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25/08/2004
-
07h28
SANDRA BALBI
da Folha de S.Paulo
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) que vai hoje às urnas está longe da poderosa federação que imperou sozinha na representação dos interesses do empresariado paulista até os anos 80.
"A burocratização das instituições sindicais e as profundas mudanças que ocorreram na economia tiraram o brilho da Fiesp", diz o cientista político Murillo Aragão, da consultoria Arko Adviser.
Hoje, importantes setores como o de agronegócios, responsável por 40% do PIB (Produto Interno Bruto), não se sentem representados na Fiesp, segundo Ademerval Garcia, presidente da Abecitrus.
Aragão diz que a Fiesp perdeu importância no cenário político empresarial. "Nos últimos anos os setores mais fortes da economia foram buscar uma representação independente das amarras do sindicalismo criado nos tempos de Getúlio Vargas", diz ele.
Os interesses específicos dos pólos mais fortes da indústria paulista são representados por entidades como a Anfavea (montadoras), a Eletros (setor eletroeletrônico) e a Abdib (indústria de base e infra-estrutura).
Enquanto isso, a Fiesp disputa os votos de sindicatos tão díspares como panificação e construção civil. "Quem decide os destinos da Fiesp são sindicatos com pesos econômicos diferentes e mesmo poder de voto", diz Aragão.
Legitimidade
O cientista político Walder de Góes, presidente do Ibep (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos), diz que a Fiesp tem "alguns problemas de legitimidade em meio à elite empresarial brasileira". Os avanços do setor exportador, nos últimos anos, não teria sido bem absorvido pela Fiesp, segundo ele.
A federação continua representando mais os setores que produzem para o mercado interno. "Muitos empresários do interior paulista, que têm como referência o mercado internacional, estão fora da Fiesp", diz ele.
Os produtores de sucos, por exemplo, embora filiados, têm pouca participação na entidade. "Temos uma agenda muito específica, que não é encampada pela Fiesp", diz Garcia, da Abecitrus.
Segundo ele, sob o comando de Horacio Lafer Piva houve mais abertura para os industriais do campo. "No passado, havia um certo preconceito com a agroindústria, que era tratada como interiorana e de segunda classe."
Mesmo assim, ele afirma que os industriais do setor não têm grande expectativa de mudança com as eleições em curso. "A Fiesp perdeu importância, pois representa setores do empresariado que dependem muito de políticas de governo. Nós falamos para o mundo, a internacionalização dos negócios ficou incompatível com a estrutura da Fiesp", diz.
Garcia lembra que, quando vai à sede da Fiesp, na avenida Paulista, no coração de São Paulo, tem de portar um selo na lapela e passar por sete pessoas até chegar ao presidente da entidade. "É muita burocracia, o país mudou e a Fiesp não."
A saída, na sua opinião, é a entidade reconhecer que não tem mais o papel de liderança única e encampar as bandeiras de outros setores industriais. Nesse sentido, ele diz que a federação deveria ter uma ação mais forte na abertura de novos mercados e lutar pela desburocratização e a modernização da infra-estrutura do país.
Para Aragão, "o grande desafio que se coloca para a Fiesp é ter uma ação política pró-investimento e que dê sustentação ao crescimento econômico". Essa ação deveria ser feita junto com outras entidades, rompendo os limites dos muros da Fiesp. "Ela não é mais liderança única e deve se aliar à Febraban, à Câmara Americana e às entidades setoriais como a Anfavea e ter atuação política nacional", afirmou.
Para exercer tal papel e ganhar legitimidade no conjunto do empresariado paulista, a Fiesp precisaria libertar-se das amarras do sindicalismo getulista -e isso não depende dela. "A filiação compulsória deveria acabar", diz Mário Ernesto Humberg, presidente do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais). Ele diz que a Fiesp ainda tem um papel importante no cenário político e que na gestão Piva destacou-se pela independência em relação ao governo.
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da Folha de S.Paulo
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) que vai hoje às urnas está longe da poderosa federação que imperou sozinha na representação dos interesses do empresariado paulista até os anos 80.
"A burocratização das instituições sindicais e as profundas mudanças que ocorreram na economia tiraram o brilho da Fiesp", diz o cientista político Murillo Aragão, da consultoria Arko Adviser.
Hoje, importantes setores como o de agronegócios, responsável por 40% do PIB (Produto Interno Bruto), não se sentem representados na Fiesp, segundo Ademerval Garcia, presidente da Abecitrus.
Aragão diz que a Fiesp perdeu importância no cenário político empresarial. "Nos últimos anos os setores mais fortes da economia foram buscar uma representação independente das amarras do sindicalismo criado nos tempos de Getúlio Vargas", diz ele.
Os interesses específicos dos pólos mais fortes da indústria paulista são representados por entidades como a Anfavea (montadoras), a Eletros (setor eletroeletrônico) e a Abdib (indústria de base e infra-estrutura).
Enquanto isso, a Fiesp disputa os votos de sindicatos tão díspares como panificação e construção civil. "Quem decide os destinos da Fiesp são sindicatos com pesos econômicos diferentes e mesmo poder de voto", diz Aragão.
Legitimidade
O cientista político Walder de Góes, presidente do Ibep (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos), diz que a Fiesp tem "alguns problemas de legitimidade em meio à elite empresarial brasileira". Os avanços do setor exportador, nos últimos anos, não teria sido bem absorvido pela Fiesp, segundo ele.
A federação continua representando mais os setores que produzem para o mercado interno. "Muitos empresários do interior paulista, que têm como referência o mercado internacional, estão fora da Fiesp", diz ele.
Os produtores de sucos, por exemplo, embora filiados, têm pouca participação na entidade. "Temos uma agenda muito específica, que não é encampada pela Fiesp", diz Garcia, da Abecitrus.
Segundo ele, sob o comando de Horacio Lafer Piva houve mais abertura para os industriais do campo. "No passado, havia um certo preconceito com a agroindústria, que era tratada como interiorana e de segunda classe."
Mesmo assim, ele afirma que os industriais do setor não têm grande expectativa de mudança com as eleições em curso. "A Fiesp perdeu importância, pois representa setores do empresariado que dependem muito de políticas de governo. Nós falamos para o mundo, a internacionalização dos negócios ficou incompatível com a estrutura da Fiesp", diz.
Garcia lembra que, quando vai à sede da Fiesp, na avenida Paulista, no coração de São Paulo, tem de portar um selo na lapela e passar por sete pessoas até chegar ao presidente da entidade. "É muita burocracia, o país mudou e a Fiesp não."
A saída, na sua opinião, é a entidade reconhecer que não tem mais o papel de liderança única e encampar as bandeiras de outros setores industriais. Nesse sentido, ele diz que a federação deveria ter uma ação mais forte na abertura de novos mercados e lutar pela desburocratização e a modernização da infra-estrutura do país.
Para Aragão, "o grande desafio que se coloca para a Fiesp é ter uma ação política pró-investimento e que dê sustentação ao crescimento econômico". Essa ação deveria ser feita junto com outras entidades, rompendo os limites dos muros da Fiesp. "Ela não é mais liderança única e deve se aliar à Febraban, à Câmara Americana e às entidades setoriais como a Anfavea e ter atuação política nacional", afirmou.
Para exercer tal papel e ganhar legitimidade no conjunto do empresariado paulista, a Fiesp precisaria libertar-se das amarras do sindicalismo getulista -e isso não depende dela. "A filiação compulsória deveria acabar", diz Mário Ernesto Humberg, presidente do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais). Ele diz que a Fiesp ainda tem um papel importante no cenário político e que na gestão Piva destacou-se pela independência em relação ao governo.
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