 140 mil japoneses em Hiroshima, e calcula-se que mais de 340 mil tenham sido expostos diretamente à radiação. Em Nagasaki, estima-se que os mortos foram 74 mil na explosão e mais 70 mil até um ano depois. Décadas depois, as bombas ainda ameaçam saúde e bem-estar de sobreviventes.

 

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