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25/11/2002 - 03h20

Líder do PCC diz que Andinho mandou matar prefeito de Campinas

ALESSANDRO SILVA
da Folha de S.Paulo

O depoimento à polícia de um dos principais líderes do PCC reabrirá uma frente de investigação no caso do assassinato do prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, morto a tiros no ano passado, e pode esclarecer o que não se sabe até hoje: a motivação do crime.

O preso José Márcio Felício, o Geleião, um dos fundadores do PCC (Primeiro Comando da Capital), disse à polícia, no último dia 8, que o sequestrador Andinho, apelido de Wanderson Nilton de Paula Lima, 24, mandou seu grupo matar Toninho do PT porque o prefeito planejava desativar linhas de lotação.

O sequestrador afirmou, conforme o depoimento de Geleião, ser dono de algumas peruas clandestinas que seriam afetadas pelas mudanças previstas na cidade.

Geleião disse ter ouvido a versão do próprio Andinho, em uma conversa que tiveram no CRP (Centro de Reabilitação Prisional) de Presidente Bernardes, onde ambos ficaram confinados.

O prefeito morreu em seu carro, na noite de 10 de setembro, após ser baleado no trânsito, perto de um shopping que frequentava todas as segundas-feiras.

Em abril deste ano, Andinho foi indiciado pelo homicídio e, em junho, denunciado pelo Ministério Público, mas sem motivo concreto para o crime. O inquérito diz que ele e outros três comparsas estavam em fuga, após uma tentativa frustrada de sequestro, e mataram Toninho porque o carro dele atrapalhara o caminho.

A informação prestada por Geleião ao delegado Rui Fontes, do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) e aos promotores Roberto Porto e Márcio Sérgio Christino, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), faz parte de uma série de denúncias feitas por ele contra o PCC. Geleião está jurado de morte por antigos companheiros da organização e tenta trocar a ajuda à polícia por proteção e benefícios para sua mulher, presa.

Repercussão
O Ministério Público de Campinas ainda não recebeu o depoimento de Geleião, mas foi avisado do conteúdo dele. "É uma informação importante porque confirma o que consta da acusação, que Andinho foi um dos autores. A questão da motivação, teremos de analisar", diz o promotor Ricardo Silvares, 31, do Gaeco/Campinas.

Em todos os depoimentos que deu desde sua prisão, em fevereiro, o sequestrador negou participação no assassinato. As outras três pessoas que estariam com ele foram mortas pela polícia. Ontem, a Folha não conseguiu localizar o advogado de Andinho.
Segundo a Promotoria, há um inquérito em andamento sobre os negócios do grupo de Andinho. A mulher dele, Luciane Bernardino Seixas, 24, presa em abril por envolvimento com tráfico, disse em depoimento ter linhas de peruas de lotação em nome de "laranjas".

Outra pessoa próxima do sequestrador, o policial civil Rogério Salum Diniz, preso por suposta ligação com a quadrilha, tem uma lotação em nome de sua mulher, informou a Promotoria.

O Ministério Público irá pedir à Justiça que Geleião seja ouvido em Campinas sobre o homicídio.

No mês passado, a principal testemunha de acusação, Cristiano Nascimento de Faria, 25, ex-integrante da quadrilha de Andinho, mudou a versão que havia dado à polícia e, na Justiça, isentou o sequestrador de culpa no caso.

Mudanças
A morte de Toninho atrasou as mudanças, mas não impediu que elas fossem implantadas. O prefeito planejava remodelar o sistema de transportes para pôr fim aos conflitos entre perueiros e empresários de ônibus.

O plano consistia em redistribuir as linhas dos 500 perueiros e diferenciar as tarifas cobradas por vans e pelos ônibus.

A primeira foi tomada em agosto, com o reajuste das tarifas de ônibus de R$ 1 para R$ 1,30. Na ocasião, a prefeitura exigiu um aumento da frota de ônibus.

O próximo passo seria a extinção das linhas de veículos seletivos (microônibus), criadas pelas empresas de ônibus para competir com as peruas. Assim, os perueiros teriam de assumir linhas seletivas, com tarifa maior, e alimentadoras _bairros-terminais.

Outubro de 2001 seria o mês em que se efetivaria a fase final do processo. A morte de Toninho adiou a data para dezembro.

Após o crime, a prefeita Izalene Tiene (PT) incorporou as peruas ao sistema seletivo, determinou as linhas de operação e aumentou a passagem dos alternativos para R$ 1,50. Nos ônibus, ela se manteve em R$ 1,30.

Por meio de um acordo com a prefeitura, os perueiros conseguiram que as linhas alimentadoras não fossem criadas. No início deste ano, eles bloquearam por três dias uma avenida em frente ao Paço Municipal para protestar contra a diferença de presos. A categoria tenta reduzir o valor da passagem com campanhas de abaixo-assinado e medidas judiciais.

Leia mais:
  • Toninho queria remodelar transporte em Campinas

  • PF citou Andinho como suspeito da morte do prefeito de Campinas

  • Sequestrador tem vínculos com o PCC
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