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Governo tenta evitar crise de confiança das empresas
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SHEILA D'AMORIM
da Folha de S.Paulo
O governo quer evitar que o clima de desconfiança que domina a área financeira em função da crise externa se alastre para o meio empresarial, atrasando decisões de investimento e, sobretudo, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Isso poderia prejudicar a economia brasileira gerando um descompasso entre a demanda interna e a capacidade de o setor produtivo fornecer bens e serviços.
Por isso, as principais autoridades da área econômica têm concentrado esforços para unificar o discurso, mostrar que estão atentas aos desdobramentos da turbulência desencadeada no setor imobiliário dos EUA sem, no entanto, sinalizar preocupação excessiva com os reflexos desse cenário no lado real da economia brasileira.
Na avaliação de integrantes da equipe econômica, o problema gerado pela redução do volume de dinheiro em circulação no mundo que desestabiliza as Bolsas e cria instabilidade no câmbio está sendo, até agora, bem administrado numa ação coordenada dos principais bancos centrais, entre eles o do próprio EUA, da Europa, da Austrália e do Japão.
No entanto, sabe-se que não há prazo para a dúvida em relação às conseqüências na economia norte-americana e aos prejuízos gerados se dissipar. Acredita-se que isso poderá levar meses e até anos para contabilizar o saldo de perdedores da crise. O problema é que até lá, investidores e empresários olham com desconfiança porque "todos podem ser perdedores até que se prove o contrário".
Esse comportamento pode provocar o que se chama nos bastidores de governo "freio de arrumação", em que empresários esperam para ver o que virá antes de colocar a mão no bolso e tocar investimentos produtivos.
Na avaliação de integrantes do governo é fundamental não errar na dose neste momento, para assumir a coordenação das expectativas e garantir aumento da capacidade de produção do país.
Esse temor, reforçado pela determinação de união dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião com sua equipe na última segunda-feira, fez o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, trabalharem em sintonia.
Apesar das divergências de diagnósticos da crise, a convicção de que é preciso evitar que se instale um clima de desconfiança no país parece ser consenso.
Meirelles, redobrou as conversas por telefone com os chamados "formadores de opinião" do mercado financeiro nos últimos dias. Ao mesmo tempo em que tenta tomar o pulso das operações, aproveita para passar sua mensagem de que, até agora, tudo caminha para um cenário menos alarmista do que o imaginado inicialmente.
Isso significa que o reflexo de uma desaceleração no ritmo de crescimento da economia norte-americana pode ser melhor absorvido por empresas e mercado financeiro nacional. Em outras palavras, o Brasil pode seguir seu rumo enquanto acompanha de longe o desen- rolar dos prejuízos nos EUA.
"Problema ruim"
Na semana passada, Mantega avaliou que a subida das cotações do dólar não é um "problema ruim". Também reafirmou que o Brasil não deve sofrer com a crise. Henrique Meirelles fez coro e disse que o mercado segue na normalidade.
"O dólar subiu um pouco mais, mas esse não é um problema ruim", disse Mantega. "O mercado está funcionando dentro da mais absoluta normalidade no Brasil, e estamos monitorando cuidadosamente os mercados internacionais", afirmou Meirelles.
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