O
Ibirapuera inacabado de Niemeyer
Criado
para os 400 anos de São Paulo, o parque Ibirapuera
é uma das frustrações do arquiteto Oscar
Niemeyer. "Ficou capenga", reclama, lembrando que
faltaram, entre outras coisas, um teatro e uma entrada imponente.
Como foi
agraciado com a longevidade - aos 94 anos, está em
plena atividade -, Oscar Niemeyer prepara-se para comemorar
os 450 anos da cidade, em janeiro de 2004, e terminar o que
iniciou há cinco décadas. Ele concluiu nesta
semana a maquete de um auditório e o desenho de uma
nova entrada, mais charmosa, para o parque. "Vejo ali
um espaço cultural para atrair os jovens", anima-se
Niemeyer. Há uma chance de as melhorias saírem
da prancheta.
Com base
em um plano da secretária municipal do Meio Ambiente,
Stela Goldenstein, a prefeita Marta Suplicy começou
a seduzir nesta semana empresários para bancar as obras.
"O parque vai mal", lamenta a secretária.
"Virou mais uma área de estresse."
A prefeitura
quer dividir o parque: de um lado, a contemplação
e, de outro, agitos culturais, como shows e exposições.
Promete acabar com os estacionamentos e transformá-los
em jardins, além de desalojar e transferir para o centro
da cidade a Companhia de Processamento de Dados do Município
(Prodam), que ocupa um prédio no Ibirapuera.
Entregar
um Ibirapuera revigorado na festa dos 450 anos é tentar,
pelo menos simbolicamente, estabelecer vínculo com
o clima dos anos 50, tempos de otimismo econômico e
efervescência cultural, quando São Paulo enriquecia
com a industrialização impulsionada por Juscelino
Kubitschek. "Acreditávamos que fôssemos
construir um país generoso", diz Niemeyer.
Pelo menos
para ele, a maquete do auditório restabeleceu o vínculo
com o passado, quando deixava por todos os lados a marca da
utopia arquitetônica e agregava em seus espaços,
tanto em Brasília como no Copan, em São Paulo,
ricos e pobres - nem um nem outro resistiu, porém,
às grades urbanas.
Naqueles
tempos, São Paulo não podia parar. Sobravam
empregos, atraíam-se migrantes de todos os cantos do
país e podia-se andar na rua sem medo. Ninguém,
a começar de Niemeyer, imaginava que, 50 anos depois,
Brasília seria cercada por um cinturão de miséria
e o Ibirapuera por uma grade para protegê-lo da violência.
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