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16/06/2005
-
10h09
IARA BIDERMAN
MARCOS DÁVILA
da Folha de S. Paulo
Para o farmacêutico Reginaldo Teixeira Mendonça, "os pacientes usam vários artifícios para conseguir o remédio: simulam sintomas, pedem para aumentar a dose. A essa demanda corresponde uma passividade e uma acomodação de parte dos médicos".
Mendonça defendeu uma tese de mestrado sobre o uso de benzodiazepínicos em mulheres com 60 anos ou mais, no Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. "A população vai se apropriando dos termos médicos, adaptando o uso à sua realidade. Se o filho perdeu o emprego, e ela ficou triste, é só chamar a tristeza de depressão que ela se torna candidata a tomar o antidepressivo. Se o marido está violento e ela está preocupada com isso, é só se dizer ansiosa que ela se torna candidata a um ansiolítico", diz o especialista.
O perigo é que, de acordo com o farmacêutico, a droga tende a ficar durante mais tempo no organismo do paciente idoso, o que pode intensificar os efeitos colaterais.
Para agravar o problema, esse público em geral está próximo dos serviços de saúde, por causa de outras doenças que aparecem na velhice. "Obtida a droga, da qual se torna usuária, a paciente acaba receitando-a para a família, os vizinhos."
Segundo o psiquiatra André Malbergier, coordenador do Grupo de Álcool e Drogas do Hospital das Clínicas de São Paulo, "muitas vezes, o médico pede alguns exames e diz: "A senhora não tem nada, mas vou dar um calmante para que se sinta melhor'". Para ele, geralmente os médicos não explicam que o uso do tranqüilizante é de curto prazo e não fazem um acompanhamento de manutenção. "Como o efeito é rápido e dá um bem-estar, as pessoas não querem parar", diz.
Mas a busca do bem-estar por meio de calmantes e antidepressivos está longe de ser um problema somente de mulheres adultas. Basta uma rápida procura na internet para achar dezenas de comunidades virtuais com comentários elogiosos a substâncias psicoativas legais. Os membros desses grupos, geralmente com menos de 30 anos, trocam informações sobre dosagens, combinação de remédios com álcool, efeitos colaterais, maneiras de burlar os médicos e de conseguir os medicamentos sem receita. "Vivemos uma perigosa epidemia da busca de prazer ligado ao consumo de drogas", afirma Malbergier.
Estoque de remédios
O consultor ambiental Fernando Mammana Bastos Cruz, 33, toma há quatros anos um medicamento para dormir, prescrito por um parente que é clínico geral. "Comecei porque tenho um quadro de ansiedade."
As drogas específicas para insônia são os chamados hipnóticos. Alguns dos medicamentos são com benzodiazepínicos (agem também nos sintomas de ansiedade), outros são hipnóticos "puros", só para induzir o sono, explica Ademir Baptista Silva, neurologista da Unifesp. Aumentam a quantidade, mas não a qualidade do sono. "O medicamento faz com que o sono fique só na fase superficial. A pessoa dorme, mas não descansa --quando acorda, parece que está de ressaca", diz Silva.
No ano passado, Mammana começou a usar um segundo ansiolítico para acelerar a velocidade do primeiro, que já estava perdendo o efeito. "O remédio me faz tremer um pouco, mas, mesmo assim, é ótimo. Eu indico para quem precisa", afirma Mammana.
Segundo Ademir Baptista Silva, remédios para dormir são indicados em casos de insônia, mas não devem ser ingeridos por longos períodos, pois podem levar à dependência, e fazem com que o organismo desenvolva tolerância, exigindo doses cada vez mais altas.
Com tantas histórias de mau uso, é bom lembrar que as drogas psicoativas também trazem numerosos benefícios. "Medicamentos como os ansiolíticos foram uma grande descoberta. Você precisa dessas drogas em situações de crise, para se acalmar e poder lidar com o problema. O que não dá é para imaginar que a vida não tem problema e, quando surge algum, isso já vira angústia que precisa ser medicada", diz a psicanalista Silvia Brasiliano, do Instituto de Psiquiatria da USP.
