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10/06/2004 - 03h53

Auditoria sugere "inchaço" na coleta de lixo em SP

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SÍLVIA CORRÊA
da Folha de S.Paulo

Auditorias feitas pelo Tribunal de Contas do Município indicam que algumas amostras do lixo paulistano pesam o dobro do que prevêem estudos do setor.

A constatação pode ser um indício de que as toneladas coletadas --base do pagamento às empresas de limpeza-- são artificialmente aumentadas na cidade --com acréscimo de água ou entulho, por exemplo, ou pela simples manipulação dos dados.

A suspeita inicialmente levantada na gestão de Paulo Maluf (1993-1996) ressurgiu em auditoria de 2002, já na administração de Marta Suplicy (PT).

Apesar disso, foi o total de lixo coletado em 2002 a base dos cálculos que fixaram regras para a concessão do sistema por 20 anos.

O alerta foi disparado quando o TCM analisou os registros feitos pelo Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana) sobre o peso e o volume das carretas que deixam os três transbordos municipais --onde os resíduos domésticos são despejados pelos caminhões e embarcados para os aterros.

Em 1996, a relação massa/volume indicava que a densidade média do lixo nas carretas era 0,65 tonelada por m3, com pico de 1,04 t/ m3 --índice equivalente a mais de um terço da densidade do alumínio e tido como "totalmente improvável" por técnicos do setor.

Como os valores da auditoria foram obtidos por meio dos registros feitos pela prefeitura, o TCM sugeriu que o governo fizesse uma análise experimental da densidade do lixo transbordado e fixasse regras para barrar desvios.

Em junho de 2002 --seis anos após tal recomendação e diante da falta de adoção de medidas--, a análise foi refeita pelo TCM na saída dos transbordos Vergueiro, Ponte Pequena e Santo Amaro.

O tribunal relacionou o peso e o volume de seis carretas, registrados em quase mil viagens. Resultado: densidade de até 0,775 t/m3.

O índice é quase o dobro do tido como provável nos manuais do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) --0,4 t/m3 nos transbordos-- e supera, inclusive, a compactação nos caminhões. "O fabricante do caminhão de coleta promete uma compactação de 0,6 t/m3. Dificilmente o equipamento terá uma produtividade maior. Por isso, o índice [apontado pelo TCM] está de fato um pouco alto", afirma o engenheiro Alexandre Naumoff, do IPT.

Estudos repetidos pelo instituto em várias cidades desde meados dos anos 90 --inclusive em São Paulo-- recaem sempre em três faixas de densidade para o lixo domiciliar: 0,2 t/m3 nas residências, 0,6 t/m3 nos caminhões e 0,4 t/m3 no transbordo.

Os dados são usados pelo IPT para projeção de estações de transbordo e usinas de compostagem e foram adotados pela prefeitura na fixação da taxa do lixo.

Apesar da discrepância entre os registros públicos e as experiências técnicas, as medidas sugeridas pelo tribunal seguem engavetadas no Limpurb.

O TCM pede, basicamente, que a prefeitura defina na prática a densidade do lixo da cidade e que controle o indicador, barrando veículos com cargas suspeitas. É também o que defende o IPT, devido à homogeneidade do lixo.

Convidada a se manifestar sobre o assunto em ofício datado de 28 de agosto de 2002, a prefeitura nunca respondeu ao TCM.

À Folha, o governo reconheceu que não tem controle da densidade do lixo e que o pagamento por tonelada pode gerar "distorções". Questionado sobre o que fez para reverter o cenário, o diretor do Limpurb, Fabio Pierdomenico, disse que o "importante não é o que se fez ou não se fez, mas o fato de a prefeitura estar licitando uma realidade diferente".

Ele se refere à licitação em vigor para a concessão da limpeza, na qual uma tarifa fixa deve substituir o pagamento por peso de lixo.

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