O
espírito do lugar
Lorenzo
Mammi nasceu em Roma, onde, nas suas memórias de infância,
as ruas pareciam uma extensão da sala de estar. Estudou
história da música em Florença, onde
aprendeu como a arte dá vida a uma cidade. Veio para
São Paulo atrás de uma paixão - casou-se
com uma brasileira - e aqui iria misturar os prazeres da rua
com os da arte para ajudar um bairro a renascer.
Diretor
do Centro Universitário Maria Antônia, Lorenzo
é um dos articuladores da transformação
do bairro de Vila Buarque, espremido entre o refinamento de
Higienópolis e a degradação da "boca
do lixo", numa experiência cultural de revitalização
urbana. "Uma cidade democrática tem de oferecer
pontos de encontro onde todos, ricos e pobres, se identifiquem.
Esse papel no passado foi reservado às igrejas e depois
também aos teatros. Agora, é um dos papéis
dos centros culturais", diz.
Ao ser
convidado para dirigir e revitalizar o "Mariantônia",
como é apelidado o centro cultural, foi conhecendo,
nas redondezas, outros espaços, como Sesc, Teatro Anchieta,
Biblioteca Monteiro Lobato, Mackenzie, Ação
Educativa, Senac, Aliança Francesa, Escola de Sociologia
e Política, Pólis, Escola da Cidade, Instituto
dos Arquitetos do Brasil.
Engajou-se,
então, na criação de um roteiro de arte
que percorreria articuladamente essas instituições.
Em essência, um centro cultural a céu aberto.
"Vimos que muita gente estava disposta a fazer muita
coisa", diz.
A experiência
começou com o lançamento, no ano passado, do
"Genius Loci - o Espírito do Lugar". Na Roma
antiga, acreditava-se que cada lugar tivesse seu espírito
a ser domado pelos humanos. Com base nessa crença,
60 artistas espalharam obras em galerias de arte, bares, praças,
estacionamentos, oficinas mecânicas e até em
uma delegacia. Desde então, o roteiro não parou
de produzir eventos conjuntos.
O projeto
de conquistar pelas artes aquele bairro, tão dominado
pelo espírito da degradação paulistana,
entra neste ano em mais um estágio. Começam
as obras para construir ao lado do Mariantônia uma praça
com um auditório subterrâneo. Responsáveis
por vários edifícios do entorno estão
sendo convidados a mudar suas entradas para transformar aquela
praça numa área comum -pelo menos ali, o espírito
democrático das ruas do menino Lorenzo estará
de volta.
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