Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
30/06/2005 - 11h10

Excesso de peso não preocupa quem mantém boa saúde

Publicidade

FLÁVIA MANTOVANI
MARCOS DÁVILA
da Folha de S. Paulo

Em cartaz com a peça "Só as Gordas São Felizes", com texto e direção de Celso Cruz, o ator Guilherme Freitas, 47, tem horror a academias. Com 106 quilos e 1,77 m, diz ser um gordo "resolvidíssimo" --e saudável. Pelo menos é o que mostram todos os exames que faz regularmente.

"Me preocupo muito com minha saúde, mas não suporto as academias. Me sinto um idiota levantando pesos, correndo na esteira. É muito fechado, me dá claustrofobia", diz o ator, que prefere fazer caminhadas e dançar. Na peça, Guilherme interpreta uma gorda carinhosa e totalmente resolvida. "A peça questiona essa pressão atual de ser magrinho, de ter o corpo 'assim ou assado'."

Quem também não encara uma academia é a apresentadora de TV Silvia Poppovic, 50, que comanda um programa com seu nome na TV Cultura. "Nunca suportei academias. É um ambiente pouco estimulante para os gordos. Todo mundo fica examinando cada centímetro do corpo", diz ela, que prefere caminhar e jogar squash. "Tenho indicadores de saúde muito bons. Não preciso tomar remédio para nada disso [colesterol alto, hipertensão e diabetes]", afirma.

Para a apresentadora, o nível de exigência com o corpo aumentou de uns anos para cá. "Não quero fazer apologia de que ser gordo é bom, mas não deixo de me gostar. Muita gente se esconde com roupas largas. Essas pessoas acabam ficando maiores do que são, se enfeiam, perdem a sensualidade", diz ela, que, por anos, só se olhava no espelho da cabeça para cima. "Agora, me vejo de corpo inteiro."

Saudável

Apesar de o tema ainda gerar controvérsia, muitos médicos admitem que é possível ser gordo e saudável. De acordo com o endocrinologista Giuseppe Repetto, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade), trata-se de um consenso. "Conheço vários gordos muito mais saudáveis do que magros que são fumantes, estressados, hipertensos. Quem tem peso acima do normal não deve ser carimbado como um doente. O IMC virou um negócio meio cabalístico", diz.

Segundo o médico, o que os pesquisadores americanos fizeram foi "reavaliar as estatísticas e puxar conceitos que tinham sido esquecidos, demonstrando que o excesso de peso moderado não é o fim do mundo, como está sendo divulgado aos quatro ventos". Repetto lembra, no entanto, que é preciso usar o bom senso. "Para o indivíduo com comorbidades [complicações decorrentes da obesidade, como diabetes e hipertensão], a única solução é perder peso."

Para Waitzberg, é preciso ter cuidado com as estatísticas. "Elas se aplicam a uma população e não são transladáveis de imediato para um indivíduo. É possível encontrar pessoas consideradas magras ou gordas demais segundo o IMC que não têm problemas de saúde."

O endocrinologista Walmir Coutinho, vice-presidente da Federação Latino-Americana de Sociedades de Obesidade, confirma que há pessoas com sobrepeso que não têm problemas de saúde, mas afirma que elas são exceções. "Em alguns casos, quando não se deposita muita gordura no abdômen, a pessoa fica mais ou menos protegida contra hipertensão, diabetes e colesterol alto, que são as principais complicações da obesidade. Mas ela continua mais susceptível a alguns tipos de câncer e à artrose", alerta. Ele lembra que quem tem IMC a partir de 30 kg/m2 já é considerado doente pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Para Coutinho, é "inquestionável" que há uma epidemia de obesidade e que ela é "alarmante". Segundo os últimos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a prevalência da obesidade em adultos no Brasil é de 7% em homens e de 12,4% em mulheres. Se somarmos a esse índice as pessoas com sobrepeso, a prevalência é de quase 40%.

Márcio Mancini, endocrinologista do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da USP, diz que não só doenças cardíacas e diabetes têm ligação com o sobrepeso mas também problemas como artrose, apnéia e depressão. "Essa entidade do obeso saudável não existe. Ele desenvolverá doença ou pode ter doenças ou alterações que não foram identificadas nos exames e que vão aparecer no futuro", afirma.

Leia mais
  • Especialistas discutem o real prejuízo do excesso peso à saúde
  • Corpo "em forma de maçã" é mais suscetível a problemas de saúde

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre excesso de peso e obesidade

  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página