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justiça social
29/10/2004

Vídeo sobre a questão da fome em linguagem para jovens

"Há dois caminhos diante de nós: o caminho do pão e o caminho da bomba atômica. É preciso escolher sem vacilação. Eu simbolizo pelo caminho do pão, o caminho da justiça social para dar pão a todos os que têm fome”, escreveu Josué de Castro (1908-1973), médico pernambucano, no artigo intitulado Aos Pobres Pertence o Reino da Terra.

Em homenagem a ele, durante a reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), realizada no dia 26 de outubro, foi realizado o pré-lançamento do vídeo Josué de Castro – Por um Mundo sem Fome, de Tânia Quaresma. O documentário faz parte do Projeto Memória, da Fundação Banco do Brasil. No dia 25 de novembro o vídeo terá seu lançamento no Rio de Janeiro.

Após a apresentação da obra, o presidente do CONSEA, Chico Menezes, lembrou que Josué de Castro é patrono do conselho, o que faz com que o vídeo tenha uma importância particular para seus membros. “O vídeo tem papel especial para nós e para o público jovem, para o qual é direcionado, entendo que colocou o assunto de uma forma muito boa. Não infantiliza a questão, mas torna acessível um tema que é de todos”, comentou.

O presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena, ressaltou o orgulho da instituição ao homenagear um brasileiro como Josué de Castro, que morreu no exílio, sem nunca ter abandonado seus ideais. Ele lembrou ainda que o vídeo produzido a partir da parceria entre a Fundação, a Petrobras e o Centro Josué de Castro do Recife, “poderá ser usado no trabalho que está sendo feito no combate à fome no Brasil”.

Jacques Pena aproveitou a oportunidade para anunciar que, em 2005, o Projeto Memória irá homenagear o professor Paulo Freire. O projeto existe desde 1997 e foi criado para valorizar a cultura e a história do nosso país, destacando personalidades e celebrando fatos que ajudaram a construir a identidade nacional e fortalecer a cidadania do povo brasileiro.

Produção
O vídeo será distribuído em cinco mil bibliotecas públicas brasileiras. Utilizar uma linguagem dirigida aos jovens não foi uma dificuldade para a diretora Tânia Quaresma, que trabalha desde 1989 com o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, onde ensina sobre os conceitos de comunicação áudio-visual e realiza oficinas de vídeo.

A produção exigiu o trabalho de quinze profissionais, durante três meses, e se baseou no depoimento de diversas pessoas sobre o personagem central e também sobre a questão da fome, a partir da descrição do dia-a-dia de comunidades excluídas.

O cenário principal é a Ilha de Deus, no Recife. Uma comunidade carente, com cerca de 1,5 mil pessoas. O local foi escolhido porque Josué de Castro teve grande parte de seu trabalho nos mangues do Recife.

O resultado foi uma obra produzida junto com os moradores desta comunidade, em um mês de viagem pela região e quinze dias de convivência diária com os moradores da Ilha de Deus. Crianças e adultos aparecem no vídeo contando a história de Josué de Castro a partir do que aprendiam em oficinas realizadas pela equipe de produção do vídeo.

“Nós gravávamos e já os mostrávamos para eles mesmos. Também mostrávamos depoimentos de outras pessoas sobre o Josué. Isso foi muito interessante, porque as pessoas da comunidade se reconheciam e passaram a se reconhecer no que Josué de Castro dizia”, lembra Tânia Quaresma.

Entre outros, há depoimentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do cantor e compositor Chico Science, do senador Cristovam Buarque, do assessor especial da Presidência da República, Frei Betto, e da filha de Josué de Castro, a socióloga Anna Castro.

O depoimento de Lula é fragmento de um discurso onde ele se diz seguidor do “homem que escreveu a Geografia da Fome”. Este homem é Josué de Castro. O presidente da República faz as crianças rirem com seu jeito engraçado de contar o passado triste. Ele lembra histórias de quando era criança, de quando levava marmita para o trabalho e das vezes que teve vergonha “por não ter mistura para acompanhar o feijão com arroz”.

O senador Cristovam Buarque destaca, em seu depoimento, que Josué de Castro “percebeu, antes de todo mundo, que é preciso aumentar a riqueza, mas também diminuir a pobreza, e que estas duas coisas não são iguais”.

Desta percepção resultaram 29 livros, traduzidos em 25 idiomas. Entre eles, Homens e Caranguejos (1967), Geopolítica da Fome (1951) e Geografia da Fome (1946). Além de médico e escritor, Josué também foi cientista, professor e político, tendo sido eleito deputado federal pelo estado de Pernambuco por duas vezes.

Em 1952, Castro chegou à presidência do conselho executivo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Após deixar o cargo, em 1957, fundou a Associação Mundial de Luta contra a Fome (ASCOFAM). Em 1963 e 1970, recebeu indicações para o Prêmio Nobel da Paz.

A diretora Tânia Quaresma conta que uma das líderes comunitárias da Ilha de Deus, conhecida como Beró, se sensibilizou ao ver os trechos gravados que iam sendo apresentados durante a produção e compôs uma música em homenagem a Josué de Castro. A canção encerra o vídeo.

Depois deste trabalho, Tânia percebe que mudou sua forma de ver a questão da fome. “Eu acho que, a partir do trabalho de Josué de Castro, pode-se perceber a diferença das fomes. Pode ser falta de nutrientes, de cultura, de lazer... E também a análise histórica que ele faz mostra que a fome tem que ser tratada como uma questão política. A fome não é natural, ela foi criada pelo sistema”, explica a diretora, que deixa um recado para o Brasil que não conhece Josué de Castro: “As pessoas poderiam procurar saber mais sobre o Josué, entrar no site que a Fundação Banco do Brasil desenvolveu sobre ele [www.projetomemoria.art.br]. Porque o trabalho de mapeamento da fome que ele realizou fez com que seu nome se transformasse em referência em vários lugares do mundo e aqui muita gente não o conhece”.


As informações são da Fundação Banco do Brasil.

 
 
 

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