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Evento
16/11/2004
Fundação organiza primeira conferência voltada para Tecnologia Social

Você sabe o que é tecnologia social? É, segundo os especialistas, “o conjunto de técnicas e processos associados a formas de organização coletiva e estratégias de desenvolvimento capazes de produzir soluções que podem ser reaplicadas, em escala, e que contribuam para a inclusão social e melhoria da qualidade de vida". Não entendeu ainda? Em outras palavras: tecnologias sociais são as técnicas utilizadas em projetos bem sucedidos de ação social. Na verdade, ainda não existe um conceito fechado para esta expressão e, por isso, a Fundação Banco do Brasil (FBB) em parceria com a Petrobras, a Secretária de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica (SECOM), o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) promove a I Conferência Internacional de Tecnologia Social, de 17 a 20 de novembro, no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo. O encontro, voltado exclusivamente para o assunto, será durante a Brasiltec, feira de tecnologia realizada anualmente na capital paulista.

Além de firmar e aprofundar o conceito de tecnologia social, estudiosos pretendem abrir uma discussão nacional sobre as formas de sua aplicação e difusão. “Tecnologia Social é tudo aquilo que resolve algum problema social. Isto é, a demanda por alimentos, água, educação, trabalho, cultura, entre outras coisas. E, por ser simples, ela pode ser reaplicada em diferentes lugares”, explica Luiz Fumio Iwata, diretor de Tecnologia Social e Cultura da FBB e também um dos coordenadores da Conferência.

Segundo Iwata, um bom exemplo para entendermos o que é tecnologia social é o projeto de agricultura familiar sustentável desenvolvido e aplicado pela Agência Mandalla de Desenvolvimento Holístico Sistêmico Ambiental, sediada em João Pessoa, na Paraíba. Lá cada família divide seu terreno em nove faixas circulares de plantação com um reservatório de água no centro – são as mandalas. Nos três primeiros círculos são plantados alimentos que garantirão a subsistência da família. Nos cinco seguintes, os que serão comercializados e no último, são plantadas árvores de grande porte que vão proteger as outras plantas de fatores externos e ainda servirem de alimentação para os bichos. O Projeto Mandala e outras 212 tecnologias sociais estão cadastradas no Banco de Tecnologias Sociais da FBB www.tecnologiasocial.org.br, um repositório criado em 2001, com o apoio da UNESCO, que reúne os projetos certificados pela Fundação em cerimônia realizada de dois em dois anos. A próxima edição será no próximo ano e durante a Brasiltec o estande da FBB estará fornecendo mais informações sobre o Sistema Mandalla e outras 14 tecnologias cadastradas na FBB.

Mahatma Ghandi: o pioneiro
Para explicar os efeitos e a abrangência das tecnologias sociais, o pesquisador e professor titular do departamento de política científica e tecnológica da Unicamp, Renato Dagnino, fará a palestra Tecnologia Social: Conceituação, sobre a origem da expressão, que se surgiu do termo tecnologia apropriada, usado pela primeira vez no final do século 19. Dagnino conta que a primeira experiência do que viria a se chamar tecnologia social foi realizada na Índia, pelas mãos do líder pacifista Mahatma Ghandi.

“Os pensamentos dos reformadores daquela sociedade estavam voltados para a reabilitação e o desenvolvimento das tecnologias tradicionais, praticadas nas suas aldeias, como estratégia de luta contra o domínio britânico. Entre 1924, Gandhi começou a construir programas visando à popularização da fiação manual realizada em uma roca de fiar reconhecida como o primeiro equipamento tecnologicamente apropriado, a Charkha. Era uma forma de eles lutarem contra o sistema de castas que perpetuava a injustiça social na Índia”, conta o professor.

De lá para cá, muitas expressões surgiram: tecnologia alternativa, tecnologia utópica, tecnologia intermediária, tecnologia correta, tecnologia ecológica, tecnologia limpa, não-violenta, humana, de auto-ajuda, democrática, de vila, libertária, entre outras. Todas com uma proposta em comum, a de serem alternativas à tecnologia convencional, que, segundo os estudiosos, não tem sido eficaz na solução dos problemas sociais e ambientais. Em 2000 chegou-se ao termo Tecnologia Social, como explica Renato Dagnino: “Havia muitas expressões para designar a mesma coisa. Em 1999, optei por usar em meus textos o termo Inclusão Social. Em 2000, os pesquisadores começaram a usar tecnologia social como uma alternativa para abreviar tecnologia para a inclusão social. Desde então, a expressão se tornou uma marca registrada”.

Hoje, em vez de se prender ao debate sobre o conceito de tecnologia social, os
estudiosos têm preferido ir direto às formas de difusão das tecnologias. E este será o objetivo da conferência. “Os problemas sociais do Brasil estão em escala de milhões – são milhões de analfabetos, outros milhões de desempregados - e as tecnologias sociais atendem a dezenas, centenas de pessoas. Vamos discutir na Conferência como ampliar a área de atuação das tecnologias sociais”, avalia Iwata.

Uma rede nacional
Uma das estratégias mais eficazes para a difusão das tecnologias seria a criação de uma Rede de Tecnologia Social (RTS), interligando bancos de dados de diferentes organizações. Através da rede - um dos debates da conferência - as instituições cadastradas poderiam apoiar ou viabilizar o desenvolvimento de qualquer tecnologia social, mesmo as que sejam do banco de dados de outra instituição. Projeto semelhante ao desenvolvido pelo indiano Anil K. Gupta, que vem ao Brasil para a conferência explicar o mecanismo de sua Honey Bee Network (Rede Mel de Abelhas, em inglês), que montou uma rede pela internet para disseminar suas idéias e a de seus colaboradores.

O professor de Pós-Graduação em Economia e Administração da PUC de São Paulo Ladislau Dowbor explica que as tecnologias sociais ainda não transformaram os números das estatísticas nacionais, mas por outro lado vem beneficiando a economia de pequenos municípios. “Hoje vejo muitas pessoas arregaçando as mangas para criar iniciativas que vão desde a construção de casas até projetos mais elaborados de aproveitamento de recursos que são subutilizados. Nós, estudiosos em tecnologias, ficamos muito focados nos índices publicados pelos centros de pesquisa e não olhamos para a riqueza de milhares de iniciativas locais que estão sendo desenvolvidas no Brasil. Mesmo diversificadas, elas vêm ajudando a aquecer a economia de casa município.”

A inscrição para a I Conferência Internacional de Tecnologia Social é gratuita e pode ser feita pelo site www.brasiltec.com.br . Os organizadores aguardam cerca de 400 participantes.


DANIELLE CHEVRAND
da Fundação Banco do Brasil

   
 
 
 

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