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20/10/2002
-
00h02
da Folha Online
Uma biografia lançada este mês retrata a vida de Fernando Dutra Pinto, o rapaz que planejou o sequestro de Patrícia Abravanel e surpreendeu ao voltar à casa da vítima e fazer seu pai o empresário e apresentador Silvio Santos- como refém por aproximadamente sete horas, durante tentativa de fuga.
O crime aconteceu em 2001. Com o dinheiro do resgate nas mãos e os comparsas presos, Dutra Pinto trocou tiros com policiais em um flat de Barueri e escapou descendo dez andares pelo lado externo do prédio, em uma ação cinematográfica que terminou com dois policiais civis mortos. Se não fosse o bastante, no dia seguinte, invadiu a casa do empresário. Queria garantias de vida para se entregar. Mobilizou governador e secretário da Segurança do Estado. Morreu na cadeia, quatro meses após ser preso, vítima de infecção generalizada. Tinha 22 anos.
A história virou livro na "voz" do próprio sequestrador. Fascinado pela ousadia do criminoso, o jornalista Elias Awad conseguiu autorização para fazer a biografia e entrar no CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém, zona leste de São Paulo, para registrar as conversas com Fernando.
O livro "Fernando Dutra Pinto: Você Acredita em Mim?" conta, além das narrativas de Dutra Pinto, com depoimentos de pessoas que conviveram com ele, como parentes e amigos. Traz também anexos de depoimentos dados à polícia depois do sequestro, laudos sobre a ação no flat de Barueri e sobre a morte do sequestrador, além de cópias de cartas de solidariedade enviadas por simpatizantes e o curriculum de trabalho de Dutra Pinto.
Apesar de toda a pesquisa do autor e colaboração de Dutra Pinto, as 363 páginas do livro não conseguiram desvendar pontos polêmicos de toda a ação, como por exemplo, o que realmente aconteceu no décimo andar do flat, quando o sequestrador foi surpreendido por policiais civis que faziam campana. Ele foi acusado pelas mortes dos dois policiais.
No entanto, ele nega e afirma que pegou a arma de um deles quando já estava morto, atingido durante o tiroteio. Apesar de ferido, fugiu e conseguiu abrigo até o dia seguinte, 30 de agosto de 2001, quando resolveu voltar à casa de Silvio Santos.
Durante as entrevistas cedidas ao autor, ele preferiu manter a versão, dizendo que havia um processo em andamento, mas disse também que "futuramente" voltariam a falar sobre o flat.
Awad manteve na biografia os depoimentos de parentes, amigos e vizinhos de Dutra Pinto colhidos antes de sua morte para evitar que "defeitos" fossem esquecidos e "virtudes" prevalecessem.
Dutra Pinto queria ser advogado. Era visto como um bom filho, irmão e amigo, inteligente, prestativo, paquerador e ambicioso. Evangélico, deixou de frequentar a igreja por várias vezes para namorar ou praticar pequenos delitos. Queria ser advogado, mas a falta de recursos o levou para a criminalidade.
A inteligência e a lucidez de Dutra Pinto chamaram a atenção do autor.
"O que mais me impressionou foi a inteligência, a lucidez de discernir o certo do errado, como a situação do flat, por exemplo, de ele pensar que se ficasse ali morreria e, então, saiu pela janela (...) Já tinha achado ele muito maluco de sequestrar quem sequestrou e pensar que iria sair impune", disse Awad.
Morte prematura
Por meio de seu advogado, Awad formalizou, com os advogados de Dutra Pinto, o desejo de escrever o livro.
O primeiro encontro com o sequestrador ocorreu em 23 de novembro de 2001. O autor tinha autorização de 90 dias para fazer as entrevistas, "mas sabia que tinha um mês para finalizar [a coleta de informações principais] porque pensava que ele poderia ser transferido de unidade", afirmou.
O último contato de Awad com Dutra Pinto ocorreu em 28 de dezembro. O sequestrador morreu em 2 de janeiro de 2002.
"A história eu já tinha, mas poderia ter obtido mais detalhes", disse.
Fernando Dutra Pinto: Você Acredita Em Mim? (343 páginas)
Autor: Elias Awad
Editora: Novo Século
Quanto: R$ 33
Leia mais sobre o caso Silvio Santos
Leia mais:
Leia trechos do livro "Fernando Dutra Pinto: Você Acredita Em Mim?"
