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14/02/2006
-
09h56
SIMONE HARNIK
da Folha de S.Paulo
Brincadeira? Integração? Ritual? Tradição? De acordo com especialistas, a palavra trote tem seu sinônimo mais aproximado ao do de "violência". Na vontade de mostrar para o mundo a aprovação no vestibular, com rosto pintado e cabeça raspada, fica difícil enxergar os limites --em resumo, o que é brincadeira para uns, é agressão para outros.
"O rito de passagem para a universidade é importante, mas não precisa ser baseado em humilhações ou sofrimentos físicos ou psíquicos", afirma Antônio Zuin, professor do Departamento de Educação da UFSCar. Formado em psicologia, Zuin estuda o trote e o analisa como uma prática "sadomasoquista".
"A história é a seguinte: se os calouros internalizarem as humilhações, podem se vingar no ano seguinte. Ao mesmo tempo que há impulso sádico, há identificação masoquista", explica.
Ele aponta para a banalização da violência, pois práticas como raspar o cabelo, pintar o corpo e pedir dinheiro são vistas como forma de prestígio por conquistar um objetivo.
Mesmo assim, a tradição faz com que, todos os anos, ingressantes no nível superior como Aline Fontanella, 18, ganhem os cruzamentos. "Não está nada pesado", afirma com relação ao tratamento dos veteranos do curso de psicologia do Mackenzie.
O professor da Esalq (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"), Antônio Almeida Júnior, que pesquisa o trote no país, evita até mesmo usar as palavras "veterano", "bixo", "calouro". Tudo para evitar preconceitos.
"O aluno de primeiro ano é sempre colocado na condição de inferior. Até as atividades "solidárias" são feitas de forma negativa." Para ele, em atividades ambientais, por exemplo, o estudante é relegado a funções como a de catar resíduos. "Além disso, se trote significa violência, não faz sentido pensar em trote solidário. Há violência solidária? E a atuação social não deveria ocorrer apenas em um dia", aponta.
Apesar de uma lei de 1999 (impulsionada pela morte de um calouro na Faculdade de Medicina da USP) proibir o trote e forçar as universidades a manterem maior fiscalização, a tradição continua firme. "Há um pacto de silêncio. Os estudantes não contam o que sofreram porque, se contarem, são punidos", diz Almeida Júnior.
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Prática é sinônimo de violência
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Brincadeira? Integração? Ritual? Tradição? De acordo com especialistas, a palavra trote tem seu sinônimo mais aproximado ao do de "violência". Na vontade de mostrar para o mundo a aprovação no vestibular, com rosto pintado e cabeça raspada, fica difícil enxergar os limites --em resumo, o que é brincadeira para uns, é agressão para outros.
"O rito de passagem para a universidade é importante, mas não precisa ser baseado em humilhações ou sofrimentos físicos ou psíquicos", afirma Antônio Zuin, professor do Departamento de Educação da UFSCar. Formado em psicologia, Zuin estuda o trote e o analisa como uma prática "sadomasoquista".
"A história é a seguinte: se os calouros internalizarem as humilhações, podem se vingar no ano seguinte. Ao mesmo tempo que há impulso sádico, há identificação masoquista", explica.
Ele aponta para a banalização da violência, pois práticas como raspar o cabelo, pintar o corpo e pedir dinheiro são vistas como forma de prestígio por conquistar um objetivo.
Mesmo assim, a tradição faz com que, todos os anos, ingressantes no nível superior como Aline Fontanella, 18, ganhem os cruzamentos. "Não está nada pesado", afirma com relação ao tratamento dos veteranos do curso de psicologia do Mackenzie.
O professor da Esalq (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"), Antônio Almeida Júnior, que pesquisa o trote no país, evita até mesmo usar as palavras "veterano", "bixo", "calouro". Tudo para evitar preconceitos.
"O aluno de primeiro ano é sempre colocado na condição de inferior. Até as atividades "solidárias" são feitas de forma negativa." Para ele, em atividades ambientais, por exemplo, o estudante é relegado a funções como a de catar resíduos. "Além disso, se trote significa violência, não faz sentido pensar em trote solidário. Há violência solidária? E a atuação social não deveria ocorrer apenas em um dia", aponta.
Apesar de uma lei de 1999 (impulsionada pela morte de um calouro na Faculdade de Medicina da USP) proibir o trote e forçar as universidades a manterem maior fiscalização, a tradição continua firme. "Há um pacto de silêncio. Os estudantes não contam o que sofreram porque, se contarem, são punidos", diz Almeida Júnior.
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