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14/07/2003 - 18h24

Tiroteio mata um e leva pânico a favela no complexo da Maré (RJ)

FABIANA CIMIERI
da Folha de S.Paulo, no Rio

Um tiroteio de seis horas de duração entre traficantes rivais aterrorizou hoje de madrugada os moradores da favela Baixa do Sapateiro, no complexo da Maré (zona norte do Rio). A polícia chegou ao local 13 horas depois, apesar de haver um batalhão da PM (Polícia Militar) dentro do complexo, a cerca de 2 km do ponto onde houve a troca de tiros. Um suposto traficante morreu.

O batalhão da Maré foi inaugurado pelo secretário estadual de Segurança Pública, Anthony Garotinho, no último dia 30. Na ocasião, panfletos atirados de um helicóptero informavam que "a paz está chegando".

"Entra nessa rua. É show de bala!", disse um morador do complexo à Folha, indicando o local do confronto.

A. C. Fernandes/Folha Imagem

Casa atingida por, pelo menos, 113 balas no Rio
A rua a que o morador se referiu é a do Serviço. Numa casa na esquina com a rua da Paz, a Folha contou pelo menos 113 tiros na fachada. Os buracos feitos por balas de fuzis tinham 8 cm de diâmetro. "Por sorte, os três inquilinos não estavam em casa", disse o proprietário Cesinando Pereira.

Às 11h, a Folha encontrou o corpo de um homem em um beco e comunicou ao tenente-coronel Álvaro Rodrigues Garcia, comandante do 22º BPM (Batalhão de Polícia Militar), que funciona no prédio inaugurado por Garotinho. Garcia disse que não sabia da existência do morto, que seria traficante e, até a conclusão desta edição, não havia sido identificado. Ele foi baleado na cabeça.

Moradores da rua do Serviço reclamaram que a inauguração do batalhão serviu apenas para dar segurança aos motoristas que passam pela avenida Brasil e pela Linha Vermelha, vias expressas nas margens do complexo.
"Eles reclamam que a polícia não esteve no local, mas eu vou reclamar também que eles não dão informações", afirmou Garcia.

"Chamar a polícia para que? Eles não vêm, têm medo. Chegam aqui de dia, dez horas depois de um tiroteio que durou a noite toda", disse o dono da casa esburacada.

Os seis policiais do PPC (Posto de Policiamento Comunitário), que fica a 200 m da casa, não interferiram no tiroteio nem pediram reforço aos 250 homens que estavam a serviço do batalhão durante a madrugada.

O tenente que se identificou apenas como Souza, responsável pelo posto ontem à tarde, disse que o barulho dos tiros não deve ter sido ouvido pela equipe de plantão durante a madrugada. Ele minimizou o acontecimento: "Não foi assim como o pessoal está falando. Deram uns tirinhos, que sempre tem, aqueles rotineiros".

Ninguém dorme

Das 23h de ontem até as 5h, os moradores da Baixa do Sapateiro se protegeram dos tiros. Traficantes subiram nas lajes, atiraram no transformador de luz, em caixas d'água, nas casas. Os moradores passaram a noite acordados, deitados no chão, nos fundos das casas às escuras.

Desde a madrugada de sexta-feira, traficantes da favela Vila do João, ligados a Paulo César dos Santos, o Linho, tentam invadir a Baixa do Sapateiro, controlada por Nei da Conceição Cruz, o Facão.

Líderes da facção criminosa TC (Terceiro Comando), Linho e Facão eram aliados até o ano passado. Eles brigaram por causa do controle dos pontos-de-venda de drogas no complexo. Linho é aliado da ADA (Amigo dos Amigos). Facão é um dos criadores do TCP (Terceiro Comando Puro), uma dissidência do TC.

De acordo com o Censo 2000 do IBGE, a Maré é o maior complexo de favelas do Rio, com 113.807 habitantes em 16 comunidades.

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