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16/06/2005
-
10h06
IARA BIDERMAN
MARCOS DÁVILA
da Folha de S. Paulo
Os problemas da secretária Daniele Santos, 24, começaram quando ela tinha 16 anos, com os inibidores de apetite. "Certa vez, perdi dez quilos em poucos meses, mas me sentia muito triste. Os remédios começaram a me fazer mal. Tinha problemas de memória e meu humor era péssimo. Não sentia nem vontade de me levantar de manhã. Vivia nervosa, tinha vontade de ficar sozinha, era muito agressiva."
Aos 20 anos, ela parou com as anfetaminas e procurou um endocrinologista, que lhe indicou um antidepressivo (fluoxetina) para cuidar da ansiedade. "Até hoje, não sei por que ele me indicou um antidepressivo para perder peso." Segundo ela, o remédio não trouxe tantos problemas quanto as anfetaminas, mas dava muita sonolência durante o dia e, à noite, ela não conseguia dormir. "Não sabia se a droga era para emagrecer, para acalmar, para tirar ansiedade ou se era para ficar feliz. Dizem que é a droga da felicidade, né?", pergunta Daniele, que parou com todos os remédios e está matriculada em uma academia.
Segundo o psiquiatra Sergio Klepacz, do Hospital Samaritano, a fluoxetina, chamada de "droga da felicidade", funciona como um filtro de "sensações". Por isso, também inibe o apetite e o desejo sexual.
Dependência
Quem procura drogas psicoativas deveria saber (ou ser informado), em primeiro lugar, que várias delas, comprovadamente, causam dependência, como as anfetaminas e os benzodiazepínicos. "É muito comum as pessoas não saberem disso e não associarem sintomas [de dependência] ao medicamento. A dificuldade é que elas não foram a uma boca de fumo, mas apenas compraram o que médico mandou. E na farmácia", diz a psicanalista Silvia Brasiliano.
A coisa pende ao descontrole total quando se sabe que, mesmo sem acompanhamento médico, é fácil obter remédios psicoativos. Desde 1990, quando se separou do marido, a artista plástica Helena [nome fictício], 67, toma um ansiolítico para dormir e um antidepressivo. Para obter as drogas, Helena tornou-se uma "paciente serial": vai a um, depois a outro e a outro médico do seu plano de saúde. Não se fixa em nenhum, mas obtém várias receitas.
Foi o jeito que arrumou, depois de enfrentar as dores da dependência. "No começo do ano, o clínico geral ao qual eu ia resolveu suspender o uso do calmante. Passei duas noites sem dormir. Fiquei parecendo um zumbi, os olhos arregalados", diz. Somente no terceiro dia ela adormeceu, depois de conseguir um comprimido "emprestado" com a irmã --prática nada incomum, segundo ela, que também já "emprestou" calmantes para o sobrinho.
Depois de uma semana, Helena voltou a se consultar com o médico e "exigiu os comprimidos de volta". "Estava nervosa, parecia aqueles drogados de filme", lembra.
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Drogas para controlar ansiedade causam dependência
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MARCOS DÁVILA
da Folha de S. Paulo
Os problemas da secretária Daniele Santos, 24, começaram quando ela tinha 16 anos, com os inibidores de apetite. "Certa vez, perdi dez quilos em poucos meses, mas me sentia muito triste. Os remédios começaram a me fazer mal. Tinha problemas de memória e meu humor era péssimo. Não sentia nem vontade de me levantar de manhã. Vivia nervosa, tinha vontade de ficar sozinha, era muito agressiva."
Aos 20 anos, ela parou com as anfetaminas e procurou um endocrinologista, que lhe indicou um antidepressivo (fluoxetina) para cuidar da ansiedade. "Até hoje, não sei por que ele me indicou um antidepressivo para perder peso." Segundo ela, o remédio não trouxe tantos problemas quanto as anfetaminas, mas dava muita sonolência durante o dia e, à noite, ela não conseguia dormir. "Não sabia se a droga era para emagrecer, para acalmar, para tirar ansiedade ou se era para ficar feliz. Dizem que é a droga da felicidade, né?", pergunta Daniele, que parou com todos os remédios e está matriculada em uma academia.
Segundo o psiquiatra Sergio Klepacz, do Hospital Samaritano, a fluoxetina, chamada de "droga da felicidade", funciona como um filtro de "sensações". Por isso, também inibe o apetite e o desejo sexual.
Dependência
Quem procura drogas psicoativas deveria saber (ou ser informado), em primeiro lugar, que várias delas, comprovadamente, causam dependência, como as anfetaminas e os benzodiazepínicos. "É muito comum as pessoas não saberem disso e não associarem sintomas [de dependência] ao medicamento. A dificuldade é que elas não foram a uma boca de fumo, mas apenas compraram o que médico mandou. E na farmácia", diz a psicanalista Silvia Brasiliano.
A coisa pende ao descontrole total quando se sabe que, mesmo sem acompanhamento médico, é fácil obter remédios psicoativos. Desde 1990, quando se separou do marido, a artista plástica Helena [nome fictício], 67, toma um ansiolítico para dormir e um antidepressivo. Para obter as drogas, Helena tornou-se uma "paciente serial": vai a um, depois a outro e a outro médico do seu plano de saúde. Não se fixa em nenhum, mas obtém várias receitas.
Foi o jeito que arrumou, depois de enfrentar as dores da dependência. "No começo do ano, o clínico geral ao qual eu ia resolveu suspender o uso do calmante. Passei duas noites sem dormir. Fiquei parecendo um zumbi, os olhos arregalados", diz. Somente no terceiro dia ela adormeceu, depois de conseguir um comprimido "emprestado" com a irmã --prática nada incomum, segundo ela, que também já "emprestou" calmantes para o sobrinho.
Depois de uma semana, Helena voltou a se consultar com o médico e "exigiu os comprimidos de volta". "Estava nervosa, parecia aqueles drogados de filme", lembra.
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