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maranhão
28/10/2004

Leite de cabra erradica desnutrição infantil

O Programa Leite Vida é um exemplo de como uma idéia simples pode transformar a vida de muitas pessoas. A partir da criação de cabras, a cidade de Timon, no interior do Maranhão, desenvolveu uma iniciativa para erradicar a desnutrição infantil em suas comunidades desfavorecidas. Com aproximadamente 130 mil habitantes, Timon está situada na divisa com o Piauí, ficando a 426 quilômetros de São Luis, capital do Maranhão, e apenas 11 de Teresina, capital do Piauí. Apesar do nome de origem nobre (Timon foi um pensador grego), a cidade sofre com problemas bem comuns: segundo o IBGE, parte de sua população vive abaixo da linha de pobreza.

Para combater a miséria e melhorar a qualidade de vida das famílias, há um ano a prefeitura criou o programa Leite Vida, cadastrado no Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil. A idéia não podia ser mais fácil de executar: cada participante recebe três cabras para ordenhar e a comunidade recebe um macho reprodutor. Ao final de dois anos, os beneficiados devolvem três crias fêmeas que serão repassadas para outras famílias, dando continuidade ao projeto.

As famílias mais pobres são selecionadas por uma comissão da prefeitura e participam de um curso de capacitação de 24 horas no qual aprendem noções de gestão, associativismo e cooperativismo. “Queremos evitar o assistencialismo e realmente dar a essas famílias um novo meio de vida”, diz Raimundo Rômulo Costa Rocha, um dos veterinários que faz o acompanhamento técnico do programa.

Para dar assistência, dois engenheiros agrônomos e dois médicos veterinários da prefeitura fazem visitas constantes às comunidades. Na fase inicial, as visitas são semanais, depois quinzenais e, eventualmente, mensais. Todo esse trabalho tem como objetivo tornar os moradores aptos a passar o projeto adiante.

Além disso, a prefeitura fornece medicamentos e reforço alimentar para os animais alocados nas comunidades onde o projeto foi implantado, embora esta medida seja temporária. Para sua implantação, são gastos inicialmente de 10 a 15 mil reais. A manutenção mensal para as cerca de 40 famílias atendidas na primeira etapa foi de quatro mil reais.

Inicialmente, o programa Leite Vida foi instalado em duas comunidades de Timon, no Planalto Boa Esperança (na área urbana) e em Mata Pasto (na zona rural), em março de 2003. Quarenta famílias aderiram, 20 em cada local, e receberam um total de 122 animais (60 fêmeas e um macho por comunidade). Menos de dois anos depois, o rebanho conta com 280 animais nas duas comunidades, um aumento de 130%. “Se as famílias não vendessem os machos que nascem, cada comunidade teria mais de 200 animais”, acredita o doutor Rômulo.

Juntas, todas essas cabras produzem uma média de 25 litros de leite por dia. O leite é todo aproveitado na comunidade, servindo como fonte de nutrição para as crianças de até seis anos. Além do leite, o esterco produzido pelas cabras é vendido como adubo e, em menor escala, a carne é aproveitada para consumo próprio. Futuramente, a prefeitura, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, pretende ministrar cursos de aproveitamento do leite, para ensinar os participantes do projeto a produzirem queijo, iogurte e outros derivados do leite para a venda.

Implantação
Embora o programa exista há pouco tempo, seus efeitos já podem ser sentidos nas comunidades. Dalvanira Elias da Silva tem cinco filhos e participa do projeto desde sua implantação, há um ano e sete meses. Ela é moradora de Planalto Boa Esperança, que possui apenas um telefone, um orelhão próximo à horta comunitária. “Antes do programa era muito difícil, o pessoal daqui é muito pobre”, diz ela. Como as outras famílias, ela recebeu as três cabras, que produzem três litros de leite por dia. “A qualidade do leite é muito boa, melhorou em muito a saúde das crianças. Hoje, elas não são mais pálidas, não têm feridas na boca, nem gripe permanente.”

Dona Dalva, como é conhecida, foi uma das pessoas escolhidas para auxiliar nos cursos de capacitação da prefeitura: “Muita gente daqui não sabe cuidar das cabras, nem tirar leite. Como eu sabia, me pediram para ensinar aos outros.” Desde então, ela vem passando esse conhecimento adiante, para os seus vizinhos, que vão sendo integrados ao projeto conforme as primeiras famílias vão devolvendo suas crias, o que já vem acontecendo, mesmo que o prazo de dois anos não tenha acabado ainda.

“Isso contribui para a expansão do projeto, pois, conforme vamos recebendo as crias, já as repassamos para outras famílias”, diz Maria Orcélia Rodrigues de Sousa, subsecretária municipal de Assistência Social.

Além das duas comunidades iniciais, mais cinco novas foram incluídas. Três em assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra, nas localidades de Juliana, Coeb1 e Boa Esperança, sendo cinco famílias em cada uma, num total de 45 cabras e três reprodutores. Além dessas, mais uma foi instalada em Bambu, no mês de setembro, com dez famílias e outra, ainda em fase de instalação, em Açude, que conta com apenas quatro famílias.

Atualmente, o Leite Vida corre risco de extinção. “É um projeto caro, que exige muitos esforços e muitos recursos. Vamos fazer de tudo para que ele continue existindo, mas não temos nenhuma garantia”, diz Maria Orcélia.

REGINA MONTENEGRO
da Fundação Banco do Brasil

 
 
 

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