Publicidade
Publicidade
12/12/2005
-
21h23
GUILHERME BARROS
Colunista da Folha de S.Paulo
Depois de dois anos de negociações, a companhia Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure, anunciou na noite desta segunda-feira a compra de 25% das ações ordinárias e do controle do capital votante da Fundação Rubem Berta, a controladora da Varig, por US$ 112 milhões.
O negócio garante a Tanure, também arrendatário do
"Jornal do Brasil" e da "Gazeta Mercantil", a gestão da Varig. Esse montante será dividido em dez parcelas anuais, sendo que a primeira foi paga nesta segunda, segundo Paulo Marinho, diretor comercial do Grupo Docas.
A operação não contará com dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Para o martelo ser batido, no entanto, será necessária a aprovação dos credores, do DAC (Departamento de Aviação Civil) e do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, já que a Varig está na Lei de Recuperação Judicial.
A proposta de Tanure está condicionada à aprovação do plano de recuperação pela assembléia de credores. Se for rejeitado, a compra não será efetivada pela Docas e o dinheiro adiantado será transformado em empréstimo com juros de 6% ao ano mais o IGP-M.
Proposta rejeitada
Essa não é a primeira vez que a companhia Docas, do empresário Nelson Tanure, tenta comprar o controle da Varig, que está em recuperação judicial. A empresa chegou a protocolar na 8ª Vara Empresarial do Rio uma proposta, que foi rejeitada quando o conselho de administração da Varig era presidido por David Zylbersztajn. No mês passado, entretanto, a Fundação Ruben Berta, que detém 87% do capital votante da Varig, afastou Zylbersztajn e reabriu as negociações com o grupo Docas.
Embora a compra se limite a 25%, o Grupo Docas terá um controle muito maior a controladora das empresas do grupo Varig. Isso será possível porque a negociação concluída na madrugada de hoje inclui dois contratos. Um de compra de ações (limitado aos 25%) e outro que dá ao grupo empresarial mais 42% do direito dos votos. Ou seja, na prática, o Grupo Docas tem agora o controle de 67% da FRB Par.
A proposta de Tanure também inclui a compra, por US$ 139 milhões, da VEM (Varig Engenharia e Manutenção) e da VarigLog, a empresa de logística da Varig.
Também ficou acertado que o grupo irá promover a abertura de capital das empresas do grupo Varig na Bolsa de Valores.
O anúncio estava previsto para acontecer na noite desta segunda-feira depois de encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não aconteceu devido a problemas com a agenda do presidente.
De acordo com o que a Folha apurou, pesou na decisão da FRB de entregar a gestão da Varig para a Docas o fato de ser um grupo brasileiro. As outras propostas eram de grupos de fora, entre elas a TAP. Em comunicado que será divulgado nesta terça, a FRB irá ressaltar o fato de a Varig continuar em mãos brasileiras.
Surpresa
A notícia pegou representantes dos trabalhadores e instituições de surpresa. Segundo a assessoria do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o banco não foi informado sobre o assunto. Estava prevista para hoje uma reunião com técnicos do banco e representantes da empresa para a apresentação do plano de recuperação.
O presidente da Fentac (Federação Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil), Celso Klafke, afirmou que tomou conhecimento da decisão pela imprensa e que tinha uma reunião com advogados para discutir as propostas de compra das subsidiárias Varig Log (transporte de cargas) e VEM (engenharia e manutenção).
A proposta de Tanure precisa ainda ser apreciada em assembléia. "Os credores vão deliberar sobre isso, decidir ou suspender a assembléia", afirmou Ayoub. O prazo para apresentação e deliberação do plano de recuperação da empresa se encerra no dia 19, mas a Varig está protegida de ações em curso até o dia 8 de janeiro.
O juiz Luiz Roberto Ayoub afirmou à Folha Online que foi informado hoje sobre a proposta de Docas. "Estou sabendo apenas da proposta de Docas, vou estudar o material antes de me pronunciar. É necessário salvar a empresa, mas antes de comentar preciso analisar o material com cuidado", afirmou Ayoub. O juiz afirmou ainda que Tanure está comprando a marca Varig para usufruto por dez anos.
Subsidiárias
A proposta de Tanure não inviabiliza a venda das subsidiárias Varig Log e VEM, que depende agora da decisão da TAP se vai cobrir o valor das ofertas feitas em leilão.
O Grupo Docas fez uma oferta de US$ 139 milhões para ficar também com a VarigLog e a VEM. O valor é superior ao oferecido pela TAP, de US$ 62 milhões.
