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21/03/2004 - 22h03

Brasil comemora Dia da Água com estiagem no Sul e alagamentos no NE

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LÍVIA MARRA
Editora de Cotidiano da Folha Online
CARLOS FERREIRA
da Folha Online

Escassa em alguns locais, abundante em outros, e maltratada pela poluição gerada pelo homem, a água é motivo de uma data mundial, lembrada nesta segunda-feira.

Fonte da vida, como diz o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, a água também destrói. Durante o verão, ao menos 211 pessoas morreram em conseqüência das chuvas que castigaram 1.213 municípios de 19 Estados, além do Distrito Federal, segundo dados do Ministério da Integração Nacional. Enquanto isso, Estados do Sul, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, decretaram, nos últimos meses, estado de emergência em dezenas de municípios por causa da seca. Em São Paulo, moradores convivem com o risco de um racionamento.

"Se bem conduzido, [a água] é um recurso renovável. Ele não cresce, mas é renovável", afirmou Marcos Freitas, 41, diretor de Tecnologia e Informação da ANA (Agência Nacional de Águas).

"A situação é relativamente complexa porque neste ano, além dos problemas já comuns, como a poluição, falta d'água em alguns locais --seja por desperdício ou pelo excesso de concentração de pessoas em áreas com pouca água--, tivemos o efeito de eventos críticos: mais chuvas que a média em algumas regiões, incluindo o Nordeste", disse.

De acordo com ele, a discussão sobre a emissão de alertas meteorológicos faz parte das atividades deste Dia Mundial da Água. "Os alertas significam dizer que a água está chegando. Estimular a integração da meteorologia com a hidrologia para salvar vidas faz parte da discussão", disse.

Para Freitas, um dos motivos de comemoração da data é o fato de a legislação ter "evoluído com rapidez" para uma organização do sistema para gestão de água, ou seja, o que era gerido por rio, agora é gerido por bacia hidrográfica. "O que melhora muito do ponto de vista do controle ambiental porque não adiantava controlar um ponto do rio se um camarada poluísse para trás ou tirasse toda a água. Ver a bacia como um todo é mais fácil de estabelecer o cronograma de gestão", afirmou.

Na opinião de senadores, o Congresso Nacional deveria aproveitar o Dia Mundial da Água para uma reflexão sobre a poluição dos recursos hídricos e a má distribuição do acesso à água no país, de acordo com informações da Agência Senado, que afirma ainda que o país detém 12% do total mundial de água doce do planeta, "um volume que poderia garantir o abastecimento farto de toda a população".

Poluição

Segundo o diretor da ANA, o não-tratamento de esgoto é o pior poluidor das águas. "O grande problema é que ainda não se tem um marco regulatório do setor de saneamento", afirmou. De acordo com ele, o governo federal deve tratar sobre o assunto neste ano.

Freitas afirma que em São Paulo um grupo já atua, ao lado do governo estadual, para resolver o problema de um "triângulo complicadíssimo entre o Piracicaba, o Tietê e o Paraíba do Sul".

"O Piracicaba dá 35 m³ para São Paulo, para o abastecimento do Cantareira e já está esgoelado. Precisa haver uma situação mais equilibrada. O Tietê, por sua vez, precisa de situações que melhorem o tratamento de esgoto". Ele disse que são vistos "com bons olhos" as tentativas de despoluição realizadas pelo governo do Estado.

Já no Rio, a preocupação recai sobre o Guandu, onde, de acordo com Freitas, é necessária uma quantidade maior de água para "diluir" a poluição.

"Dois terços da água do Paraíba do Sul são transpostos para abastecer o Guandu e nos últimos anos já há problemas de falta d'água no Paraíba do Sul. Precisamos reduzir essa transposição para algo que seja 10%, 15% ou 20% menos, e isso pode ser feito sem comprometer o abastecimento, desde que a água que chegue no Guandu esteja menos poluída".

Como processo de melhoria, Freitas cita o lago Paranoá, em Brasília. "Era um lago que no fim da década de 80, início de 90, era quase um esgoto a céu aberto e hoje é um lago que tem visibilidade de até 10 metros de profundidade. Foram instaladas estações de tratamento e atualmente as pessoas usam o lago para mergulhar. Essa água é quase um reuso constante para Brasília, que tem parte abastecida pela água do lago, que é tratada."

Desde outubro de 2003, o aviador Gérard Moss percorre o país a bordo de um hidroavião transformado em 'laboratório aéreo'. É a expedição Brasil das Águas, uma parceria com a ANA para monitorar a situação das águas no país.

"E já tem dado resultados interessantes. O Tietê, num raio de 200 km de São Paulo, encontramos água com boa qualidade, que é um efeito das barragens", afirmou Freitas.

Bacia Amazônica e Aqüífero Guarani

Um acordo com sete países vizinhos é a novidade da ANA para discutir um projeto de gestão das águas da bacia amazônica. "É um marco, por que é a maior bacia hidrográfica do planeta. Além disso, em relação à bacia amazônica, somos águas abaixo, ou seja, podemos sofrer com atitudes dos vizinhos. Precisamos ter noção do que fazem atualmente e do querem fazer no futuro países como Peru, Equador, Colômbia", disse Freitas.

Ele afirma que o acordo já foi estabelecido com os países envolvidos, mas o projeto ainda está em fase de implementação.

Outro projeto envolve Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina para conhecer o Aqüífero Guarani. O projeto é coordenado pelo Brasil, a partir da sede do Mercosul, na Argentina.

O aqüífero Guarani tem 1,2 milhão de km². Da área total do reservatório, 71% está no Brasil, 19% na Argentina, 6% no Paraguai e 4% no Uruguai.

"Boa parte do abastecimento das grandes cidades vem de águas subterrâneas. Em São Paulo há mais de 30 mil poços perfurados --10 mil são controlados, se sabe onde estão localizados, mas outros são totalmente irregulares, com taxa de crescimento a 5% ao ano", disse.

"A partir do momento que se começa a conhecer as águas, os Estados podem atuar de maneira mais equilibrada porque água subterrânea, pela legislação, é função dos Estados. Mas começa-se um processo de conhecimento das águas subterrâneas."

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