Biografia lembra ousadia de Dutra Pinto, mas não esclarece sua morte
LÍVIA MARRAda Folha Online
Uma biografia lançada este mês retrata a vida de Fernando Dutra Pinto, o rapaz que planejou o sequestro de Patrícia Abravanel e surpreendeu ao voltar à casa da vítima e fazer seu pai o empresário e apresentador Silvio Santos- como refém por aproximadamente sete horas, durante tentativa de fuga.
Divulgação Livro conta vida de Dutra Pinto |
O crime aconteceu em 2001. Com o dinheiro do resgate nas mãos e os comparsas presos, Dutra Pinto trocou tiros com policiais em um flat de Barueri e escapou descendo dez andares pelo lado externo do prédio, em uma ação cinematográfica que terminou com dois policiais civis mortos. Se não fosse o bastante, no dia seguinte, invadiu a casa do empresário. Queria garantias de vida para se entregar. Mobilizou governador e secretário da Segurança do Estado. Morreu na cadeia, quatro meses após ser preso, vítima de infecção generalizada. Tinha 22 anos.
A história virou livro na "voz" do próprio sequestrador. Fascinado pela ousadia do criminoso, o jornalista Elias Awad conseguiu autorização para fazer a biografia e entrar no CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém, zona leste de São Paulo, para registrar as conversas com Fernando.
O livro "Fernando Dutra Pinto: Você Acredita em Mim?" conta, além das narrativas de Dutra Pinto, com depoimentos de pessoas que conviveram com ele, como parentes e amigos. Traz também anexos de depoimentos dados à polícia depois do sequestro, laudos sobre a ação no flat de Barueri e sobre a morte do sequestrador, além de cópias de cartas de solidariedade enviadas por simpatizantes e o curriculum de trabalho de Dutra Pinto.
Apesar de toda a pesquisa do autor e colaboração de Dutra Pinto, as 363 páginas do livro não conseguiram desvendar pontos polêmicos de toda a ação, como por exemplo, o que realmente aconteceu no décimo andar do flat, quando o sequestrador foi surpreendido por policiais civis que faziam campana. Ele foi acusado pelas mortes dos dois policiais.
No entanto, ele nega e afirma que pegou a arma de um deles quando já estava morto, atingido durante o tiroteio. Apesar de ferido, fugiu e conseguiu abrigo até o dia seguinte, 30 de agosto de 2001, quando resolveu voltar à casa de Silvio Santos.
Durante as entrevistas cedidas ao autor, ele preferiu manter a versão, dizendo que havia um processo em andamento, mas disse também que "futuramente" voltariam a falar sobre o flat.
Awad manteve na biografia os depoimentos de parentes, amigos e vizinhos de Dutra Pinto colhidos antes de sua morte para evitar que "defeitos" fossem esquecidos e "virtudes" prevalecessem.
Dutra Pinto queria ser advogado. Era visto como um bom filho, irmão e amigo, inteligente, prestativo, paquerador e ambicioso. Evangélico, deixou de frequentar a igreja por várias vezes para namorar ou praticar pequenos delitos. Queria ser advogado, mas a falta de recursos o levou para a criminalidade.
A inteligência e a lucidez de Dutra Pinto chamaram a atenção do autor.
"O que mais me impressionou foi a inteligência, a lucidez de discernir o certo do errado, como a situação do flat, por exemplo, de ele pensar que se ficasse ali morreria e, então, saiu pela janela (...) Já tinha achado ele muito maluco de sequestrar quem sequestrou e pensar que iria sair impune", disse Awad.
Morte prematura
Por meio de seu advogado, Awad formalizou, com os advogados de Dutra Pinto, o desejo de escrever o livro.
O primeiro encontro com o sequestrador ocorreu em 23 de novembro de 2001. O autor tinha autorização de 90 dias para fazer as entrevistas, "mas sabia que tinha um mês para finalizar [a coleta de informações principais] porque pensava que ele poderia ser transferido de unidade", afirmou.
O último contato de Awad com Dutra Pinto ocorreu em 28 de dezembro. O sequestrador morreu em 2 de janeiro de 2002.
"A história eu já tinha, mas poderia ter obtido mais detalhes", disse.
Fernando Dutra Pinto: Você Acredita Em Mim? (343 páginas)
Autor: Elias Awad
Editora: Novo Século
Quanto: R$ 33
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