"Eles fizeram uma proposta que representa mais do que o dobro do preço oferecido inicialmente pela TAP, de US$ 62 milhões, um valor necessário para fazer frente às dívidas com empresas de leasing. Esse é o ponto mais relevante", afirmou o juiz.
Hoje, a TGV informou que entrou com ação na 8ª Vara Empresarial pedindo a anulação da venda das subsidiárias. O argumento é de que o valor apresentado pela TAP é muito abaixo do valor de mercado. A TGV diz que a Deloitte avaliou as duas companhias em US$ 300 milhões.
Na semana passada, o Sindicato Nacional dos Aeronautas já afirmava que ia se preparar para questionar na Justiça a venda das duas empesas para a Aero-LB, a sociedade de propósito específico liderada pela TAP. Os trabalhadores reivindicavam ter acesso ao contrato fechado com a Aero-LB para avaliar as condições.
O juiz Ayoub diz que o valor de US$ 300 milhões é um "equívoco" e que a proposta de Tanure se aproxima do valor definido pela consultoria. A avaliação da Deloitte deve se tornar pública a partir de amanhã. Segundo o juiz, somente ele e a juíza Márcia Cunha tiveram acesso aos valores da avaliação. "Isso é uma mentira, os únicos que têm conhecimento da avaliação são eu e a Márcia Cunha. A avaliação da Deloitte tem uma série de condições, como valor mínimo, máximo e condições que resultam em elevação ou diminuição do preço. Isso é uma mentira, não foi dito o valor pela Justiça. Isso é especulação de quem quer conturbar o processo", afirmou.
Colaboraram ANA PAULA RIBEIRO, JANAINA LAGE e FABIANA FUTEMA da Folha Online em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo
Leia mais
Entenda o processo de recuperação da Varig
Proposta de Tanure foi rejeitada por Zylbersztajn
Grupo Docas comunica negociação para a Infraero
Com entrada de Tanure, TAP deve desistir de VarigLog
Especial
Leia o que já foi publicado sobre a crise da Varig
Empresa de Nelson Tanure acerta a entrada na gestão da Varig
Publicidade
Colunista da Folha de S.Paulo
Depois de dois anos de negociações, a companhia Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure, anunciou na noite desta segunda-feira a compra de 25% das ações ordinárias e do controle do capital votante da Fundação Rubem Berta, a controladora da Varig, por US$ 112 milhões.
O negócio garante a Tanure, também arrendatário do
"Jornal do Brasil" e da "Gazeta Mercantil", a gestão da Varig. Esse montante será dividido em dez parcelas anuais, sendo que a primeira foi paga nesta segunda, segundo Paulo Marinho, diretor comercial do Grupo Docas.
A operação não contará com dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Para o martelo ser batido, no entanto, será necessária a aprovação dos credores, do DAC (Departamento de Aviação Civil) e do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, já que a Varig está na Lei de Recuperação Judicial.
A proposta de Tanure está condicionada à aprovação do plano de recuperação pela assembléia de credores. Se for rejeitado, a compra não será efetivada pela Docas e o dinheiro adiantado será transformado em empréstimo com juros de 6% ao ano mais o IGP-M.
Proposta rejeitada
Essa não é a primeira vez que a companhia Docas, do empresário Nelson Tanure, tenta comprar o controle da Varig, que está em recuperação judicial. A empresa chegou a protocolar na 8ª Vara Empresarial do Rio uma proposta, que foi rejeitada quando o conselho de administração da Varig era presidido por David Zylbersztajn. No mês passado, entretanto, a Fundação Ruben Berta, que detém 87% do capital votante da Varig, afastou Zylbersztajn e reabriu as negociações com o grupo Docas.
Embora a compra se limite a 25%, o Grupo Docas terá um controle muito maior a controladora das empresas do grupo Varig. Isso será possível porque a negociação concluída na madrugada de hoje inclui dois contratos. Um de compra de ações (limitado aos 25%) e outro que dá ao grupo empresarial mais 42% do direito dos votos. Ou seja, na prática, o Grupo Docas tem agora o controle de 67% da FRB Par.
A proposta de Tanure também inclui a compra, por US$ 139 milhões, da VEM (Varig Engenharia e Manutenção) e da VarigLog, a empresa de logística da Varig.
Também ficou acertado que o grupo irá promover a abertura de capital das empresas do grupo Varig na Bolsa de Valores.
