Caro
Dimenstein,
Preciso
discordar do seu artigo "Essa crise política
é uma farsa". Você reduz o episódio
da apreensão de documentos da empresa Lunus,
de Sarney, a uma decisão judicial absolutamente
descolada da política. Isso contribui para piorar
o nível intelectual e moral do estudante de ética
e cidadania em nestes tristíssimos e sombrios
tempos tucanos.
Visitando
frequentemente a sua página, "Projeto Aprendiz",
vejo o quanto é rica, diversificada, interessante
e presta serviços extraordinários aos
estudantes. Recomendo-a sempre aos meus alunos. Mas
preciso fazer a ressalva: ao conseguir tanto patrocínio
de empresas privadas e estatais você está
definitivamente comprometido com o poder constituído
neste país e, claro, isto limita a sua consciência
possível quanto à radical percepção
da realidade.
Para
usar os adjetivos que você mesmo emprega em seu
artigo, é preciso ser muito ignorante - ou fazer-se
de ignorante, ou estar comprometido com o poder constituído,
como parece ser o caso - para julgar que algo deste
porte tenha "estourado" como escândalo
justamente neste momento por mera coincidência.
É de se supor que Roseana e outros associados
do presidente Fernando Henrique Cardoso, venham fraudando
a SUDAM há muito tempo. Que interesses teriam
levado a uma investigação justamente neste
momento?
A
uma primeira análise, penso em duas hipóteses:
1)
Trata-se de um meio de, por vias tortuosas, alavancar
ainda mais a campanha da candidata a partir do apelo
advindo de uma queixa e grande marketing informando
da "truculência" e "arbitrariedade"
que pode lhe angariar simpatias. FHC pode estar "jogando
duplo": apóia Serra abertamente mas reforça
a candidatura de Roseana particularmente entre aqueles
que têm alguma restrição ao governo
FHC mas se mantém na órbita do conservadorismo.
2)
Trata-se de medida voltada simplesmente a forçar
Sarney a aceitar a vice-presidência na chapa de
José Serra após grande costura política.
O
PFL está no poder há 38 anos, no mínimo,
e, sempre que se afastou aparentemente do poder foi
temporariamente (e mesmo assim mantendo alguns espaços
dentro do ventre do monstro, como ocorre neste momento)
por perceber ser este o melhor caminho para manter-se
e perpetuar-se mais adiante.
Naturalmente,
você em breve estará em bons termos com
o novo poder dos pefelistas, tal qual aderiu tão
acriticamente ao projeto político nefasto de
FHC a ponto de cegar-se e tornar-se incapaz de ver o
óbvio: esta manobra política palaciana,
neste exato momento histórico, pode ser uma porção
de coisas, menos coincidência...
Lázaro
Curvêlo Chaves - lazarochaves@uol.com.br
Professor de história
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