Bom
professor é aquele que ajuda o aluno a ter prazer
Para fazer
dissertação de mestrado na Faculdade de Administração
de Barcelona (Espanha), Flávia Pacheco entrevistou
50 brasileiros que, invejados, temidos ou reverenciados, atingiram
posições de destaque em suas profissões
no Brasil.
Queria
entender as forças que impulsionam personalidades como
o publicitário Washington Olivetto, o banqueiro Roberto
Setúbal, o tenista Gustavo Küerten, o alpinista
Waldemar Niclevicz, a médica Zilda Arns, a ex-jogadora
de basquete Hortência, o industrial José Gerdau
e a executiva Maria Silvia Bastos, entre outros.
Os entrevistados
disseram que o desejo de ganhar dinheiro não é
a sua principal mola propulsora. Nem a busca de sucesso e
de poder. Fama e riqueza são ingredientes, indispensáveis
e agradáveis, do reconhecimento, mas não é
isso que os faz passar noites acordados desenvolvendo projetos,
trabalhar em feriados ou durante finais de semana, treinar
sem parar.
Muitos
daquela lista, afinal, já têm dinheiro suficiente
para alimentar várias gerações e continuam
tão empenhados como antes, quando ainda eram anônimos
ou pobres.
"Sempre
fiz aquilo de que gosto", afirma Maria Silvia Bastos,
presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
uma das mulheres mais bem remuneradas do Brasil.
"Todo
mundo nasce para fazer alguma coisa, mas são poucos
os que têm a sorte de descobrir qual é essa coisa.
Eu tive a sorte de descobrir muito cedo qual é a coisa
para a qual eu sirvo", diz Washington Olivetto, o publicitário
brasileiro mais premiado.
Responsável
por um dos programas mais aplaudidos de saúde pública
no mundo, Zilda Arns, indicada para o Prêmio Nobel da
Paz por seu trabalho na Pastoral da Criança, disse
que, quando vai a uma comunidade, a primeira coisa que pergunta
aos líderes, todos voluntários, é se
são felizes naquela atividade. Quase sempre levantam
o braço contentes. "Então eu sei que vamos
ser bem-sucedidos, porque eles têm prazer em trabalhar."
A pesquisadora
Flávia Pacheco leu todas as transcrições
das entrevistas e percebeu que jamais conseguiria dizer, sem
escorregar nas leviandades da auto-ajuda, qual é o
segredo do sucesso. Mas percebeu que, sem prazer, não
há chance de progresso - gostar do que faz é
o principal estímulo.
"Para
os bem-sucedidos, trabalhar não é nenhum sacrifício.
Ao contrário, eles não saberiam viver sem isso.
É como se o trabalho fosse um hobby. Os resultados
financeiros são simplesmente uma consequência
de fazer bem aquilo de que se gosta", diz.
Frequentemente,
essas pesquisas costumam evocar, em maior ou menor grau, o
senso comum. E tentam explicar o sucesso com argumentos do
tipo necessidade de trabalhar duro, descobrir seu talento,
estar no lugar certo na hora certa, intuição,
e por aí vai.
Mas a
verdade é que a imensa maioria dos educadores não
descobriu - e, se descobriu, não sabe sair da teoria-
que o principal papel do professor é ajudar o aluno
a sentir prazer.
Encontra-se
prazer no trabalho quando se encontra a vocação;
por isso fazer bem e gostar do que faz sempre andam juntos.
Estamos
assistindo à angústia dos vestibulandos, testados
em seu conhecimento como se estivessem sendo testados em suas
competências e vocações. Grande parte
sairá derrotada, não entrará nos mais
prestigiados cursos. E muitos, mesmo "vitoriosos",
irão mudar de curso sem completá-lo.
A imensa
maioria dos alunos vê a escola como uma fábrica
de provas baseadas em informações que pouco
têm a ver com o cotidiano. Memorizam informações
que, muitas vezes, não têm a menor importância.
Poucos
experimentam fazeres para descobrir seus prazeres; frequentemente
escolhem os cursos influenciados pelos pais e por amigos ou
mesmo pela moda.
Podem ir bem nos testes, entrar nas melhores faculdades -
e até com as melhores notas -, mas, se não souberem
de que gostam, tenderão a ser medíocres, medianos,
incompetentes e infelizes.
Todas
as pessoas têm um potencial para fazer algo bem. E,
se a escola tem um papel, esse papel é fazer dessa
descoberta sua principal mola propulsora.
PS - O
trabalho da pesquisa da Faculdade de Administração
de Barcelona deve transformar-se em livro ainda neste trimestre.
Coloquei um pequeno trecho na página do Aprendiz
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