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16/09/2002
-
07h47
da Agência Folha, em Muaná
'Em um mês perdi a visão. Meus olhos apenas ardem.' O relato acima é do lavrador Raimundo Pontes, 59. Ele é um dos 66 ribeirinhos da localidade do rio Atuá, no município de Muaná (PA), que configuram um mistério sobre o aparecimento de casos de cegueira e de pessoas que afirmam que estão ficando cegas nessa região.
O caso mobiliza todas as autoridades de saúde do Pará, além do Ministério Público Estadual. As causas ainda são desconhecidas. Promotores e a Secretaria Estadual da Saúde iniciaram as investigações há duas semanas na tentativa de descobrir o que está por trás dos casos de cegueira.
Até agora o Ministério Público ouviu 66 pessoas que afirmaram possuir deficiência visual, sendo que 16 estão cegas de um olho e dez não enxergam nada.
Os principais relatos dos sintomas apontam fortes dores de cabeça, ardência nos olhos, alucinações visuais e visão enfumaçada. Em 90% dos casos, a vista direita é a primeira a ser atingida.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que um índice tolerado no mundo seria de 10 a 20 casos de cegueira, em média, para cada 100 mil habitantes. Em uma população de pelo menos 2.000 habitantes, como as das localidades que beiram o rio Atuá, no sul do arquipélago de Marajó, o índice tolerável seria de 0,2 a 0,4 caso de cegueira.
A OMS também estima em 50 milhões o número de cegos em todo o mundo. Destes, cerca de 1,6 milhão são brasileiros.
Suspeitas
Entre as principais causas investigadas pelos promotores e autoridades de saúde estão contaminação química, origem genética, causas naturais e infecção por insetos -que é a causa menos provável, segundo especialistas.
Poucos moradores têm recursos para procurar um oftalmologista na capital paraense. São oito horas de barco até a sede do município de Muaná e mais oito horas de barco até Belém.
Os casos começaram a ser registrados quase que simultaneamente há dez anos, mas há casos que surgiram há um mês. A idade média da população que apresenta cegueira é de 50 anos, predominantemente homens. Mas há um caso recente de uma jovem de 27 anos que está cega.
'Tem dias em que os olhos e a testa não param de doer. Tudo começou com a vista direita, que fechou, depois não enxerguei mais nada', disse Cleide Coutinho Nunes, que parou de trabalhar na roça quando ficou cega.
A Agência Folha ouviu 33 relatos de ribeirinhos cegos ou que dizem ter deficiência visual. Com a doença, eles deixam de pescar e trabalhar na lavoura, meios de subsistência da população local.
Moradores disseram ao promotor Francisco Lauzid que os casos podem estar ligados a uma contaminação supostamente causada pela prospecção de petróleo. A primeira prospecção na região ocorreu há 40 anos e a última há 15 anos, segundo moradores.
O Ministério Público apura se algum metal pesado ou outros agentes químicos contaminantes foram utilizados durante o trabalho de prospecção.
O Estado formou um grupo de especialistas nas áreas ambiental, de epidemiologia, de oftalmologia e laboratorial para trabalhar no caso. Foram coletadas amostras de água, solo, sangue e fezes da população ribeirinha. O laudo deve ficar pronto em dez dias.
A Secretaria da Saúde de Muaná admite, oficialmente, apenas seis casos de cegueira no município e prefere se manifestar só após a conclusão dos laudos do Estado.
Leia mais:
"Só vejo uma bola preta", diz lavrador do Pará
Médico diz que pode ter havido contaminação no Pará
"Cidade de cegos" mobiliza autoridades no PA
MAURÍCIO SIMIONATOda Agência Folha, em Muaná
'Em um mês perdi a visão. Meus olhos apenas ardem.' O relato acima é do lavrador Raimundo Pontes, 59. Ele é um dos 66 ribeirinhos da localidade do rio Atuá, no município de Muaná (PA), que configuram um mistério sobre o aparecimento de casos de cegueira e de pessoas que afirmam que estão ficando cegas nessa região.
O caso mobiliza todas as autoridades de saúde do Pará, além do Ministério Público Estadual. As causas ainda são desconhecidas. Promotores e a Secretaria Estadual da Saúde iniciaram as investigações há duas semanas na tentativa de descobrir o que está por trás dos casos de cegueira.
Até agora o Ministério Público ouviu 66 pessoas que afirmaram possuir deficiência visual, sendo que 16 estão cegas de um olho e dez não enxergam nada.
Os principais relatos dos sintomas apontam fortes dores de cabeça, ardência nos olhos, alucinações visuais e visão enfumaçada. Em 90% dos casos, a vista direita é a primeira a ser atingida.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que um índice tolerado no mundo seria de 10 a 20 casos de cegueira, em média, para cada 100 mil habitantes. Em uma população de pelo menos 2.000 habitantes, como as das localidades que beiram o rio Atuá, no sul do arquipélago de Marajó, o índice tolerável seria de 0,2 a 0,4 caso de cegueira.
A OMS também estima em 50 milhões o número de cegos em todo o mundo. Destes, cerca de 1,6 milhão são brasileiros.
Suspeitas
Entre as principais causas investigadas pelos promotores e autoridades de saúde estão contaminação química, origem genética, causas naturais e infecção por insetos -que é a causa menos provável, segundo especialistas.
Poucos moradores têm recursos para procurar um oftalmologista na capital paraense. São oito horas de barco até a sede do município de Muaná e mais oito horas de barco até Belém.
Os casos começaram a ser registrados quase que simultaneamente há dez anos, mas há casos que surgiram há um mês. A idade média da população que apresenta cegueira é de 50 anos, predominantemente homens. Mas há um caso recente de uma jovem de 27 anos que está cega.
'Tem dias em que os olhos e a testa não param de doer. Tudo começou com a vista direita, que fechou, depois não enxerguei mais nada', disse Cleide Coutinho Nunes, que parou de trabalhar na roça quando ficou cega.
A Agência Folha ouviu 33 relatos de ribeirinhos cegos ou que dizem ter deficiência visual. Com a doença, eles deixam de pescar e trabalhar na lavoura, meios de subsistência da população local.
Moradores disseram ao promotor Francisco Lauzid que os casos podem estar ligados a uma contaminação supostamente causada pela prospecção de petróleo. A primeira prospecção na região ocorreu há 40 anos e a última há 15 anos, segundo moradores.
O Ministério Público apura se algum metal pesado ou outros agentes químicos contaminantes foram utilizados durante o trabalho de prospecção.
O Estado formou um grupo de especialistas nas áreas ambiental, de epidemiologia, de oftalmologia e laboratorial para trabalhar no caso. Foram coletadas amostras de água, solo, sangue e fezes da população ribeirinha. O laudo deve ficar pronto em dez dias.
A Secretaria da Saúde de Muaná admite, oficialmente, apenas seis casos de cegueira no município e prefere se manifestar só após a conclusão dos laudos do Estado.
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