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polêmica
10/10/2003

Igreja usa teoria 'científica' contra preservativo

Enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) alerta, como fez anteontem, que a cada 14 segundos um jovem é infectado pelo vírus da aids, a Igreja tem afirmado a milhões de fiéis que preservativos não são eficientes para prevenir a transmissão da doença. “O argumento moral contra a camisinha está sendo reforçado por uma abordagem clínica inconsistente”, disse Steve Bradshaw, jornalista do programa Panorama, da BBC de Londres, que levará ao ar reportagem sobre o tema no domingo.

As alegações da Igreja são exatamente o contrário do que a ciência já provou. O argumento é o de que não se pode garantir que o preservativo bloqueie o vírus, porque isso não ocorre nem mesmo com o espermatozóide, cujo tamanho é muito maior. “O HIV é 450 vezes menor do que o espermatozóide. E o espermatozóide pode passar pela trama do preservativo”, disse o cardeal Alfonso Lopez Trujillo, presidente do Conselho Pontifício para a Família, do Vaticano. O cardeal disse que, assim como as autoridades de saúde alertam a sociedade sobre os perigos do tabaco, o mesmo deveria ser feito com a camisinha.

Num continente onde os efeitos da epidemia do HIV têm sido devastadores, o arcebispo de Nairóbi, no Quênia, Raphael Ndingi Nzeki, disse à emissora britânica: “A aids tem crescido tão rápido por causa da disponibilidade de preservativos.”

O Vaticano se opõe a qualquer forma de contracepção. Critica particularmente o uso de camisinhas, considerado um incentivo à promiscuidade. Em vários países, porém, a equipe do programa da BBC constatou que o discurso da Igreja é ainda mais dramático: de que os preservativos podem matar.

Repercussão
A Organização Mundial da Saúde (OMS) rejeita o ponto de vista da Igreja. Segundo a entidade, responsável por vigiar o bem-estar e a saúde das populações, as afirmações dos religiosos sobre preservativo e aids são incorretas e perigosas, uma vez que o mundo vive uma epidemia que já matou 20 milhões de pessoas e atinge outras 42 milhões.

Em São Paulo, especialistas ficaram abismados com a atitude da Igreja. “É uma agressão à ciência”, disse Hélio Vasconcellos Lopes, presidente do Departamento de Infectologia da Associação Paulista de Medicina. Para ele, a nova posição da Igreja é pior que a anterior, de proibir o uso de camisinha. “São dois absurdos: proibir e não reconhecer como eficiente na prevenção da aids.”

O infectologista David Uip, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, foi enfático: “Sou católico e acredito que a Igreja tem papel fundamental na formação do jovem, mas ela não deve atrapalhar em assunto sério.” Uip também afirmou que a Igreja está usando argumentos científicos falsos. Até o início da noite de ontem o Vaticano não tinha se manifestado sobre a polêmica. (Com Reuters)

 


LUCIANA MIRANDA
Do jornal O Estado de S. Paulo

   
 
 
 

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