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02/05/2006
-
16h03
da Folha Online
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, disse que está acompanhando com preocupação os desdobramentos da decisão do governo da Bolívia de nacionalizar as operações de petróleo e gás daquele país. "Toda medida de caráter unilateral e que representa rompimento de contratos é sempre preocupante, pois vai afetar o relacionamento dos dois países."
Monteiro Neto disse ainda que existe a expectativa de pressões de custos, mas que ainda é cedo para alarmismo. "Precisamos conhecer melhor o teor do decreto que nacionalizou os campos e ativos das empresas petrolíferas e aguardar os primeiros entendimentos, que devem estar sendo realizados entre os dois governos", afirmou.
O presidente da CNI não cogitou a hipótese de interrupção de gás para o Brasil. "Isso seria algo desastroso para a própria Bolívia, cuja receita deriva, em grande medida, desse fornecimento".
Nesse momento, a preocupação maior está relacionada com a questão dos preços. Na avaliação de Monteiro Neto, qualquer alteração na estrutura de preços resultará em pressão imediata de custos no Brasil, o que poderá gerar incertezas.
"Espero que o governo boliviano tenha o bom senso e a prudência necessários para que uma relação, que historicamente foi sempre tão estreita e fraterna, não seja agora comprometida por uma ação extemporânea e, a meu ver, absolutamente injustificada, tendo em vista até os interesses estratégicos dos dois países", afirmou o presidente da CNI.
De acordo com dados da Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado), a maior parte dos 26 milhões de metros cúbicos de gás que o Brasil importa por dia vem da Bolívia. Isso representa metade da produção brasileira.
Em janeiro, o Brasil consumiu, em média, 42,7 milhões de metros cúbicos de gás por dia, sendo que o setor industrial é o maior consumidor, com 53,4%. Outros 26,7% foram utilizados por termelétricas para a geração de energia elétrica e 4,2% em co-geração, 13% foram direcionados para uso automotivo e o restante para uso residencial e comercial.
Trabalhadores a favor
O Sindicato dos Petroleiros do Estado de São Paulo é a favor do decreto do presidente boliviano, Evo Morales, de nacionalizar as reservas de petróleo e gás natural naquele país. "A posição dos trabalhadores é de apoio integral à decisão do presidente boliviano", disse o diretor do sindicato, Antonio Carlos Spis. "Se o Brasil pode ter controle sobre o seu petróleo, porque a Bolívia não?", justificou.
Spis, no entanto, acredita que vai ser possível uma renegociação com a Bolívia e que a posição do presidente não deve se sustentar por muito tempo. "A Bolívia não tem mercado consumidor e 80% do gás é exportado. Acho que é uma decisão radical no início, mas vai haver necessidade de renegociação".
Para Spis, a Bolívia não pode continuar com as atuais "condições iniciais desfavoráveis". "Mas, a nacionalização integral não vai acontecer e vai ser preciso fazer parcerias. Essa radicalização abre espaço para o debate", defendeu.
O sindicalista disse ainda que será preciso analisar os "detalhes" da nacionalização e que acredita que as negociações devam ser possíveis após reflexão por parte do governo brasileiro.
Empresários contra
Já os empresários brasileiros lamentaram a decisão do presidente boliviano. Em nota, a Abdib (Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústrias de Base) vê "claro desrespeito" aos contratos firmados com cerca de 20 empresas internacionais que exploram petróleo gás no país vizinho. A entidade cobrou "firmeza" do governo Lula.
"O governo brasileiro deve agir prontamente e com firmeza. O melhor caminho para atender aos interesses sociais da população, políticos dos Estados e econômicos das empresas produtoras ainda é a mesa de negociações, opção que o governo boliviano jamais deveria ter abandonado e que a Petrobras e o Estado brasileiro vinham apostando", diz a nota.
A associação também defende que após o Brasil atingir a auto-suficiência em petróleo seria a hora de reduzir a dependência das reservas bolivianas de gás com investimentos no litoral brasileiro --há reservas de gás representativas na bacia de Santos.
Já o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, afirmou que a decisão "insensata" do governo boliviano pode causar prejuízos para 337 mil trabalhadores brasileiros que utilizaram o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para comprar ações da Petrobras.
"O presidente Lula não pode de forma alguma permitir tal quebra de contrato de forma abrupta. O governo brasileiro precisa agir urgente com determinação, já que esta medida afeta diretamente os brasileiros", afirmou.
Além disso, a Força teme que possíveis problemas com o fornecimento de gás para o Brasil possam obrigar as empresar que usam esse combustível a demitir.
