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14/07/2003
-
18h36
da Folha de S.Paulo, no Rio
A manicure Mara Silva, 28, contou ter passado a madrugada deitada no chão, abraçada à filha de sete anos. Ela disse que traficantes andaram sobre a laje de sua casa durante a madrugada. Os tiros estouraram sua caixa d'água.
"Ela [a filha] estava morrendo de medo e quis fazer xixi duas vezes. Nós duas fomos andando de quatro até o banheiro, com os tiros comendo. Ela, tampando os ouvidos com força, dava pena", afirmou Silva, que não disse o nome da filha.
Para os mais novos, a violência faz parte da rotina. Marília, 10, mora na rua do Serviço desde que nasceu. Hoje, ela falava sobre o tiroteio com colegas que moram em ruas mais distantes.
"Tenho medo não. Já estou acostumada. Isso aqui é todo dia", disse ela.
Como Marília, outras crianças fizeram questão de ver o cadáver do desconhecido morto no tiroteio. Ele foi assassinado com crueldade: tinha uma chave de boca enterrada no olho esquerdo. Um tiro de fuzil destruiu parte de sua cabeça.
Uma estudante de 17 anos, também moradora da rua, afirmou não se conforma com a rotina de barbárie. Ela disse ter saudades da época em que podia ir a festas à noite. Agora, após as 19h, ninguém mais sai de casa, contou. "Isso aqui parece Bagdá", comparou.
Os moradores dizem que, na hora do tiroteio, deitaram no chão. Eles afirmam que nada viram, pois não tiveram coragem de olhar para fora das casas.
Passado o susto, eles fazem críticas à suposta ausência do Estado no complexo.
"Onde estão todos esses 250 homens [policiais militares] que ele [Anthony Garotinho, secretário estadual de Segurança] disse que botou aqui?", perguntou o comerciante que se identificou como Carlos, dono de uma padaria que teve os vidros quebrados pelos tiros.
"Aquele batalhão que construíram é dinheiro perdido. Melhor seria ter construído casas para os pobres", disse o vendedor Cesinaldo Pereira, dono da casa alvejada por mais de cem tiros. "Tomei só um prejuizozinho básico", resignou-se.
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FABIANA CIMIERIda Folha de S.Paulo, no Rio
A manicure Mara Silva, 28, contou ter passado a madrugada deitada no chão, abraçada à filha de sete anos. Ela disse que traficantes andaram sobre a laje de sua casa durante a madrugada. Os tiros estouraram sua caixa d'água.
"Ela [a filha] estava morrendo de medo e quis fazer xixi duas vezes. Nós duas fomos andando de quatro até o banheiro, com os tiros comendo. Ela, tampando os ouvidos com força, dava pena", afirmou Silva, que não disse o nome da filha.
Para os mais novos, a violência faz parte da rotina. Marília, 10, mora na rua do Serviço desde que nasceu. Hoje, ela falava sobre o tiroteio com colegas que moram em ruas mais distantes.
A. C. Fernandes/Folha Imagem Vítima de tiroteio na favela Baixa do Sapateiro |
Como Marília, outras crianças fizeram questão de ver o cadáver do desconhecido morto no tiroteio. Ele foi assassinado com crueldade: tinha uma chave de boca enterrada no olho esquerdo. Um tiro de fuzil destruiu parte de sua cabeça.
Uma estudante de 17 anos, também moradora da rua, afirmou não se conforma com a rotina de barbárie. Ela disse ter saudades da época em que podia ir a festas à noite. Agora, após as 19h, ninguém mais sai de casa, contou. "Isso aqui parece Bagdá", comparou.
Os moradores dizem que, na hora do tiroteio, deitaram no chão. Eles afirmam que nada viram, pois não tiveram coragem de olhar para fora das casas.
Passado o susto, eles fazem críticas à suposta ausência do Estado no complexo.
"Onde estão todos esses 250 homens [policiais militares] que ele [Anthony Garotinho, secretário estadual de Segurança] disse que botou aqui?", perguntou o comerciante que se identificou como Carlos, dono de uma padaria que teve os vidros quebrados pelos tiros.
"Aquele batalhão que construíram é dinheiro perdido. Melhor seria ter construído casas para os pobres", disse o vendedor Cesinaldo Pereira, dono da casa alvejada por mais de cem tiros. "Tomei só um prejuizozinho básico", resignou-se.
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