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MARCOS DÁVILA
da Folha de S. Paulo
Para o farmacêutico Reginaldo Teixeira Mendonça, "os pacientes usam vários artifícios para conseguir o remédio: simulam sintomas, pedem para aumentar a dose. A essa demanda corresponde uma passividade e uma acomodação de parte dos médicos".
Mendonça defendeu uma tese de mestrado sobre o uso de benzodiazepínicos em mulheres com 60 anos ou mais, no Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. "A população vai se apropriando dos termos médicos, adaptando o uso à sua realidade. Se o filho perdeu o emprego, e ela ficou triste, é só chamar a tristeza de depressão que ela se torna candidata a tomar o antidepressivo. Se o marido está violento e ela está preocupada com isso, é só se dizer ansiosa que ela se torna candidata a um ansiolítico", diz o especialista.
O perigo é que, de acordo com o farmacêutico, a droga tende a ficar durante mais tempo no organismo do paciente idoso, o que pode intensificar os efeitos colaterais.
Para agravar o problema, esse público em geral está próximo dos serviços de saúde, por causa de outras doenças que aparecem na velhice. "Obtida a droga, da qual se torna usuária, a paciente acaba receitando-a para a família, os vizinhos."
Segundo o psiquiatra André Malbergier, coordenador do Grupo de Álcool e Drogas do Hospital das Clínicas de São Paulo, "muitas vezes, o médico pede alguns exames e diz: "A senhora não tem nada, mas vou dar um calmante para que se sinta melhor'". Para ele, geralmente os médicos não explicam que o uso do tranqüilizante é de curto prazo e não fazem um acompanhamento de manutenção. "Como o efeito é rápido e dá um bem-estar, as pessoas não querem parar", diz.
Mas a busca do bem-estar por meio de calmantes e antidepressivos está longe de ser um problema somente de mulheres adultas. Basta uma rápida procura na internet para achar dezenas de comunidades virtuais com comentários elogiosos a substâncias psicoativas legais. Os membros desses grupos, geralmente com menos de 30 anos, trocam informações sobre dosagens, combinação de remédios com álcool, efeitos colaterais, maneiras de burlar os médicos e de conseguir os medicamentos sem receita. "Vivemos uma perigosa epidemia da busca de prazer ligado ao consumo de drogas", afirma Malbergier.
Estoque de remédios
O consultor ambiental Fernando Mammana Bastos Cruz, 33, toma há quatros anos um medicamento para dormir, prescrito por um parente que é clínico geral. "Comecei porque tenho um quadro de ansiedade."
As drogas específicas para insônia são os chamados hipnóticos. Alguns dos medicamentos são com benzodiazepínicos (agem também nos sintomas de ansiedade), outros são hipnóticos "puros", só para induzir o sono, explica Ademir Baptista Silva, neurologista da Unifesp. Aumentam a quantidade, mas não a qualidade do sono. "O medicamento faz com que o sono fique só na fase superficial. A pessoa dorme, mas não descansa --quando acorda, parece que está de ressaca", diz Silva.
No ano passado, Mammana começou a usar um segundo ansiolítico para acelerar a velocidade do primeiro, que já estava perdendo o efeito. "O remédio me faz tremer um pouco, mas, mesmo assim, é ótimo. Eu indico para quem precisa", afirma Mammana.
Segundo Ademir Baptista Silva, remédios para dormir são indicados em casos de insônia, mas não devem ser ingeridos por longos períodos, pois podem levar à dependência, e fazem com que o organismo desenvolva tolerância, exigindo doses cada vez mais altas.
Com tantas histórias de mau uso, é bom lembrar que as drogas psicoativas também trazem numerosos benefícios. "Medicamentos como os ansiolíticos foram uma grande descoberta. Você precisa dessas drogas em situações de crise, para se acalmar e poder lidar com o problema. O que não dá é para imaginar que a vida não tem problema e, quando surge algum, isso já vira angústia que precisa ser medicada", diz a psicanalista Silvia Brasiliano, do Instituto de Psiquiatria da USP.
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