Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
27/03/2005 - 20h28

Turbulência externa ameaça apetite por ações de ofertas públicas

Publicidade

SÉRGIO RIPARDO
da Folha Online

As recentes turbulências no mercado financeiro podem inibir o apetite dos investidores estrangeiros por novas ações de empresas brasileiras a serem oferecidas em ofertas públicas. No ano passado, quando a participação dos estrangeiros nessas operações bateu recorde, as companhias conseguiram vender seus papéis por preços elevados e captaram acima do esperado, aproveitando o excesso de demanda.

Nesta semana, a disposição dos estrangeiros em adquirir novas ações de companhias brasileiras será testada. Nesta segunda-feira, acaba o prazo para o investidor reservar os papéis da empresa de varejo eletrônico Submarino, que marcou sua estréia na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) para a próxima quinta-feira (30).

Com a venda de ações, o Submarino quer captar R$ 475 milhões. No fim do mês passado, a Renar Maçãs, uma das maiores exportadoras dessa fruta, foi a primeira empresa a estrear no pregão em 2005. Amanhã, o papel da empresa completa um mês de pregão e já acumula perda de quase 20%. A Renar divulgou recentemente uma previsão de quebra da safra brasileira de maçãs deste ano.

Outra que pretende lançar uma oferta pública de ações é a mineira Localiza Rent a Car, que já apresentou o pedido de registro de lançamento de suas ações na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), responsável pela fiscalização do mercado brasileiro de capitais. A Ultrapar Participações e Randon também aguardam o aval da CVM para promover uma venda de ações em oferta pública.

No final de semana, a Gol --que começou a ser listada em junho do ano passado-- anunciou que já pediu às autoridades no Brasil e nos EUA o sinal verde para uma nova oferta global de ações, envolvendo 20,4 milhões de papéis com opção de elevar esse número em 15%, no caso de excesso de demanda. A operação pode render até US$ 300 milhões, e um dos objetivos é levantar dinheiro para a compra de aviões.

Saldo abaixo de R$ 1 bi

O menor apetite dos estrangeiros por ações de empresas brasileiras já é sentido no pregão da Bovespa. Neste mês, eles reduziram suas compras e aceleraram as vendas. Há ainda um saldo positivo de quase R$ 910 milhões --dado referente às três primeiras semanas de março. Mas esse número já foi bem maior.

Para se ter uma idéia, em fevereiro, mesmo com o feriado do Carnaval, o saldo superou R$ 3,7 bilhões. Analistas consideram remota a possibilidade de o número cheio de março fechar perto da cifra de fevereiro.

"O mercado de ações permanece vulnerável às vendas de investidores estrangeiros. Se o humor realmente piorar, poderemos ver uma depreciação ainda maior no preço das ações", diz o economista Alexandre Póvoa, da Modal Asset.

Neste mês, o mercado financeiro enfrenta turbulências com as incertezas sobre a condução da política de juros nos EUA e as pressões inflacionárias decorrentes do petróleo mais caro.

Analistas especulam se uma disparada dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA vai provocar uma fuga de capitais em mercados emergentes, como o Brasil. O medo de uma saída brusca de recursos desses países serviu de pretexto neste mês para a queda da Bovespa e dos títulos brasileiros, bem como para a alta do dólar e do risco-país.

Pessimismo exagerado?

Mas há quem veja uma oportunidade de ganhos futuros no atual momento negativo dos preços. Mohamed El-Erian, o maior administrador mundial de fundos de mercados emergentes, faz parte do grupo dos que consideram a atual reação do mercado muito exagerada.

Ele disse recentemente que a maior queda nos bônus das dívidas dos países emergentes é uma boa oportunidade de compra. O gerente da Pimco (Pacific Investment Management) destacou principalmente a força do Brasil, "país cuja economia está crescendo ao ritmo mais acelerado da última década".

A reportagem da Folha Online detectou que alguns diretores de corretoras brasileiras evitam comentar os riscos das ofertas públicas em andamento diante do quadro menos favorável do mercado internacional. As corretoras têm interesse nessas ofertas, pois são autorizadas pelos bancos coordenadores a atrair clientes para essas operações.

O menor apetite por papéis oferecidos em ofertas públicas não significa necessariamente que essas operações vão fracassar. Uma demanda menor pode ter efeito na hora de definir o preço do papel a ser pago pelo investidor. Uma perspectiva promissora da empresa e do setor em que atua pode justificar a compra do papel. Um alívio nos juros no Brasil também tem potencial de melhorar o clima no mercado acionário.

Em 2004, a situação era mais favorável para a venda de novas ações. Seis empresas (Natura, Gol, CPFL, Grendene, Dasa e Porto Seguro) estrearam na Bolsa, quebrando um jejum de mais de dois anos. Outras que já eram de capital aberto (CCR, ALL, Braskem e Weg) venderam ações para captar recursos.

Essas operações seduziram os pequenos investidores e também atraíram os estrangeiros. O lançamento bem-sucedido de ações da Natura em maio do ano passado foi o estopim do "boom" de IPOs (ofertas públicas para abertura de capital).

Leia mais
  • Título do Brasil desaba e fundos sofrem fuga de R$ 1,2 bi
  • FMI elogia economia brasileira, mas pede controle da inflação

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre ofertas públicas de ações
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página