"Empresas que utilizam tal produto [o gás] podem ser obrigadas a fechar e dispensar funcionários resultando no aumento do desemprego no país", afirmou Paulinho.
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O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, disse que está acompanhando com preocupação os desdobramentos da decisão do governo da Bolívia de nacionalizar as operações de petróleo e gás daquele país. "Toda medida de caráter unilateral e que representa rompimento de contratos é sempre preocupante, pois vai afetar o relacionamento dos dois países."
Monteiro Neto disse ainda que existe a expectativa de pressões de custos, mas que ainda é cedo para alarmismo. "Precisamos conhecer melhor o teor do decreto que nacionalizou os campos e ativos das empresas petrolíferas e aguardar os primeiros entendimentos, que devem estar sendo realizados entre os dois governos", afirmou.
O presidente da CNI não cogitou a hipótese de interrupção de gás para o Brasil. "Isso seria algo desastroso para a própria Bolívia, cuja receita deriva, em grande medida, desse fornecimento".
Nesse momento, a preocupação maior está relacionada com a questão dos preços. Na avaliação de Monteiro Neto, qualquer alteração na estrutura de preços resultará em pressão imediata de custos no Brasil, o que poderá gerar incertezas.
"Espero que o governo boliviano tenha o bom senso e a prudência necessários para que uma relação, que historicamente foi sempre tão estreita e fraterna, não seja agora comprometida por uma ação extemporânea e, a meu ver, absolutamente injustificada, tendo em vista até os interesses estratégicos dos dois países", afirmou o presidente da CNI.
De acordo com dados da Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado), a maior parte dos 26 milhões de metros cúbicos de gás que o Brasil importa por dia vem da Bolívia. Isso representa metade da produção brasileira.
Em janeiro, o Brasil consumiu, em média, 42,7 milhões de metros cúbicos de gás por dia, sendo que o setor industrial é o maior consumidor, com 53,4%. Outros 26,7% foram utilizados por termelétricas para a geração de energia elétrica e 4,2% em co-geração, 13% foram direcionados para uso automotivo e o restante para uso residencial e comercial.
Trabalhadores a favor
O Sindicato dos Petroleiros do Estado de São Paulo é a favor do decreto do presidente boliviano, Evo Morales, de nacionalizar as reservas de petróleo e gás natural naquele país. "A posição dos trabalhadores é de apoio integral à decisão do presidente boliviano", disse o diretor do sindicato, Antonio Carlos Spis. "Se o Brasil pode ter controle sobre o seu petróleo, porque a Bolívia não?", justificou.
Spis, no entanto, acredita que vai ser possível uma renegociação com a Bolívia e que a posição do presidente não deve se sustentar por muito tempo. "A Bolívia não tem mercado consumidor e 80% do gás é exportado. Acho que é uma decisão radical no início, mas vai haver necessidade de renegociação".
Para Spis, a Bolívia não pode continuar com as atuais "condições iniciais desfavoráveis". "Mas, a nacionalização integral não vai acontecer e vai ser preciso fazer parcerias. Essa radicalização abre espaço para o debate", defendeu.
O sindicalista disse ainda que será preciso analisar os "detalhes" da nacionalização e que acredita que as negociações devam ser possíveis após reflexão por parte do governo brasileiro.
Empresários contra
Já os empresários brasileiros lamentaram a decisão do presidente boliviano. Em nota, a Abdib (Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústrias de Base) vê "claro desrespeito" aos contratos firmados com cerca de 20 empresas internacionais que exploram petróleo gás no país vizinho. A entidade cobrou "firmeza" do governo Lula.
"O governo brasileiro deve agir prontamente e com firmeza. O melhor caminho para atender aos interesses sociais da população, políticos dos Estados e econômicos das empresas produtoras ainda é a mesa de negociações, opção que o governo boliviano jamais deveria ter abandonado e que a Petrobras e o Estado brasileiro vinham apostando", diz a nota.
A associação também defende que após o Brasil atingir a auto-suficiência em petróleo seria a hora de reduzir a dependência das reservas bolivianas de gás com investimentos no litoral brasileiro --há reservas de gás representativas na bacia de Santos.
Já o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, afirmou que a decisão "insensata" do governo boliviano pode causar prejuízos para 337 mil trabalhadores brasileiros que utilizaram o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para comprar ações da Petrobras.
"O presidente Lula não pode de forma alguma permitir tal quebra de contrato de forma abrupta. O governo brasileiro precisa agir urgente com determinação, já que esta medida afeta diretamente os brasileiros", afirmou.
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