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10/01/2010 - 09h58

Comerciantes de Goiás Velho reclamam de falta de recursos após enchente

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JOHANNA NUBLAT
enviada especial da Folha à Cidade de Goiás

A cidade histórica de Goiás, devastada em uma enchente na virada de 2001 para 2002, virou modelo para a reconstrução da paulista São Luiz do Paraitinga. Só que moradores e comerciantes reclamam que a rápida recuperação teve suas limitações.

Em menos de um ano e meio, as pontes de Goiás Velho, como a cidade é conhecida, já estavam em seus lugares, assim como as belas fachadas coloridas e os calçamentos típicos.

Ainda hoje, porém, os habitantes reclamam que deveriam ter recebido mais recursos. Na maioria dos casos recolhidos pela Folha, os próprios moradores pagaram a mão de obra para a reconstrução de pisos e pintura de paredes.

Quem tinha comércio à beira do rio Vermelho --que transbordou e dividiu a cidade ao meio-- acabou perdendo o local, demolido por se situar em área de risco, e ainda não conseguiu receber a verba da desapropriação. Esse é o caso de Adinair Almeida, 67. Quase dez anos após a enchente, ele ainda tem esperança de recuperar na Justiça o dinheiro da desapropriação de seu terreno. A loja em que alugava máquinas agrícolas ruiu em parte e foi demolida na sequência. Os filhos, que trabalhavam lá, deixaram a cidade por falta de emprego.

Nilton Medeiros, 38, tinha loja de produtos veterinários alugada vizinha à de Almeida. Tudo se perdeu, algo em torno de R$ 120 mil. Apenas há um ano conseguiu limpar o nome na praça, com a herança da mãe. Outra que perdeu tudo no comércio foi Eliane Berquo, 49. "Para o comércio não veio nada de verba, muita gente quebrou e não se levantou. Sinto o peso disso ainda hoje", diz. Ela integrou uma associação formada pelos comerciantes que tentaram conseguir recursos e até uma linha de financiamento. Não conseguiram, conta.

Reuniões com políticos e promessas de ajuda não faltaram, afirma Berquo. "Fico até meio deprimida quando vejo políticos fazendo visitas em áreas afetadas e prometendo dinheiro para reconstruir." A reconstrução de Goiás ocorreu num ano de eleição, assim como será a de Paraitinga.

Berquo também sofreu com a inundação de sua casa e a de sua mãe, Silvia Bueno, 74. Bueno mora a menos de 20 metros da Cruz do Anhanguera. Faz com a mão como foi a queda do monumento --o que foi repetido por outras mulheres da cidade.

Sua casa teve três muros derrubados, parte do piso arrancada e a fachada abalada. Ela diz que pagou pela metade da recuperação e teve que mandar refazer parte do que foi feito pelo grupo que reergueu a cidade --um dos muros, por exemplo, caiu logo após ter sido refeito. "Podiam ter feito muito mais", conclui.

A casa ao lado, de Maria Peixoto, 79, foi uma das que perderam a fachada, que "ruiu como açúcar". Ficou para a dona da casa pagar a mão de obra para recolocação do piso perdido.

Dyogo Crosara, procurador do município, defende que muitas das críticas são infundadas. "As pessoas imaginam que o poder público é obrigado a reconstruir tudo, o que muitas vezes é impossível pela lei." Ele cita a reposição de móveis e das perdas econômicas no comércio. Lembra que houve apoio com a suspensão do pagamento do IPTU da área central naquele ano e afirma que a retomada da desapropriação ocorrerá em breve.

Diz ainda que o Iphan atua prioritariamente na fachada e no telhado das edificações, mas que, na enchente em Goiás, acabou reerguendo também a estrutura interna das casas.

O trabalho de reparação dos danos na cidade foi coordenado por Salma Saadi, superintendente do Iphan no Estado de Goiás. Ela foi enviada a São Luiz do Paraitinga para auxiliar os trabalhos de restauração a partir da experiência em Goiás.

A água que carregou móveis, paredes e até a Cruz de Anhanguera --situada no centro da cidade-- transbordou do rio após uma forte chuva entre os dias 30 e 31 de dezembro de 2001, subindo cinco metros e inundando a cidade.

A cidade ainda celebrava o título de patrimônio histórico da humanidade, concedido pela Unesco no mesmo ano.

Segundo levantamento do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), 130 edificações do centro histórico ficaram avariadas, tendo cinco tido perda total (incluindo a cruz). A estimativa dos gastos envolvidos na reconstrução variam de R$ 8 milhões a R$ 10 milhões, consideradas verbas federais, estaduais e municipais e de empresas públicas e privadas.

 

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