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24/02/2008 - 10h01

"As pessoas fugiam como baratas tontas", diz sobrevivente da bomba de Hiroshima

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da Folha de S.Paulo, em Bastos (SP)

O sol brilha alto --é verão no Japão--, mas Hiroshima está escura como a noite. O ar pesado da nuvem radioativa é sufocante, e o calor que emana da flama branca e incandescente vaporizava os japoneses vivos na morte. O cheiro doce de seres humanos crestados embrulhava o estômago de Shunji Mukai, 15. Ele vomita.

A apenas 1,5 km do local da explosão, Mukai estava na escola às 8h15 de 6 de agosto de 1945. Havia 2.000 alunos. As aulas começavam às 8h. A escola, na verdade, disfarçava uma indústria bélica.

A família Mukai era de seis irmãos, além de pai e mãe. A casa deles ficava a cem metros do centro da explosão, mas às 8h15 só os pais estavam lá.

À queda da bomba, perdeu os sentidos. Ficou desacordado até ser resgatado. "Quando percebi o estrondo, já estava no chão." O grupo saiu dos escombros ferido e estonteado, com sangue a correr dos olhos, da pele e do nariz.

"Todos começaram a fugir como barata tonta", diz Mukai, olhos marejados pela lembrança.

A primeira reação, diz Mukai, foi a de ir na direção de casa, mas as construções em fogo, atiçado pelo vento, o fizerem recuar. A saída era o mar.

Na fuga, uma chuva ácida e radioativa, "negra como lama", queimava como brasa a pele já em carne viva. Cambaleando, buscava abrigo. Roupas haviam-se convertido em farrapos ou se misturado à pele.

Na praia, foi reconhecido pelo irmão, que o levou nos braços para casa, "um monte de carvão, que se esfacelou ao ser tocado".

Alcançaram um refúgio subterrâneo, onde ficam um dia. Mukai ficou dois anos hospitalizado, com queimaduras por todo o corpo. Até hoje tem reações pela radiação na pele, que médicos não sabem decifrar. Sofre ainda de amnésia e desidratação.

Órfão, veio com todos os irmãos para o Brasil. Trabalhou num cafezal de Lins. "Até os 30 anos, pensei: que besteira que fiz. Hoje, vivo feliz."

 

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