O anúncio estava previsto para acontecer na noite desta segunda-feira depois de encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não aconteceu devido a problemas com a agenda do presidente.
De acordo com o que a Folha apurou, pesou na decisão da FRB de entregar a gestão da Varig para a Docas o fato de ser um grupo brasileiro. As outras propostas eram de grupos de fora, entre elas a TAP. Em comunicado que será divulgado nesta terça, a FRB irá ressaltar o fato de a Varig continuar em mãos brasileiras.
Surpresa
A notícia pegou representantes dos trabalhadores e instituições de surpresa. Segundo a assessoria do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o banco não foi informado sobre o assunto. Estava prevista para hoje uma reunião com técnicos do banco e representantes da empresa para a apresentação do plano de recuperação.
O presidente da Fentac (Federação Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil), Celso Klafke, afirmou que tomou conhecimento da decisão pela imprensa e que tinha uma reunião com advogados para discutir as propostas de compra das subsidiárias Varig Log (transporte de cargas) e VEM (engenharia e manutenção).
A proposta de Tanure precisa ainda ser apreciada em assembléia. "Os credores vão deliberar sobre isso, decidir ou suspender a assembléia", afirmou Ayoub. O prazo para apresentação e deliberação do plano de recuperação da empresa se encerra no dia 19, mas a Varig está protegida de ações em curso até o dia 8 de janeiro.
O juiz Luiz Roberto Ayoub afirmou à Folha Online que foi informado hoje sobre a proposta de Docas. "Estou sabendo apenas da proposta de Docas, vou estudar o material antes de me pronunciar. É necessário salvar a empresa, mas antes de comentar preciso analisar o material com cuidado", afirmou Ayoub. O juiz afirmou ainda que Tanure está comprando a marca Varig para usufruto por dez anos.
Subsidiárias
A proposta de Tanure não inviabiliza a venda das subsidiárias Varig Log e VEM, que depende agora da decisão da TAP se vai cobrir o valor das ofertas feitas em leilão.
O Grupo Docas fez uma oferta de US$ 139 milhões para ficar também com a VarigLog e a VEM. O valor é superior ao oferecido pela TAP, de US$ 62 milhões.
"Eles fizeram uma proposta que representa mais do que o dobro do preço oferecido inicialmente pela TAP, de US$ 62 milhões, um valor necessário para fazer frente às dívidas com empresas de leasing. Esse é o ponto mais relevante", afirmou o juiz.
Hoje, a TGV informou que entrou com ação na 8ª Vara Empresarial pedindo a anulação da venda das subsidiárias. O argumento é de que o valor apresentado pela TAP é muito abaixo do valor de mercado. A TGV diz que a Deloitte avaliou as duas companhias em US$ 300 milhões.
Na semana passada, o Sindicato Nacional dos Aeronautas já afirmava que ia se preparar para questionar na Justiça a venda das duas empesas para a Aero-LB, a sociedade de propósito específico liderada pela TAP. Os trabalhadores reivindicavam ter acesso ao contrato fechado com a Aero-LB para avaliar as condições.
O juiz Ayoub diz que o valor de US$ 300 milhões é um "equívoco" e que a proposta de Tanure se aproxima do valor definido pela consultoria. A avaliação da Deloitte deve se tornar pública a partir de amanhã. Segundo o juiz, somente ele e a juíza Márcia Cunha tiveram acesso aos valores da avaliação. "Isso é uma mentira, os únicos que têm conhecimento da avaliação são eu e a Márcia Cunha. A avaliação da Deloitte tem uma série de condições, como valor mínimo, máximo e condições que resultam em elevação ou diminuição do preço. Isso é uma mentira, não foi dito o valor pela Justiça. Isso é especulação de quem quer conturbar o processo", afirmou.
Colaboraram ANA PAULA RIBEIRO, JANAINA LAGE e FABIANA FUTEMA da Folha Online em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo
Leia mais
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Ministério Público pede bloqueio de R$ 3,8 bi de dono de frigorífico JBS
- Por que empresa proíbe caminhões de virar à esquerda - e economiza milhões
- Megarricos buscam refúgio na Nova Zelândia contra colapso capitalista
- Com 12 suítes e 5 bares, casa mais cara à venda nos EUA custa US$ 250 mi
- Produção industrial só cresceu no Pará em 2016, diz IBGE
+ Comentadas
- Programa vai reduzir tempo gasto para pagar impostos, diz Meirelles
- Ministério Público pede bloqueio de R$ 3,8 bi de dono de frigorífico JBS
+ EnviadasÍndice